Ao retornar à companhia, o executivo promoveu ações voltadas à redução de custos, transparência com credores e implementação de uma gestão mais profissionalizada
Responsável por liderar a reestruturação da Gramado Parks, uma das maiores redes de hospitalidade e entretenimento do Brasil, o CEO da companhia detalha, nesta entrevista exclusiva, os principais desafios superados, os avanços obtidos na gestão e os planos para o futuro da empresa.
Ao retornar à companhia — onde já havia atuado como consultor jurídico — o executivo encontrou um cenário financeiro delicado e promoveu, logo nos primeiros meses, ações voltadas à redução de custos, transparência com credores e implementação de uma gestão mais profissionalizada. As medidas já mostram resultados: nenhuma operação segue no vermelho, e os empreendimentos continuam a receber prêmios no setor de turismo.
A Gramado Parks também acelera novos investimentos, como o parque aquático Acquaventura (PE) e o resort Hydros, em Gramado (RS), além de projetos em análise no Estado de São Paulo. A entrevista aborda ainda temas como sustentabilidade, regulação do setor, inovação em hospitalidade e o papel do turismo no desenvolvimento regional. Para o CEO, o Brasil tem potencial para transformar o turismo em motor econômico — desde que haja gestão e apoio institucional.
Revista Hotéis - Qual sua formação acadêmica e os cursos e especializações que possui?
Ronaldo Beber - Sou bacharel em Direito, com formação complementar pela Escola da Magistratura Federal (ESMAFE/RS). Também possuo diversos cursos complementares em Direito Público, Empresarial e Tributário. Atuei por 2 anos no serviço público no início da minha carreira, como Assessor no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, passando a me dedicar à advocacia privada logo depois. Como advogado, além do contencioso, dediquei boa parte da minha atuação na assessoria de empresas de médio porte que buscavam implementar melhores práticas de gestão financeira e tributária, além de governança corporativa, o que me conferiu ampla experiência na participação de decisões estratégicas, especialmente em Conselhos de Administração.
R.H - O que o motivou a assumir o cargo de CEO de uma das maiores redes de hospitalidade e entretenimento do Brasil que entrava em processo de recuperação judicial. Como se encontrava a empresa quando assumiu, as primeiras medidas que fez para recuperar e os desafios iniciais que teve que superar?
R.B - Como você mesmo destacou, a Gramado Parks é uma das maiores empresas de hospitalidade e entretenimento do Brasil, com um portfólio sólido e marcado pela inovação. A minha história na Gramado Parks não começou agora, pois já havia atuado na companhia anteriormente, como consultor jurídico, durante o início do seu processo de expansão em âmbito nacional. Depois assumi outros desafios e retornei para assumir a presidência no início da sua reestruturação. Mesmo diante dos desafios que se apresentavam, sempre acreditei na força e no potencial da empresa, especialmente pelo DNA de inovação que nossos colaboradores carregam consigo. Entendi que poderia contribuir na implementação de uma gestão profissional, potencializando ainda mais os diferenciais da Gramado Parks. Isso tem trazido maior confiança e integração para nosso time, além de transparência e indicadores sólidos para nossos investidores.
Quando eu assumi, as dificuldades financeiras eram evidentes e sabia que teria um longo trabalho pela frente.
Os primeiros desafios foram: a conscientização interna sobre a importância de reduzir custos sem comprometer a qualidade, a transparência com nossos credores e investidores, além da busca por rentabilidade e não só um grande faturamento. As empresas precisam dar lucro, pois é isso que as mantém atrativas e sólidas no longo prazo. Nosso mercado, especialmente no entretenimento, ainda é muito familiar, com decisões centralizadas e sem justificativas formais. Numa empresa com investidores do mercado financeiro, meu desafio foi conscientizar os executivos de que, além de serem especialistas na sua área, precisam gerir seus departamentos com práticas e controles financeiros claros.
R.H - Quais os resultados alcançados em sua gestão e como se encontra hoje a recuperação da Gramado Parks?
R.B - Os resultados alcançados durante a minha gestão podem ser organizados em marcos estratégicos. O primeiro foi a adoção de medidas rigorosas de controle de despesas, com foco na redução de custos. Não temos mais nenhuma operação atuando no vermelho. A engrenagem da empresa serve para potencializar todos os negócios, mas mantendo-os saudáveis individualmente. Em seguida, trabalhei no restabelecimento de vínculos com as partes interessadas, promovendo uma comunicação construtiva e transparente. O terceiro passo foi a elaboração e homologação de um plano de recuperação judicial sólido e viável. Paralelamente, foi fundamental garantir a execução desse plano e viabilizar a retomada dos investimentos. Considero que essas foram as principais entregas realizadas até o momento. E isso tudo sem prejudicar a operação, que segue ganhando prêmios nacionais e internacionais tanto no entretenimento como na hotelaria.
“A engrenagem da empresa serve para potencializar todos os negócios, mas mantendo-os saudáveis individualmente”
R.H - Quais os planos de investimento e crescimento da Gramado Parks que estão em curso e o que isso significa para a empresa?
R.B - A Gramado Parks vem realizando estudos para lançar um novo complexo no Estado de São Paulo, onde pretendemos apostar novamente no combo de sucesso que une hospitalidade e entretenimento de qualidade. Também devemos anunciar novas atrações/ampliações nas nossas atrações já existentes, visando consolidar os destinos e aumentar o tempo de permanência de nossos visitantes.
R.H - Com o crescimento das operações, como a Gramado Parks está se posicionando em relação à sustentabilidade e ao impacto ambiental?
R.B - Desde sua fundação em 2013 a Gramado Parks atua fortemente em diferentes âmbitos das práticas ESG. Já entregamos diversas contrapartidas de saneamento no Município de Gramado, revitalizamos a orla da cidade de Tamandaré/PE, entre outras obras sociais entregues. Todos nossos hotéis em operação possuem certificação LEED e estamos sempre estudando novas alternativas sustentáveis que reduzam o consumo energético ou sejam mais sustentáveis. Também revitalizamos e operamos um atrativo culturalmente relevante, que é o Museu do Festival de Cinema de Gramado. Também tivemos atuação pioneira e revelante na mobilização das autoridades para apoio aos afetados pelas enchentes do Rio Grande do Sul, além de promover uma campanha que entregou cobertores a aproximadamente 10% das pessoas que estavam nos abrigos públicos.
“Todos nossos hotéis em operação possuem certificação LEED e estamos sempre estudando novas alternativas sustentáveis que reduzam o consumo energético ou sejam mais sustentáveis”
R.H - Recentemente a Gramado Parks colocou em operação o parque aquático Acquaventura, na Praia dos Carneiros, em Pernambuco. O que representou essa inauguração e o que oferece de atrativos?
R.B - A inauguração do Acquaventura reforça o compromisso desta gestão em seguir investindo em empreendimentos sólidos e diferenciados, seja criando destinos ou potencializando locais com belezas naturais incomparáveis, como a Praia dos Carneiros. Temos certeza de que este parque, em breve, será reconhecido como um dos melhores equipamentos de entretenimento do Brasil, assim como nossos outros parques.
“A inauguração do Acquaventura reforça o compromisso desta gestão em seguir investindo em empreendimentos sólidos e diferenciados”
R.H - Como se encontra os investimentos no resort de águas termais Hydros em Gramado (RS). O que vai representar a entrada em operação desse empreendimento e o que ele vai ofertar a região?
R.B - O Hydros Gramado foi concebido para oferecer experiências únicas com águas termais. Sua ampla área de lazer contará com piscinas naturalmente aquecidas, hidromassagens, bar molhado e espaços ao ar livre para relaxamento, integrados a um paisagismo exuberante. O resort também incluirá um SPA completo, restaurante, winebar, charutaria, sala de jogos, cinema e um kids club. Além da estrutura hoteleira, o empreendimento terá salas de eventos e convenções com capacidade para até 2 mil pessoas, consolidando-se como um novo e sofisticado espaço para a realização de congressos, convenções e eventos sociais em Gramado. Também estaremos com uma estrutura plenamente adaptada para receber um Cassino, caso a legislação seja aprovada pelo Congresso Nacional.
R.H - Como a Gramado Parks está posicionada hoje no mercado? Quais são os empreendimentos de hospitalidade e entretenimento que possuem, onde estão localizados e os que deverão entrar em operação nos próximos anos?
R.B - A Gramado Parks é referência em hospitalidade e entretenimento no Brasil, com destaque para os parques Snowland, Acquamotion, Acquaventura (PE) e Yup Star (RJ e Foz do Iguaçu). Na hotelaria, a marca está presente em Gramado com os hotéis Buona Vitta, Exclusive, Bella e Termas; Na gastronomia por meio dos restaurantes Don Milo, Donalira, Opiano e Signature; e no segmento de multipropriedade, com operações estruturadas em salas de vendas. Seguimos acreditando fortemente na nossa capacidade de inovação e também estamos investindo muito fortemente na nossa gestão hoteleira, que, apesar de recente, vem se destacando em prêmios baseados nas avaliações dos hóspedes. Nossa gastronomia também vem acompanhando esse desempenho, arrancando muitos elogios e surpreendendo positivamente todos que frequentam nossas unidades.
R.H - Na sua opinião, quais são os grandes gargalos apresentados pela hotelaria brasileira? É fácil empreender num país, em que até o passado é incerto?
R.B - Atualmente, quem escolhe um hotel está em busca de uma experiência. Os aplicativos de locação de unidades residenciais por curta temporada são uma realidade já consolidada. Por isso, o setor hoteleiro precisa investir na hospitalidade e em tecnologia para compreender cada vez mais o que nosso cliente deseja. Não basta mais oferecer quartos confortáveis, amenities exclusivos ou áreas de lazer completas. Quem busca um hotel de lazer não quer somente hospedagem, mas uma experiência personalizada para toda a sua família. Não acredito na inteligência artificial para substituir o calor humano dos nossos colaboradores, pois hoje o serviço representa o grande diferencial da hotelaria. As soluções de AI devem ser usadas para pesquisar e mapear desejos, ajudando-nos a personalizar as experiências durante a estadia do nosso hóspede. Nosso diferencial está na capacidade de compreender com precisão as expectativas dos hóspedes e entregar exatamente o que eles procuram, gerando valor e reconhecimento, em especial para os proprietários do nosso segmento de multipropriedade.
De outro lado, nosso setor precisa se unir e cobrar a regulação mais eficaz das plataformas de locação por curta temporada. Todas elas vem buscando agregar serviços ao seu produto, sem que hoje sejam obrigadas a manter os mesmos níveis de controle que a hotelaria e sem recolher a mesma carga tributária. Isso é injusto e prejudica gravemente nosso setor, responsável por milhares de empregos.
R.H - O que o mercado e os investidores podem esperar da Gramado Parks nos próximos anos?
R.B - O mercado pode esperar a consolidação cada vez maior dos empreendimentos da Gramado Parks, além de novos empreendimentos inovadores, com entretenimento para toda a família, hospitalidade com arquitetura de primeira, serviço de qualidade e gastronomia de referência, sempre em destinos inovadores. Em paralelo, podem tomar decisões financeiramente assertivas, com indicadores claros e monitoramento constante da performance dos negócios, em busca de rentabilidade. Nosso setor tem grande potencial de geração de valor, o que pode ser alcançado com inovação e gestão profissional caminhando juntas.
R.H - Na sua opinião, como o Brasil pode destravar o imenso potencial que possui para crescer e se consolidar como um grande destino turístico mundial?
R.B - Embora nosso setor tenha o potencial de mudar regiões inteiras, desenvolvendo destinos turísticos e gerando empregos, ainda não somos incentivados pelo Poder Público como deveríamos. O turismo tem potencial para gerar tanta riqueza quanto o agronegócio, pelo tamanho continental do nosso país e as belezas incomparáveis que possuímos, além do calor humano do nosso povo, incrível em acolher turistas. Porém, se compararmos os incentivos e as linhas de crédito do Fungetur e do Plano Safra, a diferença é abissal. Nosso grande desafio é destravar esse potencial, conscientizando o Governo a incentivar o turismo e mostrando aos investidores privados as grandes margens de rentabilidade que empresas geridas profissionalmente podem entregar.