Flávia Araújo Badaró pretende democratizar e expandir a ABIH/MG

Escrito em 01/11/2024
Edgar J. Oliveira


Ao assumir esse cargo, Flávia vai conciliar com o de Diretora da San Diego Hotéis,

que atualmente conta com oito hotéis em funcionamento

Em abril desse ano a empresária Flávia Araújo Badaró assumiu a presidência da ABIH/MG com o desafio de democratizar a entidade que atualmente possui 120 associados. Mas tendo em vista que existe mais de cinco mil meios de hospedagem no estado, a entidade espera crescer muito em cima das oportunidades e consolidar ainda mais sua representatividade.

Ao assumir esse cargo, Flávia vai conciliar com o de Diretora da San Diego Hotéis, que atualmente conta com oito hotéis em funcionamento e tem mais três para serem inaugurados até julho de 2025. A Rede está também expandindo as operações para o Sul do Brasil, no estado de Santa Catarina, onde já tem um contrato assinado para administração de um hotel no litoral Norte, e mais dois em negociação.

Ter pessoas eficientes trabalhando e saber delegar, é o segredo que Flávia destaca para conseguir compatibilizar dois cargos tão importantes. Confira nessa entrevista exclusiva a seguir, os planos de crescimento da ABIH/MG e da San Diego Hotéis e como Flávia analisa as oportunidades apresentadas pelo turismo em Minas Gerais.

Revista Hotéis - O que te levou em abril desse ano a assumir o desafio de ser Presidente da ABIH/MG? Comente!!!

Flávia Araújo Badaró - Devido a renúncia do Presidente Pablo Ramos, por problemas de saúde, eu como 1ª Vice Presidente assumi o cargo. Apesar de não estar preparada, aceitei o desafio. A entidade estava com as finanças em dia, o que já é excelente. E o Pablo, que infelizmente faleceu recentemente, deixou vários projetos em andamento que estamos dando prosseguimento.

R.H - Quantos associados tem atualmente a ABIH/MG e quais são os planos para aumentar essa representatividade? Que estratégias vai adotar?

F.A.B - Atualmente temos 120 associados e o que pretendo, é ´democratizar ´ a ABIH- MG. Fizemos uma pesquisa com base no número de estabelecimentos que possuem o CNAE - Classificação Nacional das Atividades Econômicas relacionado a hospedagem e vimos que temos mais de cinco mil meios de hospedagem no estado. Temos um mercado grande para explorar. Uma entidade com uma representatividade maior significa mais credibilidade perante todo o mercado e melhor relacionamento com as instituições governamentais. Nossa estratégia para conseguir um maior número de associados é tornar a ABIH - MG mais ´atrativa aos olhos´ dos hoteleiros e fornecedores: continuar prestando, com excelência e agilidade, assessorias jurídica, econômica e contábil de modo a atender demandas de forma coletiva e também pontual; estamos estruturando o ´Clube de Descontos ABIH - MG ´, que através de convênios e parceiras com empresas atuantes não só no mercado hoteleiro mas também nas áreas da Saúde (planos de saúde e convênio com farmácias) e Educação (cursos e capacitação). Estas empresas fornecerão descontos atrativos aos nossos associados; pretendemos promover Road Shows, Rodada de Negócios e Congressos dentro e fora do estado para divulgação e promoção de nossos associados; e a criação de regionais, elegendo que cada região do estado, tenha um presidente, para que assim, tenhamos mais abrangência e capilaridade.

R.H - Quais os principais pleitos da ABIH/MG? São inerentes a pleitos da ABIH Nacional?

F.A.B - A ABIH - MG representa no âmbito estadual os pleitos genuínos da ABIH Nacional em defesa dos interesses da hotelaria. Os temas de notória relevância atualmente em discussão são a reforma tributária, o acompanhamento do montante referente a renúncia fiscal estabelecida em lei do “novo” PERSE, a legalização e regulamentação de cassinos e seus percebidos impactos para os hotéis, bem como a isonomia tributária e sua respectiva normatização das plataformas de hospedagens. Esses temas são de extrema relevância para nossos associados em Minas Gerais e para além, todos mais de 5.000 meios de hospedagem do nosso estado. Nossa atividade turística cresce em índices acima da média nacional o que coloca Minas como um dos centros mais relevantes da discussão destes e de outros aspectos relativos à hotelaria brasileira.

“As atividades turísticas de Minas Gerais crescem bem acima da média nacional o que favorece o setor hoteleiro”

R.H - Assumir um cargo desse é um trabalho voluntário que exige muita dedicação. Como está conseguindo compatibilizar a presidência da ABIH/MG com seu cargo de Diretora da San Diego Hotéis?

F.A.B - Confesso que fiquei muito reticente em assumir o cargo, pois sou muito exigente comigo mesma e sempre busco a excelência no que faço. Como acontece em todas as entidades de um modo geral, as demandas e atribuições sempre recorrem ao presidente, o que não é diferente na ABIH-MG. Sempre procuro administrar meu tempo de forma a atender a empresa e a entidade, acredito que ter pessoas eficientes trabalhando comigo e saber delegar, é o segredo de conseguir compatibilizar dois cargos tão importantes.

R.H - Como a San Diego Hotéis está posicionada no mercado? Como enxerga as oportunidades do mercado e quais os planos de crescimento da Rede nos próximos anos?

F.A.B - Somos uma rede hoteleira regional atualmente com oito hotéis em funcionamento e temos mais três para serem inaugurados até julho de 2025. Vemos com muito otimismo o desenvolvimento do mercado hoteleiro em Minas Gerais, não só no setor corporativo como também no de lazer. Estamos com algumas perspectivas de hotéis em algumas regiões do interior de Minas, como o Norte, Jequitinhonha, Triângulo Mineiro, Sul e Sudoeste do estado. Estamos expandindo nossas operações para o Sul do Brasil, no estado de Santa Catarina, onde já temos um contrato assinado para administração de um hotel no litoral Norte, e mais dois em negociação.

R.H - Na sua opinião, quais os principais gargalos de empreender no setor hoteleiro no Brasil?

F.A.B - Empreender no setor hoteleiro no Brasil apresenta diversos desafios e entre os principais estão: burocracia e regulação. O Brasil é conhecido por um ambiente regulatório complexo, com muitas leis e exigências para abrir e operar negócios, especialmente no setor de hospitalidade. Processos como licenças, alvarás, regulamentações ambientais e sanitárias podem atrasar o início das operações e aumentar custos. Os gargalos que elenco são:

Carga Tributária Elevada: O setor hoteleiro enfrenta uma carga tributária considerável, que pode incluir impostos municipais, estaduais e federais, além de encargos trabalhistas elevados. Isso impacta diretamente a competitividade e a margem de lucro das empresas;

Infraestrutura Deficiente: Em diversas regiões, principalmente em áreas mais distantes dos grandes centros urbanos, a infraestrutura - transporte, saneamento, energia, internet - é insuficiente, o que dificulta a atratividade para os turistas e a operação eficiente de hotéis;

Concorrência Informal: O crescimento de plataformas de hospedagem como Airbnb e outros serviços informais cria uma concorrência desleal, pois muitos desses operadores não seguem as mesmas regulações e tributações que hotéis e pousadas formais;

Capacitação e Retenção de Mão de Obra: O setor hoteleiro requer mão de obra qualificada, especialmente em áreas como atendimento, gastronomia e gestão. No entanto, a escassez de profissionais capacitados e a alta rotatividade podem ser obstáculos, exigindo investimento contínuo em treinamento;

Instabilidade Econômica: A economia brasileira tem sido marcada por ciclos de instabilidade, com inflação e flutuações cambiais, o que afeta o poder de compra dos turistas e o planejamento financeiro dos hotéis;

Sazonalidade: Muitas regiões turísticas no Brasil sofrem com a sazonalidade, com picos de demanda em determinadas épocas do ano e baixa ocupação em outras. Isso dificulta o fluxo de caixa constante e exige estratégias de gestão eficazes;

Custo de Financiamento: O crédito no Brasil ainda é caro e pode ser difícil de obter, principalmente para pequenos e médios empresários. Os altos juros e a dificuldade de acesso a financiamentos podem dificultar a expansão ou modernização de hotéis. Esses gargalos exigem que nós, empreendedores sejamos bastante estratégicos, buscando inovação, eficiência operacional e parcerias que ajudem a superar esses desafios.

R.H - Belo Horizonte foi uma das cidades que mais sofreram com a especulação imobiliária para atender a demanda da Copa do Mundo de 2014. Como você analisa esse cenário. O pior já passou?

F.A.B - A prefeitura de Belo Horizonte exagerou ao permitir um coeficiente elevado para a construção de hotéis e isso gerou uma grande oferta de um número de empreendimentos hoteleiros acima da demanda. Alguns não foram construídos, outros se transformaram em residenciais e com esta queda de oferta o mercado acabou se equilibrando. Acredito que o pior já passou e a oferta de hospedagem tem atendido bem a demanda.

R.H - Como se encontra a taxa de ocupação e a diária média da hotelaria de Minas Gerais? O mercado já se recuperou plenamente da pandemia?

F.A.B - A taxa de ocupação média de 2024 até o mês de agosto está 62,50%. Acredito que até o final do ano alcancemos ou até ultrapassemos o número de 2019 que foi 66,33%. Em contrapartida, a nossa diária média que hoje está R$ 362,96, em 2019 era R$223,28, ou seja, houve um incremento na ordem de 60%. Podemos dizer então que sim, o mercado já se recuperou completamente da pandemia.

R.H - Como enxerga o potencial que Minas Gerais possui para alavancar ainda mais o turismo? Em que regiões e áreas se pode crescer?

F.A.B - Devido à sua diversidade geográfica, cultural e histórica, Minas ainda tem um potencial enorme! Seguem algumas regiões e áreas que têm grande capacidade de crescimento e que podem atrair mais visitantes:

Turismo Religioso e Cidades Históricas: Minas Gerais tem uma forte tradição religiosa, com festas e procissões que podem atrair milhares de turistas, é necessário criarmos eventos temáticos e roteiros dedicados ao turismo religioso. Congonhas, Nova Trento, Santuário de Santa Rita de Cássia, que é o maior do mundo, situado na cidade de Cássia e o circuito de Igrejas Barrocas em Ouro Preto e Mariana são alguns exemplos de regiões neste segmento. Nas nossas cidades coloniais, Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, São João del-Rei, ainda há espaço para expansão através da promoção de roteiros temáticos e turismo educacional.

Turismo Verde - Rural, de Aventura e Ecológico: A vasta zona rural de Minas Gerais, especialmente no Sul e na região Central, tem grande potencial. Serra da Mantiqueira, Serra do Espinhaço e a Zona da Mata são exemplos. Temos que promover a criação de circuitos de turismo rural, como visitas a fazendas históricas, experiências de colheitas e turismo de aventura (trilhas, escaladas e ciclismo).

Com uma riqueza natural imensa, diversas reservas e parques naturais como Parque Nacional da Serra do Cipó, Serra da Canastra (onde fica a nascente do Rio São Francisco), Parque do Rio Doce , Parque Estadual do Ibitipoca, Parque Municipal Cachoeira do Salto em Extrema, Parque Nacional Cavernas do Peruaçu em Januária, explorar a criação de mais trilhas, passeios ecológicos, observação de fauna e flora, além de roteiros de aventura são ações que devem ser feitas para promover estes equipamentos.

Turismo Gastronômico: A culinária mineira é uma das mais apreciadas no Brasil. Minas pode capitalizar ainda mais nesse ponto. Os roteiros de degustação de queijos, vinhos e cachaças, as experiências culinárias em fazendas e pequenos produtores em regiões como Sul de Minas (café, queijos e vinhos) e Zona da Mata (doces típicos e cachaças), já estão acontecendo, mas ainda a um custo muito alto para os turistas.

Turismo Cultural: Com tradições como o artesanato e a música, Minas tem uma rica identidade cultural, alguns exemplos são o Vale do Jequitinhonha (artesanato), Circuito das Grutas (grutas de Maquiné e Rei do Mato), além de Belo Horizonte com o Circuito Cultural Praça da Liberdade e o Clube da Esquina. Temos que fomentar a realização de festivais culturais e exposições.

Turismo de Negócios: Belo Horizonte já é um polo de turismo de negócios, com centros de convenções e infraestrutura de serviços. Além de BH, cidades como Uberlândia, Juiz de Fora e Montes Claros têm potencial para atrair mais eventos, mas para isto temos que investir na criação e expansão dos centros de convenções e de exposições, promoção de eventos corporativos, congressos e feiras.

“Devido à sua diversidade geográfica, cultural e histórica, Minas ainda tem um potencial enorme!”

R.H - Como analisa esse momento que Minas Gerais está passando em relação a política voltada ao turismo?

F.A.B - Estamos num momento excelente, segundo o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Minas foi líder em crescimento turístico acumulando alta de 12,6%, versus a média nacional que foi de 4,9%. Só no primeiro semestre deste ano, o estado teve um crescimento de 7,6% no desempenho turístico em comparação ao mesmo período de 2023.É fundamental sempre estar investindo em infraestrutura, na promoção e divulgação do estado em feiras nacionais e internacionais, na sustentabilidade, na diversificação de roteiros turísticos. Isso permitirá a atração de diferentes perfis de turistas e a valorização das riquezas culturais, históricas e naturais que nosso estado oferece.