A ABMotéis – Associação Brasileira de Motéis está completando dez anos de atividades e tem muito a comemorar. Alguns anos atrás a motelaria não era uma atividade bem vista pelas autoridades. Então muitos motéis no Brasil eram construídos nos arredores das cidades ou nas marginais das rodovias. Mas essa situação foi mudando aos poucos graças aos investimentos cada vez mais constantes na modernização somados a falta de leitos para atender a demanda de hóspedes na Copa do Mundo de 2014, essa atividade se consolidou como um importante meio de hospitalidade.
Os grandes frequentadores de motéis são os casais de namorados, noivos e casados. Estes formam a grande maioria, cerca de 78% do público, sendo 15% composto pelo relacionamento de uma noite. Com isso, o setor vende uma experiência e conexão onde o sexo faz parte e consolida ainda mais o setor que registra mais de cinco mil motéis no Brasil.
E para se posicionarem de maneira ainda mais competitiva para atrair e fidelizar os clientes, muitos investimentos são realizados em modernização com a contratação de renomados arquitetos para fazerem os projetos. Hoje em dia é comum os motéis promoverem festivais gastronômicos e implantar cardápios variados assinados por renomados chefes. Com isso, o setor moteleiro conquista cada vez mais espaço, conforme pode ser visto nessa entrevista exclusiva com Leonardo Dib, Diretor da APAM – Associação Paulista de Motéis e da ABMotéis – Associação Brasileira de Motéis.
Revista Hotéis — A ABMotéis - Associação Brasileira de Motéis, entidade na qual você é um dos diretores, está completando dez anos de atividades. O que têm para comemorar?
Leonardo Dib — Estou muito feliz por esses dez anos de atividades da ABMotéis e com grandes conquistas para comemorar. Conseguimos fechar e simbolizar isso com a festa que aconteceu no dia 13 de setembro no espaço Blue Note, em São Paulo. Reunimos 250 pessoas de várias partes do Brasil, sendo a grande maioria de profissionais ligados ao setor moteleiro. Tivemos inclusive presença internacional do setor que vieram do Chile representando a associação de motéis deles para aprender um pouquinho com a gente e ver os eventos que fazemos. Essa festa realmente foi simbólica para comemorar um ciclo de dez anos que consolidou muito a evolução dos motéis aqui no Brasil.
R.H — Alguns anos atrás a motelaria não era uma atividade bem vista pelas autoridades. Então muitos motéis no Brasil eram construídos nos arredores das cidades ou nas marginais das rodovias. Como o setor evoluiu e que análise você faz hoje dos motéis?
L.D — Hoje o cenário é completamente diferente. O motel é uma atividade completamente regulamentada. Na cidade de São Paulo ela está ligada diretamente a Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo em que temos a necessidade de atender as exigências, como a da identificação de quem entra nos motéis. Essa é uma bandeira que eu particularmente defendo, assim como a ABMotéis defende para garantir mais segurança em nossas atividades. Temos negócios de alto investimento agregado, por isso é muito importante identificarmos nossos clientes, pois afinal de contas, vivemos hoje na era da informação e graças a Deus essa etapa a gente já tá evoluindo muito bem.
“Trabalhamos com ferramentas tecnológicas de CRM para surpreender e encantar cada vez mais nosso público”
R.H — Quem é o público alvo que frequenta a motelaria? Ele mudou no decorrer dos anos?
L.D — Existem os que chamamos de rotineiros, mas com toda certeza nosso principal público são os casais de relacionamento estável, e isso foi detectado numa pesquisa encomendada pelo Guia de Motéis, que apenas atestou aquilo que já imaginávamos. Os grandes frequentadores de motéis são o casal de namorados, noivos e casados. Estes formam a grande maioria, cerca de 78% do nosso público, sendo 15% composto pelo relacionamento de uma noite. E para conhecê-los ainda melhor, trabalhamos com ferramentas tecnológicas de CRM para surpreender e encantar cada vez mais nosso público.
R.H — Muitos motéis foram utilizados para suprir a demanda de hospedagem na Copa do Mundo de 2014. Esse foi um marco para consolidar o segmento moteleiro na hospitalidade? Como você analisa esse cenário?
L.D — Em 2014, o número de leitos da rede hoteleira tradicional não foi suficiente para atender à demanda turística e a hospedagem moteleira contribuiu para o atendimento dessa demanda. Mas vale lembrar que mesmo antes da Copa do Mundo de 2014 já vivíamos um grande movimento de retomada, graças aos investimentos no produto e conceito. Precisamos entender que quem manda no mercado é o consumidor. Ele é quem detém o poder de escolha e impulsionou esta revolução, que diria eu, está apenas começando.
R.H — De que forma aconteceu essa reinvenção do setor moteleiro?
L.D — Os empresários do setor se conscientizaram da importância de reformar seus empreendimentos para se posicionarem de maneira competitiva para atrair e fidelizar os clientes e muitos contrataram renomados arquitetos para fazerem os projetos. Com isso, os ambientes ganharam em conforto e design, infraestrutura e tecnologia passando a ter a preferência de clientes que não abrem mão disso e buscam experiências diferentes. O objetivo desses investimentos constantes é enfrentar o maior concorrente que a motelaria tem hoje, que é o sofá e a casa da própria pessoa. Por isso, que temos que instigar o desejo desse cliente para que ele saia de casa e faça um programa diferente.
R.H — Na hotelaria se trabalha muito o conceito de oferecer experiências inovadoras e encantamento aos hóspedes. No segmento moteleiro também se trabalha assim?
L.D — Com toda certeza, pois nós estamos incluídos no segmento de bem-estar e lazer. Quando alguém procura um motel, ele deseja vivenciar uma experiência e ao ir para lá, deseja sair melhor do que ele entrou e com a sensação de bem-estar. Sim sexo obviamente está envolvido nisso, pois sexo é vida. Não gostamos de dizer que vendemos sexo, vendemos uma experiência e conexão onde o sexo faz parte.
“Hoje em dia é comum os motéis promoverem festivais gastronômicos e implantar cardápios variados assinados por renomados chefes”
R.H — Nessa conexão do bem estar, os motéis também tiveram que reinventar sua gastronomia. Como ela está posicionada hoje para atrair os clientes?
L.D — Hoje em dia é comum os motéis promoverem festivais gastronômicos e implantar cardápios variados assinados por renomados chefes. Não podemos esquecer que o motel é um ambiente de entretenimento, onde a pessoa vai se hospedar e muitas vezes ela vai passar ali cerca de 12 horas naquele local. Por isso a gastronomia tem que ter um valor agregado e ser usada como uma estratégia de marketing, dando uma oportunidade para que o cliente possa vivenciar essa experiência. Aquele cliente que antes saía procurando um barzinho, um restaurante para jantar e terminava a noite num motel, hoje ele já se planeja. Faz uma reserva com bastante antecedência ou até para ir agora, mas ele já coloca o jantar dentro do programa.
R.H — Quantos motéis existem no País e como o segmento está posicionado hoje no Brasil?
L.D — De acordo com um estudo do IBGE e dados da ABMotéis, existem cerca de cinco mil motéis no Brasil. Eles são dos mais diversos e variados estilos, pois afinal de contas, o Brasil possui dimensões continentais, com diversas culturas dentro de um mesmo País. Nós percebemos que a motelaria está passando por uma ampla revolução e ela é benéfica.
R.H — Quais foram os impactos da pandemia da COVID-19 no segmento moteleiro e como está analisando a retomada?
L.D — Na pandemia da COVID-19 passamos por momentos de dores e necessidades, mas acredito esse impacto aconteceu em todas as atividades, pois temos diversas realidades dentro do próprio País. Com isso, teve cidades e estados onde o aperto foi maior e existem cidades que passaram menos dificuldade pela pandemia e com menos desafios. A maioria do público consumidor do motel vive o espaço urbano e não é de fato o turista ou viajante. Com isso nosso setor conseguiu navegar de forma um pouco mais tranquila do que nossos amigos hoteleiros e a retomada chegou pra ficar na motelaria. Tivemos perdas, mas a pandemia também potencializou e acelerou os movimentos que já vinham acontecendo.
R.H — Quais são esses movimentos que estavam em curso e foram acelerados?
L.D — A digitalização é um bom exemplo, ela chegou para ficar e fez os motéis evoluírem muito em termos de tecnologia. Hoje os motéis possibilitam que se faça uma reserva imediata ou programada através de aplicativos ou do próprio site do motel e chegue lá com todo conforto e segurança, além é claro da tecnologia instalada nos motéis que agregam ainda mais conforto aos clientes.
R.H — Você é Sócio do Lush, um dos mais premiados motéis do Brasil. O que ele tem de diferenciais?
L.D — O Lush fica na avenida do Estado, no bairro paulistano do Ipiranga. É uma marca fundada por mim e pelo meu sócio Felipe Martinez e que nós estamos trabalhando desde 2013 com objetivo de ressignificar o conceito de motel. Atentos a demanda e ao potencial do mercado, criamos a administradora LHG, rede responsável por unidades unidades e desenvolvendo dois novos projetos. Um fica na Marginal Tietê, que vai dar origem a um novo Lush, e a outra unidade está sendo construída no centro antigo de São Paulo. Este é um projeto conceito em parceria com uma casa de espetáculo artístico idealizada pelos empresários Facundo Guerra e Cairê Aoas.
R.H — Na hotelaria é muito comum ter redes atuantes no setor para ter ganhos de escala e padronização de serviços. Na motelaria brasileira isso também acontece?
L.D — Assim como na hotelaria, o segmento moteleiro no Brasil é predominante de empreendimentos independentes e familiares. Existe sim algumas redes familiares de motéis espalhadas pelo Brasil afora. E através da LHG, estamos entrando nesse movimento para ganhar escala possibilitando investimentos que justifiquem novas tecnologias e ajudar o mercado como um todo a se desenvolver.
R.H — Na feira Equipotel em anos anteriores a ABMotéis apresentava uma suíte decorada. Agora focam mais em conteúdos e palestras. Por que dessa mudança?
L.D — Sempre trazíamos uma suíte decorada dentro do contexto atual de conforto e design, para mostrar ao empresário o que é o produto, as tendências e o que é necessário fazer para modernizar e se manter competitivo. Hoje nós vencemos essa etapa e percebemos que não precisamos mais trazer a suíte, visto que os empresários se conscientizaram que ter uma suíte moderna e acolhedora já se tornou uma obrigação. Hoje nós focamos em palestras e conteúdos trazendo especialistas para falar sobre liderança, gestão, gastronomia e outros temas que o empresário moteleiro precisa empreender para que seu negócio tenha sucesso.
R.H — Como você avalia a participação o Motel Experience que implantaram na feira Equipotel 2022 que aconteceu nos dias 13 a 16 de setembro?
L.D — Foi um espaço com muito networking e conteúdo relevante. Tivemos uma palestra sobre liderança e disciplina com o técnico de voleibol Bernadinho que levou muitos visitantes ao espaço Motel Experience. Os parceiros que estiveram expondo nesse espaço fizeram muitos contatos e estamos muito felizes com a parceria junto a Equipotel. A empolgação será ainda maior no ano que vem, quando a Equipotel completa 60 anos de atividades, de casa nova no Expo Center Norte. Com isso, vamos planejar um projeto a altura para evidenciar ainda mais o segmento moteleiro.