Entrevista com Flávia Lorenzetti, CEO da B&B HOTELS Brasil

Escrito em 01/09/2023
Edgar J. Oliveira


A rede francesa B&B HOTELS surgiu há 30 anos voltada a atender o segmento budget, os famosos cama confortável e um bom café da manhã. E diante das oportunidades apresentadas no Brasil, já se posiciona de maneira bem competitiva e com o objetivo de se tornar um player relevante no mercado, trabalhando com inovação e praticidade.

A B&B HOTELS Brasil possui como um dos diferenciais ser uma das únicas redes no País a trabalhar com contratos de arrendamento. Para continuar crescendo diante das oportunidades, a rede contratou em setembro do ano passado Flávia Lorenzetti como CEO no Brasil. A executiva possui 20 anos de trabalho em diversas operações, gestão e expansão, e com isso os resultados positivos já aparecem.

Recentemente, a B&B HOTELS Brasil apresentou um aumento de receita histórica no país. O plano de crescimento mira os mercados de São Paulo e Rio de Janeiro, mas está aberto a outras oportunidades. A rede trabalha para ter em breve 100 unidades no Brasil. Confira entrevista exclusiva com Flávia Lorenzetti, CEO da B&B HOTELS Brasil.

Revista Hotéis - O que a motivou a aceitar o desafio de ser a CEO da B&B HOTELS no Brasil?

Flávia Lorenzetti - Sou uma pessoa movida a desafios. Enxergo a B&B HOTELS Brasil como uma marca global bem relevante, que aqui ainda tinha seu potencial pouco explorado, seguia tímidos e duvidosos passos, inclusive em termos de Brand Awareness. O segmento de valor agregado também é pouco explorado no País e com uma demanda considerável, afinal o que temos entre budget e midscale? Enxerguei uma fatia grande de mercado à disposição e um potencial de expansão. Uma marca com certa flexibilidade, que me permite agregar valor ao produto e contribuir ativamente com inovação e experiência. Uma oportunidade de pivotar o negócio e incrementar a participação do Brasil no resultado financeiro global.

“O segmento de valor agregado também é pouco explorado no País e com uma demanda considerável, afinal o que temos entre budget e midscale?”

R.H - Qual bagagem profissional trouxe para esse cargo? Quais foram as primeiras medidas implantadas em sua gestão e como se encontram os resultados?

F.L - São mais de 20 anos trilhados em diversas operações, gestão e expansão. Destaque para as experiências de formar times vencedores, estruturação, tropicalização de multinacionais e bons resultados com turn around, somados à minha característica enérgica de intraempreendedora.

Após a primeira análise dos dados da companhia, minhas primeiras medidas foram (stick with the basics) trabalhar o básico bem feito para entender o potencial de posicionamento da marca e a geração de caixa. Somados a isso, uma virada completa na cultura da empresa e um olhar muito voltado para as pessoas, trazendo uma comunicação clara e uniforme para todos os níveis da rede, bem como colocando os colaboradores à frente da marca. Enaltecendo o papel de cada um, a representatividade, a contribuição que dão ao negócio e como esse negócio passa a contribuir com eles e suas famílias. Juntos, conquistamos o primeiro lugar no índice de satisfação das equipes no ranking global.

Dessa forma, no primeiro trimestre, tivemos um aumento expressivo de 55% no nosso faturamento, sendo o melhor primeiro trimestre da história do grupo no Brasil, inclusive em termos de ocupação em todos os hotéis. O padrão de qualidade na plataforma TrustYou acompanhou esse desenvolvimento e bateu os 88 pontos de satisfação, versus 76 quando assumi em setembro do ano passado.

“Dessa forma, no primeiro trimestre, tivemos um aumento expressivo de 55% no nosso faturamento, sendo o melhor primeiro trimestre da história do grupo no Brasil, inclusive em termos de ocupação em todos os hotéis”

R.H - Como a B&B HOTELS Brasil está posicionada no mundo e no Brasil? O que diferencia a administração da Rede?

F.L - A B&B HOTELS, há 30 anos, iniciou como uma rede voltada a atender o segmento Budget, os famosos cama confortável e um bom café da manhã. Acompanhando as tendências e com os M&As, fusões e aquisições, foram agregadas outras expertises. Hoje, o posicionamento tem muita aderência ao mercado local. Provendo o que a cultura da região entende como um bom produto. Na Itália, por exemplo, podemos encontrar unidades quatro estrelas, respirando a arquitetura e o bom gosto Italiano, sem perder a essência do básico, prático, simples e muito bem feito. No Brasil, estamos posicionando o produto como valor agregado e tudo aquilo que o hóspede precisa para sua estadia, quando não se trata de um escape de luxo ou um final de semana em um resort. Cada produto está se adequando, trazendo um pouco do ambiente local para dentro do hotel. E quando digo ambiente local, me refiro a produtos da região, artes e experiências que os moradores, a história do prédio ou a vizinhança cultivam, e não o que já é batido para os turistas. Uma personalidade única. A administração é diferenciada, por ser uma das únicas redes no país a trabalhar com contratos de arrendamento. Somado a isso, o fato de contribuirmos ativamente com o FF&E das propriedades, compartilhando e minimizando riscos aos proprietários.

“E quando digo ambiente local, me refiro a produtos da região, artes e experiências que os moradores, a história do prédio ou a vizinhança cultivam, e não o que já é batido para os turistas”

R.H - A B&B HOTELS Brasil apresentou recentemente um aumento de receita histórica no Brasil. O que contribuiu para isso e qual é a expectativa de performance neste ano?

F.L - Os primeiros passos dados na companhia foram em boa parte responsáveis por isso: o básico bem feito, a mudança cultural e aumento da qualidade. Hoje, dedicamos tempo a entender nossos hóspedes e nossas praças nos mínimos detalhes. Cruzamos os dados e trabalhamos focados no cliente, sempre pensando em como agregar valor. A expectativa de performance é positiva, os hotéis vêm respondendo bem às estratégias adotadas. Acompanhando essas perspectivas, esperamos fechar um ano com um bom resultado no Top Line e um GOP de 45%.

 

R.H - Como se encontra o plano de expansão e as estratégias de crescimento da B&B HOTELS no Brasil?

F.L - Recentemente, recebemos uma visita da matriz que confirmou a expansão no Brasil. Neste momento, estamos mirando nos mercados de São Paulo e Rio de Janeiro. Porém sempre abertos a oportunidades que tenham aderência com o conceito e suas aspirações. A rede global acredita no trabalho desenvolvido por aqui. Quando eu falo em 100 unidades, eles rapidamente me puxam para dobrar ou triplicar o número. Ou seja, a credibilidade está em alta e os projetos que fizerem sentido serão todos analisados. 

R.H - Na sua opinião, quais são os maiores gargalos e desafios para se desenvolver hotéis no Brasil?

F.L - Os maiores desafios estão sempre relacionados à nossa economia, ao momento de mercado, ao preço da construção e aos novos players concorrentes (short term). O mercado de investimentos se mostra bastante machucado com a hotelaria. Boa parte dos inventários hoteleiros estão sem renovação e perdendo valor. A emergência da pandemia consumiu muitos dos fundos de reposição e acabaram fazendo os ativos sofrerem.

Além da questão financeira, temos fluxos operacionais clamando por uma tecnologia de ponta a ponta acessível e uma mão de obra escassa, espremendo cada vez mais o operador, que precisa entregar qualidade e produtividade.

R.H - Quais são as ações de ESG que a B&B HOTELS Brasil está comprometida no Brasil e quais os resultados têm sido alcançados?

F.L - ESG é um tema bem relevante na companhia. Somos a única rede hoteleira certificada pela SOCOTEC, certificado que integra os requisitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Essa certificação é reconhecida pelo Conselho Mundial de Turismo Sustentável e em breve seremos auditados por aqui. Esse trabalho inclui práticas ESG e tem sido um tema constante em nossos corredores. Estamos trabalhando nas frentes de plástico zero nas unidades, controle da emissão de carbono (primeiro controlar e depois compensar o que for indispensável), reciclagem, inclusão e trabalhos sociais. Todas essas ações estão divulgadas em nossas mídias oficiais.

“ESG é um tema bem relevante na companhia. Somos a única rede hoteleira certificada pela SOCOTEC, certificado que integra os requisitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas”

R.H - A escassez de mão de obra é um dos maiores desafios da hotelaria atualmente e pode impactar os serviços prestados. Como a B&B HOTELS Brasil lida com essa questão?

F.L - Acredito que temos que fazer a nossa parte. Desde que assumi a B&B HOTELS Brasil, faço um trabalho corpo a corpo com o RH. Oferecemos benefícios e condições melhores, bem como capacitação e oportunidades reais. Hoje, dentro da empresa, temos um clube do livro, onde participo ativamente, temos calls bimestrais de alinhamento, onde participam todos os funcionários da empresa. Fazemos nosso trabalho de desenvolvimento pessoal e melhores condições de trabalho, sempre tentando encontrar um meio termo. Temos pessoas que chegaram sem saber usar o computador e hoje já manuseiam e recebem aulas de Inglês. É uma construção contínua e que exige bastante dedicação.

 

R.H - A conversão de hotéis será a estratégia de crescimento da B&B HOTELS Brasil nos próximos anos no Brasil ou analisa outras oportunidades como franquias e ou mesmo entrar no segmento short-term-rental?

F.L - Por hora, vamos seguir nas conversões. Porém, sou adepta à inovação e sempre que vejo uma oportunidade, desde que ela esteja relacionada ao core business, por que não?

R.H - Que análise você faz da B&B HOTELS no Brasil nos próximos anos?

F.L - Nos próximos anos, a B&B HOTELS Brasil deve expandir e, através de sua maior presença e entrega, tornar-se um player relevante no mercado, com inovação e praticidade.