Nos corredores movimentados dos hotéis, onde a hospitalidade e o serviço ao cliente são prioridades, as mulheres desempenham papéis cruciais. No entanto, por trás da cortina de luxo e conforto, persistem desafios significativos que as mulheres enfrentam no segmento hoteleiro. Apesar dos avanços na igualdade de gênero, desde a ocupação de cargos de liderança até a participação ativa em operações diárias, ainda existem obstáculos para serem superados como as questões de preconceitos, diferenças salariais e discriminação no ambiente de trabalho, incluindo estereótipos de gênero que podem limitar oportunidades de avanço na carreira; falta de representação em cargos de liderança; equilíbrio entre trabalho e vida pessoal; assédio sexual e ambiente de trabalho hostil; entre outras coisas.
Assim como em outros setores, as mulheres no mercado hoteleiro muitas vezes enfrentam dificuldades para conciliar suas responsabilidades profissionais com suas responsabilidades familiares e pessoais. Os horários irregulares, longas horas de trabalho e a natureza exigente do setor podem dificultar a busca por um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal. Infelizmente, mulheres também podem enfrentar assédio de colegas, superiores ou clientes, o que pode afetar negativamente sua segurança, bem-estar e desempenho no trabalho. Embora estejam ganhando terreno em cargos de liderança, a representação feminina em níveis mais altos de gerência e em cargos executivos ainda é relativamente baixa. Isso pode ser atribuído a barreiras estruturais, como políticas de promoção enviesadas ou falta de programas de desenvolvimento de liderança específicos para mulheres. Porém algumas mulheres vêm mostrando que é possível transpor esses obstáculos assumindo papéis de liderança e excelência em todas as áreas da indústria hoteleira, desafiando estereótipos de gênero e redefinindo normas há muito estabelecidas. Através de histórias inspiradoras e análises profundas, examinamos como a presença crescente das mulheres está moldando o futuro do setor hoteleiro e impulsionando uma cultura de inclusão e diversidade.
Contexto histórico e social
Para entender melhor a origem e os avanços das mulheres dentro do mercado de trabalho, buscamos informações com uma das referências em educação nas áreas de gastronomia, hotelaria e hospitalidade, o Centro Universitário Senac. De acordo com informações da instituição, historicamente há mais ingressantes mulheres do que homens no curso de hotelaria. Para Cláudia Martins Pantuffi, docente do curso Tecnologia em Hotelaria do Centro Universitário Senac Santo Amaro, talvez essa presença de mais mulheres do que homens reflita uma realidade da sociedade, que acaba por distinguir profissões masculinas e femininas. “Na minha opinião a sociedade está voltada a um imaginário que define o que a mulher pode e deve estudar desconsiderando a escolha profissional a partir de interesses e habilidades de cada indivíduo. O papel social e nosso imaginário fortaleceram esse contexto, distinguindo desde a formação até cargos para homens e para mulheres. Por exemplo, quando pensamos em governança, a quem atribuímos o cargo de gestão dessa equipe? A governanta ou ao governante? No senso comum à mulher, mas há homens neste cargo. Outro exemplo, a menina brinca de boneca então ela é treinada para ser mãe, o homem brinca que vai trabalhar então é treinado para ser o mantenedor da casa. Essa realidade transcende para o mercado de trabalho”, enfatiza. Sobre as questões de igualdade de oportunidades e equidade dentro do segmento de hospitalidade, Cláudia faz uma reflexão importante. “Essa é a questão do telhado de vidro, na qual há menores perspectivas de crescimento para as mulheres do que para os homens, pois estas crescem até determinado cargo vislumbrando perspectivas que não se concretizam por sua condição de ser mãe, esposa, etc. Não é uma exclusividade da hospitalidade, na verdade, é uma realidade do mercado de trabalho como um todo e pelo fato desse setor estar inserido nesse mercado, ele acaba reproduzindo essa realidade. O trabalho foi estruturado a partir de um sistema patriarcal com a inserção tardia da mulher num ambiente que já estava configurado e era predominantemente masculino”, explica.
Já o levantamento das turmas de gastronomia do Centro Universitário Senac - Campos do Jordão nos últimos dois anos, mostra que em média, 48% do alunado é composto por mulheres e 52% por homens. O número entre as turmas costuma ser bem parecido, e as funções ocupadas dentro do cronograma que organiza a escala de cozinha, é dividido de maneira igualitária. Bruna Prado, docente do curso Tecnologia em Gastronomia do Centro Universitário Senac - Campos do Jordão, explica que no mercado de trabalho, com base na experiência de gestão de equipes, esse cenário é diferente. “Hoje, notoriamente mulheres e homens assumem cargos dentro da brigada de cozinha, porém, na maioria das vezes, em posições diferentes”. Uma observação empírica nos mostra que as mulheres sempre foram as “donas” da cozinha em casa, mas quando falamos de alta gastronomia e cozinha profissional, os papéis se invertem. Bruna acredita que a primeira explicação se deve a questões culturais. “Estruturalmente falando, desde os primórdios, mulheres sempre foram associadas ao trabalho do lar e ao trato da família, e homens ligados ao papel de provedor, portanto, mais propensos a assumirem cargos de liderança. Além disso, a cozinha é considerada um ambiente de trabalho desafiador, onde se realizam trabalhos braçais intensos na maior parte do tempo, havendo exposição a perigos como objetos cortantes, fogo e estresse. Dessa forma, por serem consideradas o “sexo frágil” mulheres foram, de certa forma, rechaçadas dessa profissão”. Outro ponto destacado por ela é que o termo alta cozinha designa uma gastronomia elaborada a partir de ingredientes nobres, requinte na apresentação e diversidade de técnica e que na maior parte do tempo é regida por homens. “Historicamente as definições literárias que conhecemos sobre a maneira de cozinhar, técnicas, ordem de serviço, brigada de cozinha, nesse primeiro cenário, de forma profissional, foram sempre definidas por profissionais do gênero masculino. Ao traçar uma linha do tempo na história da cozinha, é possível perceber que desde Carême (1784-1833) primeiro grande sistematizador da cozinha francesa moderna até Ferran Adrià (1962) um dos mais célebres cozinheiros da cozinha espanhola contemporânea, estamos diante de uma longa dinastia do trabalho masculino”.
Bruna Prado: “É muito comum perceber que mulheres e homens com a mesma capacitação, por vezes disputam o mesmo cargo, e que no final será sempre destinado a um homem” (Foto - Dilvulgação)Claúdia Pantuffi acrescenta: “Fazendo um comentário pautado na observação cotidiana e no senso comum, realmente podemos identificar que existem muitos homens em cargos de liderança, considerando a Gerência geral, mas há sim mulheres nesse cargo. Pode-se observar ainda que há muitas mulheres ocupando cargos de chefia. Quanto às condições de crescimento para as mulheres, acredito que tecnicamente há as mesmas condições para alcançar os cargos de liderança, no entanto, estamos em pleno curso para quebrar esse paradigma dos homens na liderança, e que reforço, se estende para todos os segmentos”. Bruna Prado acredita que seja necessária a mudança na cultura das empresas. “É muito comum perceber que mulheres e homens com a mesma capacitação, por vezes disputam o mesmo cargo, e que no final será sempre destinado a um homem. Precisa haver um engajamento por parte das empresas nessa causa, com políticas que incentivem um número de vagas equivalentes para homens e mulheres”.
Mercado de trabalho
De acordo com estudo “Panorama Mulheres 2023”, realizado pelo Talenses Group em parceria com o Insper - Instituto de Ensino e Pesquisa, a presença de mulheres em cargos de presidência no Brasil alcançou 17% das organizações, de 2019 a 2022. Além disso, as mulheres passaram de 13% para 17% dos CEOs do país. No Fórum Econômico Mundial de 2022, que apresentou a 16ª edição do Global Gender Gap Index, considerado o mais abrangente estudo sobre desigualdade de gênero, foi divulgado que, no ritmo atual de progresso, levaremos 132 anos para que haja paridade completa entre homens e mulheres, e que as mulheres ocupam apenas um terço dos cargos de liderança em empresas no mundo.
Apesar dos avanços no mercado de trabalho e algumas empresas investindo em políticas de igualdade e equidade, ainda falta representatividade, principalmente em entidades do setor. Flávia Lorenzetti, CEO da rede B&B HOTELS Brasil, tece uma crítica em relação a divergência entre teoria e a prática. “Muito se fala sobre a igualdade e equidade, o assunto é constantemente abordado de forma a conscientizar as pessoas. Porém, infelizmente, pouco se materializa. É necessário que as empresas tenham processos, políticas bem definidas e principalmente, partam para a implantação. Diversos temas como maternidade, desenvolvimento, trabalhar a confiança e as oportunidades. O espaço surge na temática, porém na prática é diferente. Até mesmo dentro das associações e fóruns do setor, não é um assunto chave, as lideranças femininas seguem sendo minoria evidenciando o espaço menor. Não há intenção genuína de dar espaço e voz para as poucas lideranças femininas do setor!”
Algumas redes hoteleiras tem buscado “compensar” essa desigualdade. Rosana Okamoto, Gerente geral do JW Marriott São Paulo, percebe um avanço significativo em termos de representatividade. “Este progresso não apenas reforça o papel das mulheres na indústria hoteleira, mas também destaca a importância de uma cultura inclusiva”, diz. No JW Marriott São Paulo, a equipe de funcionários é composta por 96 mulheres, das quais 18 ocupam cargos de liderança, sendo três diretoras, oito gerentes e sete supervisoras “Esse é um retrato do nosso esforço contínuo para fortalecer a presença feminina em posições estratégicas, demonstrando que valorizamos a diversidade em todos os níveis hierárquicos”, ressalta Rosana. No Jurema Águas Quentes, localizado na cidade de Iretama (PR), a equipe conta com 60% de mulheres no quadro, das quais nove ocupam posições estratégicas. “O que antes parecia ser exclusivo do domínio masculino, no mundo corporativo, observa-se atualmente significativas mudanças em sua estrutura produtiva. O crescente número de mulheres ocupando cargos de liderança reflete uma valorização e respeito cada vez maiores”, afirma Kelly Silva, Gerente de Operações do complexo paranaense. De acordo com ela, a mulher contemporânea precisa buscar cada vez mais desenvolver suas habilidades, demonstrando destemor e segurança, além de adotar posturas persuasivas, assertivas, entusiasmadas e inspiradoras. “Essas qualidades são fundamentais para enfrentar os desafios e prosperar em ambientes profissionais cada vez mais inclusivos e dinâmicos. Também é necessário que os empreendimentos hoteleiros deem mais oportunidades e espaços para as mulheres se desenvolverem e crescerem em suas carreiras”, completa.
No Hotel Radisson Vila Olímpia, em São Paulo, as mulheres são a maioria, com aproximadamente 40 colaboradoras atuando em diversos setores. “Além disso, 90% da nossa liderança é feminina, cenário bem diferente do que vivi há 20 anos quando iniciei minha carreira na hotelaria”, destaca Mayra Vieira, Gerente geral do hotel paulistano. “Eu consigo identificar progresso na promoção da igualdade de gênero em vários setores, incluindo a hotelaria. Porém, ainda existem desafios para nós mulheres no mercado de trabalho. Muitas ainda enfrentam barreiras e obstáculos que afetam sua progressão na carreira. Mas, gostaria de enfatizar que fico feliz pela movimentação do nosso mercado de hospitalidade com este tema. Muitas redes hoteleiras estão reconhecendo a importância da diversidade e implementando medidas para criar ambientes mais inclusivos e equitativos, como é o caso da Atlantica”, comenta Mayra.
O Renaissance São Paulo Hotel tem 50% dos cargos de diretoria executiva ocupados por mulheres. Vanessa Martins, Gerente geral do hotel, conta que a Rede Marriott possui programas relacionados a promover mulheres a cargos de liderança há mais de 20 anos, e que são consolidados e continuam a ser promovidos. A Marriott estabeleceu como meta alcançar a equidade de gênero mundialmente em 2025, e terminou 2022 com 47% de todas as posições executivas globais ocupadas por mulheres. “No Brasil, em oito hotéis gerenciados por nós, temos cinco mulheres ocupando o cargo mais alto, de Gerentes geral. Usando o Renaissance São Paulo Hotel como exemplo, as mulheres são 50% dos cargos de liderança da propriedade”, diz. Para Rosana Okamoto, a escassez em cargos de gerência no setor hoteleiro persiste devido aos vários fatores que já foram citados. “A superação desses obstáculos requer a implementação de medidas que promovam a igualdade de oportunidades e incentivem o avanço profissional das mulheres”.
Mayra Viera concorda que o número menor de representantes mulheres em cargos de gerência e direção no segmento hoteleiro nacional pode ser atribuída a uma combinação de fatores, que são complexos e multifacetados. “Alguns motivos podem incluir o viés de gênero e estereótipos culturais, assim como barreiras na progressão profissional ligadas à falta de plano de carreira das empresas, cultura organizacional, desigualdade salarial e, por último, mas não menos importante, o equilíbrio entre trabalho e família”, diz. Vanessa Martins consegue enxergar uma mudança geracional que proporciona uma melhor concepção da mulher no mercado de trabalho, principalmente do setor hoteleiro. “Sim, vejo uma enorme mudança nos últimos 10, 20 anos e um aumento incrível da presença feminina em posições de liderança. A realidade atualmente é outra, isso acontece porque temos cada vez mais programas sérios e longevos das empresas, assim como a Marriott, em busca de equidade de gênero e diversidade em seus quadros”, afirma.
Quebrando barreiras – Uma corrida de obstáculos
Infelizmente, as mulheres ainda precisam superar mais adversidades que os homens para alcançarem cargos de comando em vários setores do mercado de trabalho no Brasil. Para Rosana Okamoto, isso ainda acontece também no segmento hoteleiro. “As mulheres, frequentemente, enfrentam obstáculos adicionais na busca por cargos de comando, devido a preconceitos de gênero e expectativas sociais estabelecidas. Reconhecer essas disparidades é o primeiro passo crucial, e a Marriott é muito comprometida em eliminar essas barreiras, promovendo um ambiente inclusivo e igualitário que reconheça e valorize o potencial de todos”, diz.
Mayra Vieira foi Gerente geral com apenas 25 anos de idade, e desde o começo, ela afirma que precisou superar algumas barreiras a mais. “Historicamente, as mulheres enfrentam desafios e obstáculos para serem reconhecidas e avançarem em suas carreiras, principalmente quando falamos de um contexto de 20 anos atrás, como é o meu caso. Alguns desafios que enfrentei foram com certeza preconceito de gênero, estereótipo da mulher nova que tem “pouca idade” para o cargo, pontos esses que refletiram na falta de representação em cargos de liderança e desigualdade salarial”, ela lembra.
Leandra Gallo começou a trabalhar muito jovem e, ao longo da carreira, teve a sorte de ter diversas grandes gestoras e mentoras como exemplo. “Posso afirmar que isso, com certeza, foi inspirador e capacitador, assim como tornou minha caminhada melhor e mais forte. Nunca achei que para mim era mais desafiador do que para meus colegas homens com quem convivi, pois nunca me senti lesada ou em desvantagem por ser mulher. No entanto, sei que minha experiência pessoal pode não representar as experiências de muitas mulheres no mercado de trabalho”, analisa.
Vanessa Martins, Gerente geral do Renaissance São Paulo Hotel começou a carreira no segmento de alimentos e bebidas, e a maioria dos profissionais desta área na época eram homens. Portanto, desde muito jovem ela se acostumou a estar em minoria. “Desde o início percebi que haviam obstáculos adicionais a serem superados pelas mulheres, mas se tiver que citar um, eu falaria da falta de representatividade. Precisamos ver mulheres em diversos níveis, incluindo aqueles de liderança, para criar nossas referências, fontes de inspiração e para acreditar que também podemos chegar lá. Mais tarde na minha carreira, quando vivi a maternidade, aprendi também o quão importante é apoiarmos e falarmos sobre maternidade nas empresas. Ela não pode e não deve ser um obstáculo ao crescimento da mulher que desejar ser mãe e ao mesmo tempo seguir avançando em sua carreira”, enfatiza Vanessa.
Flávia Lorenzetti destaca as jornadas quase triplas que as mulheres enfrentam, somado a isso, a própria cultura machista enraizada. “Muitas mulheres já tem essa dificuldade em casa, é uma realidade a batalha dentro de casa mesmo, e conseguir ter a percepção de seu valor. Poderia passar horas falando sobre tantos desafios que enfrento diariamente. A sensação sempre é de uma prova dupla. Tem que ter muita força e resiliência, além de um profundo trabalho de autoconhecimento. Parece que somos convidadas a todo momento para um teste!”. O viés patriarcal e conservador também dificulta a diversidade dentro da indústria de hospitalidade. “Esse assunto pode soar polêmico, mas na sua essência, neste nosso mercado pequeno, somente olhar para os lados, quantas lideranças femininas, quantas associações tem mulheres em posições estratégicas, políticas. São poucas as lideranças que vieram de uma construção de carreira, passando por todas etapas até atingir o posto mais alto. Porque sim, sentindo isso na pele, é quase uma corrida de obstáculos”, argumenta Flávia.
E ainda complementa: “Quando a mulher chega no ambiente de trabalho, ela encontra um ambiente tradicional, que pouco incentiva a jornada de crescimento, seja com espaço, seja com ferramentas. Que não olha com carinho para as escalas de trabalho que a permitam conciliar com a agenda dos filhos na escola, que não oferece um apoio emocional, visando a saúde mental e uma oportunidade de fortalecer parte desse ego. As jornadas tão extensas não facilitam o tempo livre para a especialização, os cursos são caros, além da dificuldade de conciliar família e estudos. E quase sempre o desafio de “se provar”. A confiança abalada desta mulher torna o próximo passo mais distante. Então ela para em uma posição mais “confortável” de entregar o que lhe é pedido, mas sem coragem de dar o passo a mais”.
Na opinião de Leandra Gallo, Gerante geral do Marriott São Paulo Airport, muitos setores, incluindo o hoteleiro, têm uma cultura organizacional tradicionalmente liderada por homens, o que deve resultar em um viés de gênero em algumas decisões de contratação, promoção e desenvolvimento de carreira, dificultando o avanço das mulheres para cargos de liderança. “Além disso, muitas mulheres frequentemente enfrentam dificuldades estruturais, como a falta de redes de apoio e desigualdade salarial, o que pode também prejudicar o crescimento e oportunidades na carreira. Acredito também que a falta de representação de mulheres em cargos de liderança pode criar um ciclo de falta de modelos de liderança feminina, o que pode desencorajar outras mulheres a buscar posições de gerência e direção, como se fosse reforçada a ideia de que não é possível uma mulher atingir determinado nível de liderança. Para mudarmos esse contexto na prática, acho fundamental rompermos com os estereótipos de gênero e promover uma cultura organizacional que valorize a diversidade e a igualdade de oportunidades para todos os colaboradores”, ela enfatiza.
Cláudia Martins Pantuffi, docente do Senac, acredita que uma mudança já vem ocorrendo na sociedade, porém ela é lenta, talvez não esteja acompanhando a velocidade que a era da tecnologia impõe, frustrando as expectativas. “Há ainda um mito de que homens e mulheres se distinguem pela capacidade. A mudança está em processo pois as mulheres que estão conquistando seu espaço no mercado de trabalho e desenvolvendo carreiras gerenciais, também estão criando seus filhos e acredito que com equidade de direitos e deveres, saindo da reprodução de uma sociedade patriarcal. Vivemos uma mudança que demanda tempo, porque envolve uma ressignificação do papel dos indivíduos na sociedade e que na verdade não se limita a sexo/gênero, há outros elementos envolvidos e ainda há uma questão histórica por trás disso tudo”. Cláudia finaliza com uma reflexão: “Se a mulher tivesse ingressado no mercado de trabalho junto com o homem, será que nós teríamos esta realidade configurada? Será que, se em nossa sociedade os homens participassem um pouco mais das jornadas extra de trabalho da mulher, nós teríamos essa mesma configuração de mercado de trabalho?”
Preconceito e aceitação
Para além desse questionamento e dentro dessa análise do mercado de trabalho, uma outra questão que surge é sobre a aceitação das profissionais mulheres em cargos de comando. Mayra Viera consegue analisar o contexto através de um prisma otimista. “Sim, a aceitação da presença de mulheres em cargos de comando varia amplamente. Em geral, identifico um aumento na conscientização sobre a importância da diversidade de gênero e na promoção da igualdade de oportunidades, o que pode contribuir para uma atitude mais favorável em relação à presença de mulheres em cargos de liderança. Muitos líderes, independentemente do gênero, reconhecem que a diversidade de perspectivas e experiências é valiosa para o sucesso de uma organização. Além disso, uma abordagem inclusiva pode levar a uma maior inovação, desempenho e satisfação no local de trabalho. A tendência global é de progresso na aceitação da liderança feminina, mas ainda há trabalho a ser feito para superar os desafios persistentes para garantir a equidade e, assim, haver de fato oportunidades para todos, independentemente do gênero”, afirma. Leandra Gallo também compartilha desse otimismo. “Acredito que com o passar do tempo muitas mudanças acontecem no âmbito da sociedade e, com isso, a mentalidade das pessoas também muda. Além disso, a diversidade, que dentre toda sua abrangência também engloba as mulheres, é algo em pauta hoje na nossa sociedade e nosso dia a dia. Acredito também que haja uma expectativa e cobrança da sociedade para oportunidades igualitárias entre homens e mulheres”, diz.
Para Kelly Silva, do Jurema Águas Quentes, houve um avanço significativo na parceria e aceitação de compartilhar os mesmos espaços na liderança. “A gestão feminina, hoje, não precisa mais provar sua eficiência e qualidade no comando. O progresso evidente destaca a crescente compreensão de que a competência e habilidade de liderança independem do gênero”, diz.
Mas essa crescente aceitação e conquista de espaço não exime as mulheres de situações desagradáveis, como casos de preconceito e assédio. Flávia relembra das diversas vezes que enfrentou preconceito e assédio. “Experienciei situações delicadas, os questionamentos se o novo passo era por mérito ou por motivos de relacionamentos extracurriculares. Imagine mulher, jovem e cheia de atitude. Minha cabeça, fortalecida pelo esporte e por muito autoconhecimento, me permitiu e me permite, até hoje, seguir em frente”. Mayra Vieira conta que, infelizmente, já sofreu preconceito na sua trajetória de 19 anos na área hoteleira. A desigualdade salarial foi um deles. “Já soube de um processo seletivo que participei há alguns anos em que houve disparidade salarial em comparação aos outros colegas do sexo masculino, sendo que a vaga era para a mesma função, mesmo cargo”, revela.
Com 23 anos dedicados ao segmento hoteleiro, Leandra Gallo revela que já sofreu diversas vezes com casos de preconceito, principalmente o machismo, que é um produto da nossa sociedade e muitas vezes está enraizado em nossas crenças e comportamentos. “Por esta razão, acho muito difícil que alguma mulher não enfrente ou já não tenha enfrentado situações de machismo. Não vejo como algo do segmento hoteleiro e sim da sociedade toda. Eu, particularmente, demorei a notar justamente devido a alguns comportamentos terem sido normalizados. Hoje em dia, vejo que estamos num movimento de combate e reeducação do nosso olhar, onde discutimos abertamente e revisamos essas atitudes, o que vejo de forma bastante positiva e gratificante para construirmos ambientes mais equilibrados para todos”, afirma.
Ela também lembra a questão dos profissionais negros no setor da hotelaria, que tem que superar grandes obstáculos impostos por anos de preconceito e falta de informação da população. “A representação de profissionais negros no segmento hoteleiro no Brasil é complexa e reflete os mesmos desafios que enfrentamos como sociedade. Vejo que ainda temos muitas oportunidades nesse campo, pois da mesma forma como temos a maior parte de nossa população sendo negra, temos a minoria dos cargos de gestão ocupados por esta parcela da população. Isso demonstra, assim como vemos em outros setores, questões problemáticas históricas de estrutura de nossa sociedade. É importante que as empresas e gestores tenham um compromisso honesto com a promoção da igualdade de oportunidades e mentoria para que a mudança real nesse cenário ocorra”, ressalta. “Toda mulher já sofreu alguma situação relacionada ao machismo, que está inserido na nossa sociedade e cultura. Mas a sociedade e as empresas seguem avançando. Sou otimista, e acredito que representatividade impede que muitas destas situações ocorram, ao construir equipes mais diversas, convidamos muitos pontos de vista à mesa, e temos maiores chances de evitar que situações de preconceito ou machismo se perpetuem”, diz Vanessa Martins.
Vanessa também aborda a questão do “jeito de liderar” dos homens e das mulheres. Para ela, essa diferenciação é um erro. “Falar da maneira de gerenciar ou de liderar de uma mulher ou de um homem, desta maneira genérica, pode facilmente resvalar em estereótipos que acabam perpetuando os preconceitos. Aquele estereótipo de gênero de que homens “lideram” e mulheres “cuidam”. Mulheres também são assertivas, estratégicas, e não deveriam encontrar resistência ao demonstrar estas características tidas como “masculinas”. Agora, o ambiente de trabalho ideal é cada vez mais colaborativo. No mundo conectado e dinâmico de hoje, nenhum líder possui todas as respostas, as equipes estão espalhadas em lugares diferentes, o mundo e o ambiente de trabalho são muito melhores se exaltarmos a colaboração, e esta é uma caraterística que conhecemos como feminina, mas que atualmente todos líderes precisam demonstrar”, afirma.
Bruna Prado também fala sobre a realidade, muitas vezes hostil, dentro das cozinhas profissionais. “A liderança na cozinha está comumente atrelada ao papel masculino, exceto raros casos. Essa afirmação tem tanta veemência que é impossível não escutar dezenas de histórias de mulheres, profissionais de cozinha, que de alguma forma aprenderam isso da pior maneira possível. Há ainda, relatos de que mesmo sob o comando de uma cozinha, contendo qualificações mais que suficientes para exercer tal função, apresentando um exímio trabalho, muitas mulheres são questionadas quanto a sua competência frente a qualquer diversidade corriqueira de trabalho. A cozinha sempre foi considerada um trabalho árduo que demanda grande esforço físico e psicológico. É muito importante lembrar que muitas vezes as relações humanas se tornam ainda mais hostis dentro desse ambiente, abrindo margem para machismo, abusos e desrespeitos, práticas comumente encontradas”.
Incentivo e capacitação
Para mudar esse cenário é preciso investir em capacitação e oferecer oportunidades de desenvolvimento, aperfeiçoamento e crescimento. “Quanto ao mercado de trabalho, posso afirmar que há espaço para todos os formados e formandos no segmento de hotelaria e hospitalidade, pois estes profissionais e estudantes são absorvidos pelo mercado, tanto em hotéis como em restaurantes, navios, shoppings, enfim, organizações voltadas à área de serviços. Trata-se de um mercado amplo com muitas oportunidades. Há um crescimento nessas contratações, além disso há discussões e debates sobre o apagão de talentos na hospitalidade, gerando dessa forma uma carência de profissionais. Cabe destacar que o profissional com a formação em hospitalidade é diferenciado para o ambiente organizacional, esses profissionais desenvolvem muitas competências socioemocionais que são buscadas atualmente pelas organizações. Ser hospitaleiro e competente não está relacionado ao gênero, mas à inteligência emocional e valorização das relações humanas, entre outros aspectos. Quanto a área de A&B, especificamente nas cozinhas, historicamente temos a presença de mais homens no curso de gastronomia do Senac São Paulo, atualmente essa realidade está se equilibrando, mas ainda com turmas com a predominância de homens. Acredito que essa realidade foi desenhada pelo estereótipo do chef de cozinha, ter que gerir um ambiente de pressão quanto à qualidade e tempo. A mídia como filmes e novelas acabou por enfatizar esse estereótipo”, reforça Cláudia.
Bruna ressalta o papel das novas gerações para a melhoria no ambiente de trabalho. “O papel da nova vanguarda de cozinheiros é fundamental para que esse cenário seja modificado, tolerar ou condizer com qualquer tipo de desrespeito, cria um clima organizacional hostil e instável. Por parte das empresas, é fundamental cultivar práticas saudáveis de trabalho (atividades que sirvam como escape em meio a rotina de trabalho) além de investir em capacitações que não sejam apenas relacionadas a técnicas de cozinha especificamente, como gestão de pessoas, cultura de paz, resolução de conflitos, comunicação não violenta, a fim de proporcionar uma boa cultura organizacional”, conclui.
As redes hoteleiras estão procurando oferecer uma preparação adequada para as atuais e futuras colaboradoras mulheres. Isso também faz parte da política de igualdade de gênero no mercado de trabalho. No JW Marriott São Paulo, por exemplo, há uma abordagem inclusiva nos processos de desenvolvimento profissional. Todos os colaboradores, independentemente do gênero, são considerados candidatos qualificados para posições de liderança. “Estamos comprometidos em oferecer suporte ao crescimento profissional, proporcionando a todos os colaboradores as ferramentas e recursos necessários para alcançarem esse objetivo”, completa Okamoto. O Marriott São Paulo Airport possui um programa chamado Deville Diversa. Ele é voltado para todos os públicos, inclusive as mulheres, é mais amplo e atende a todos. Trata-se de uma iniciativa estratégica que busca promover um ambiente inclusivo e acolhedor a todas as pessoas, respeitando todas as diferenças. “Nessa iniciativa a ideia é ir além da simples tolerância e promover a diversidade, equidade e inclusão em todos os aspectos da nossa operação. Para isso, promovemos treinamentos e sensibilizações para toda equipe, assim como existem hoje políticas de contratação que incentivam e valorizam a diversidade”, conta a Gerente geral Leandra Gallo.
Já o Grupo Atlantica possui o Aja, programa com uma série de iniciativas ESG, que objetivam atuar em causas urgentes e relevantes para a humanidade e ao Meio Ambiente. E, quando a temática é diversidade, equidade e inclusão, eles atuam através do projeto ‘Vamos Tod@s’ que tem um papel educacional e orientador. “Através dele observamos que a Atlantica já é bem diversa e supera alguns indicadores sociodemográficos do IBGE, em diferentes recortes importantes. Nosso censo aponta que atualmente temos 61% de colaboradoras integrando nosso time, assim como os cargos gerenciais têm predominância de mulheres que representam 55% do time. Complementarmente, investimos em treinamento e formação dos nossos profissionais através da UniAtlantica, com trilhas de capacitação para diferentes cargos e que estão disponíveis para toda equipe, independente da função que exercem”, diz Flavia Buiati, Vice-Presidente Financeira e Jurídica da Atlantica Hospitality International e embaixadora do Aja.
No Jurema Águas Quentes, através de mentorias comportamentais, eles buscam fortalecer as habilidades interpessoais e de liderança, proporcionando uma base sólida para o sucesso de cada indivíduo. Os treinamentos de alta performance são projetados para elevar o desempenho da equipe, equipando-os com ferramentas avançadas e estratégias eficazes para superar desafios e alcançar metas ambiciosas. “Reconhecer talentos é um dos nossos princípios fundamentais. Valorizamos a singularidade de cada membro da nossa equipe, investindo na identificação e desenvolvimento de suas habilidades individuais. Acreditamos que um ambiente diversificado e inovador é essencial para o sucesso coletivo. Estamos comprometidos em oferecer um ambiente de trabalho que inspire crescimento, aprendizado constante e excelência”, afirma Kelly Silva.
O Renaissance São Paulo Hotel utiliza os programas da Marriott International como o “Women Lets Talk Forum”, que busca apoiar o projeto de desenvolvimento de liderança feminina na companhia. Também participam do ARG - Associate Resource Group, para Mulheres e possuem um comitê de diversidade, equidade e inclusão local, onde um dos braços discute ações para promover a equidade de gênero.
O futuro das mulheres na hotelaria tem tudo para ser histórico, com mais profissionais se capacitando e conseguindo superar as adversidades impostas pela sociedade, em busca da equidade de gênero e equiparação salarial. E tudo isso passa por uma preparação acadêmica adequada. “As escolas e universidades ainda têm espaço para melhorias, garantindo que as mulheres estejam equipadas não apenas com conhecimento técnico, mas também com as habilidades necessárias para prosperar em ambientes profissionais desafiadores”, finaliza Rosana Okamoto. “No Brasil há boas instituições tanto públicas quanto privadas na área de turismo e hotelaria. Além disso, há bons cursos complementares, assim como pós e especializações para continuidade desses estudos que são sempre importantes em quaisquer áreas de atuação”, conclui Leandra Gallo.
Representatividade – modelos para serem seguidos
Mesmo com todas adversidades e obstáculos superados pelas mulheres para alcançar postos de comando e cargos de liderança, suas histórias são inspiradoras e servem de norte para guiar “novos talentos”. “A minha trajetória poderia render um livro”, ressalta Flávia Lorenzetti. “Enfrentei diversos desafios, por questões de idade e gênero. E enfrento até hoje. Comecei minha carreira na hotelaria como garçonete e de lá construí cada passo, até a cadeira de CEO. Foram conquistas árduas, porém sempre me posicionei de forma a preencher os espaços vazios, jamais em posição de fragilidade. Passei por provas de fogo desde a faculdade até aqui. Entendo claramente que se talvez eu tivesse optado por construir uma família e ter filhos mais cedo e não dispusesse de flexibilidade e uma vontade gigantesca de fazer acontecer, quase uma teimosia, não estaria por aqui hoje. E por isso reforço, é uma sociedade toda que precisa se atentar para este fato. Sofri preconceitos oriundos de mulheres também. Onde deveria ter tido apoio, tinha repulsa e competição. Faltam empatia e gentilezas, com as diferenças, com as questões hormonais, com as jornadas e com a forma que a nossa sociedade se construiu. A posição frágil de servidora, reprodutora acaba sofrendo inversão e muitas mulheres hoje são as provedoras de seus lares, as bases fortes das famílias. Mesmo assim seguem sendo desafiadas no seu potencial. A mulher tem a força para gerar a vida, e deste pensamento eu poderia trazer uma infinidade de assuntos e nos faltaria tempo para discorrer sobre um fato tão real”, conclui.
Mônica Paixão, CEO do Le Canton, resort na região serrano do Rio de Janeiro, que é referência em gestão, apresentando sempre novidades, inovações e entregando resultados positivos regularmente, tem uma trajetória de sucesso. “Quando iniciei a minha carreira no Le Meridien Copacabana, os cargos de diretores eram todos ocupados por homens. Mas, ao decorrer dos anos, essa cultura foi sendo modificada. Entretanto, fui a primeira Gerente geral mulher a assumir esse cargo no Rio de Janeiro no ano 2000”. Mônica começou sua carreira como recepcionista no antigo Le Meridien Copacabana e em três meses foi promovida à chefe de turno, cargo que permaneceu por 15 anos. Em 2000, foi convidada para ser Gerente comercial do Ipanema Plaza, recém-construído na época, e em quatro meses depois foi nomeada Gerente geral. “Fui a primeira mulher na função de Gerente geral de um hotel no Rio de Janeiro. Encerrei a minha trajetória no Ipanema Plaza no ano de 2011 e iniciei minha primeira experiência como Diretora geral de um hotel de luxo, no hotel Santa Tereza McGallery, onde permaneci por quatro anos. Em 2015 assumi pela primeira vez a direção de um resort, o Le Canton, onde atualmente já ocupo o cargo de CEO e estou no comando ao longo desses últimos oito anos”.
A executiva lidera a equipe Le Canton que ao longo desses anos construiu um time de sucesso onde todos são focados para resultados e com a busca constante pela excelência. “O meu conselho é que primeiramente exista um espírito de equipe sempre, uma vez que o sucesso nunca é atingido sozinho. Precisa gostar e saber lidar com pessoas, na hotelaria você lida constantemente com fornecedores, colaboradores e clientes. É importante que haja muito comprometimento, pois o setor hoteleiro exige muita disponibilidade de tempo, já que se trata de uma atividade que funciona o ano inteiro e 24 horas por dia. E por fim, amar o que faz. A hotelaria é realmente apaixonante!”, finaliza.
Quando falamos sobre lideranças femininas no mercado hoteleiro o nome de Chieko Aoki é certamente uma das maiores referências. Fundadora e CEO do grupo Blue Tree Hotels, uma das mais importantes redes hoteleiras do País, a Sra Aoki, forma como carinhosamente é chamada, ficou conhecida pela alcunha de “dama da hotelaria” no Brasil. Ela começou a carreira em um ambiente de trabalho dominado por homens. “Ao iniciar a minha carreira, notei que não havia muitas mulheres na hotelaria, especialmente nos cargos de liderança, exceto em áreas específicas como governança e vendas. Durante o período em que atuei como vice-chairman da Westin, contávamos com excelentes Gerentes gerais, mas nenhuma mulher. Foi aí que a empresa percebeu o fato e, rapidamente, promoveu uma mulher para o cargo. Não era discriminação; eram decisões automáticas, em que “mulher líder” não era pauta importante. Desde então, o número de mulheres ocupando cargos de liderança em todas as atividades apresentou crescimento significativo, mas ainda há muito a evoluir”, explica a executiva.
Chieko Aoki revela que mesmo cercado por homens, felizmente, nunca sentiu preconceito ou foi questionada sobre sua competência. “Os homens, que eram os únicos Gerentes gerais, me ajudaram ensinando, apoiando e me acolhendo com carinho e respeito. No início, ficava constrangida por ser a única mulher, mas, como a gente se acostuma com tudo quando tem uma missão, fui assimilando. Fazia parte do trabalho superar dificuldades”. Aoki chama a atenção para o fato de que atualmente tem crescido a presença de mulheres que ocupam cargos importantes no mercado de trabalho brasileiro. Porém, ressalta que o mundo corporativo é muito competitivo e nas grandes corporações, principalmente fora do Turismo, ainda são poucas as mulheres. “Fazer carreira é difícil e a ascensão não é regra matemática. São muitos fatores humanos envolvidos. Hoje, faço parte do grupo Mulheres do Brasil, que trabalha para vermos mais mulheres nos cargos de CEOs e nos conselhos das empresas. Atuamos de várias formas para ter cotas nos negócios, como, por exemplo, preparando e indicando nomes. Estamos dispostas a acelerar a sua entrada em posições de liderança nacional”, conta. E acrescenta: “Devemos nos conscientizar de nossa força porque somos muito capazes e o mundo precisa de mais características femininas nas organizações para uma sociedade harmônica e produtiva. Vale ressaltar que o mercado está mais tecnológico, e ter pessoas “mais humanas”, ditas “femininas”, com características como empatia, generosidade, afetividade e carinho, torna-se cada vez mais importante e abre novos mercados”.
Na Blue Tree há o programa chamado “Plus One”, que é fazer algo além do esperado. É um processo que incentiva as pessoas a pensarem diferente em cada evento ou atividade. A fundadora da rede destaca que aprender é importante, aprender e reaprender, todos os dias, com todo mundo. Além disso, é preciso se reinventar continuamente, sendo melhor a cada dia.
Para finalizar Chieko Aoki deixa conselhos e dicas para as mulheres que almejam ocupar lugares de destaque e cargos de liderança. “Trabalhar muito, superar desafios, arregaçar as mangas! Ter frustrações faz parte da vida, não apenas no Turismo. Mas, no nosso mercado, existe cada vez mais união, conexão dos setores e oportunidades para as mulheres. O mundo está mudando para uma sociedade em que as mulheres têm papel essencial para a conquista da harmonia, alegria, maior criatividade e união entre os setores e as pessoas. As mulheres são muito importantes e serão cada vez mais reconhecidas pela influência positiva que exercem no mundo! Estejam preparadas para assumir papéis e compromissos cada vez mais relevantes no País”.