Temporada de verão com festividades de final de ano e vindima reaquece o setor que sofreu forte impacto com as enchentes
No final de abril de 2024, fortes chuvas atingiram diversas cidades do Rio Grande do Sul e se estenderam por dez dias ininterruptos causando uma das piores enchentes do estado. O Lago Guaíba ultrapassou a cota de inundação e as águas invadiram Porto Alegre atingido a rodoviária, ruas do Centro Histórico, o Mercado Público, os centros de treinamento de Internacional e Grêmio, entre outros pontos.
A Defesa Civil emitiu alerta de evacuação em várias regiões e as equipes de resgate começaram a socorrer as vítimas e a buscar pelos desaparecidos. Em 1º de maio, o Governador Eduardo Leite decretou estado de calamidade pública. Nos primeiros dias de maio o Aeroporto Internacional Salgado Filho foi fechado por tempo indeterminado, e companhias aéreas cancelaram partidas e chegadas de voos em Porto Alegre. O nível do Guaíba continuou subindo e atingiu os maiores níveis da história, os principais acessos à Porto Alegre ficaram bloqueados por consequência dos temporais que castigavam o estado. Cidades da Região Metropolitana registraram inundações, que também chegaram a Serra Gaúcha e Região dos Vales. Nos pontos mais críticos, autoridades e voluntários usavam barcos e motos aquáticas para resgatar pessoas e animais, milhares de pessoas perderam suas casas, outras tantas tiveram que deixar tudo para traz para salvar a própria vida, mais de uma centena de pessoas morreram. O Rio Grande do Sul viveu a maior tragédia climática da sua história.
Poucos dias antes do início das chuvas que culminaria com a pior enchente do estado desde 1941, o auditório da sede administrativa da Fraport Brasil reuniu autoridades, entre elas o Prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, e executivos como Andreea Pal, CEO da Fraport Brasil, e os Sócios-diretores da Laghetto, Plínio Ghisleni e Ronald Spieker, para o lançamento oficial da pedra fundamental do Laghetto Aeroporto. Com um investimento de R$ 45 milhões, o projeto de construção de um novo hotel no local do estacionamento aberto do Aeroporto Salgado Filho é uma parceria entre a Rede Laghetto e a Fraport. Haverá concessão de 49 anos do terreno e tem por objetivo aumentar a oferta de hospedagem para os visitantes da capital porto-alegrense. O clima era otimista, com declarações bastante entusiasmadas sobre a nova hospedagem, em local privilegiado, que contará com 179 apartamentos, academia, sala de reuniões e um restaurante no rooftop com uma vista para o aeroporto e o Guaíba, sem saber o que viria a seguir.
Fechamento do aeroporto e impasse na recuperação
A água atingiu a pista e o terminal de passageiros do Aeroporto Salgado Filho, que ficou alagado por cerca de um mês. Dos 3,2 mil metros de pista, 75% ficou submersa. Como alternativa, a ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil liberou a operação de voos comerciais na Base Aérea de Canoas, localizada na Região Metropolitana de Porto Alegre, que recebeu o primeiro voo comercial de sua história no final de maio. As consequências econômicas do fechamento do aeroporto foram grandes. Além da interrupção dos voos comerciais, houve queda no fluxo comercial que passa pelo aeroporto.
O Aeroporto Salgado Filho foi concedido à iniciativa privada em 2018, e é administrado pela Fraport Brasil, que faz parte do conglomerado alemão Fraport AG Frankfurt Airport Services Worldwide que tem um contrato de 25 anos de concessão. Após o alagamento houve impasse sobre quem seria responsável pela recuperação do aeroporto. Representantes da concessionária e membros do governo se reuniram por diversas vezes para buscar uma resolução para o problema. Houve ruídos e até rumores sobre mudanças no contrato de concessão.
O contrato firmado em 2017 com a ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil (vinculada ao Ministério dos Portos e Aeroportos) estipula a Fraport como a parte responsável por bancar as despesas decorrentes de danos causados por eventos extremos. Com isso os danos da catástrofe ocorrida em maio exigiu uma demanda estimada em pelo menos R$ 362 milhões para viabilizar a retomada total das atividades no aeroporto (incluindo pousos e decolagens). A Fraport alegou não ter esse aporte de recursos, com apoio do Governo Federal, deverá fazer a retomada integral das operações em 16 de dezembro, quando a pista será totalmente liberada, incluindo voos internacionais. Procurada pela reportagem da Revista Hotéis, a Fraport Brasil teve 21 dias de prazo, fez descaso e não se manifestou até o fechamento desta edição, ignorando três e-mails enviados para imprensapoa@fraport-brasil.com e nem mesmo a ouvidoriapoa@fraport-brasil.com se posicionou em relação ao descaso com a imprensa. O telefone (51) 98042-1276 que consta no site oficial da Fraport como atendimento a imprensa, só chama e ninguém atende. Se a Fraport não tem competência sequer para atender a imprensa, terá competência para continuar administrando um dos mais importantes aeroportos do Brasil? E ficam alguns questionamentos não respondidos pela Fraport na entrevista. No contrato de concessão está bem claro que danos ocorridos no aeroporto, como o da enchente, era obrigação da Fraport repor aporte de recursos, mas ela simplesmente ‘pediu socorro ao governo’. Mas se dá prejuízo repassa ao governo, e se der lucro, também repassa? Ou mantém as cláusulas contratuais previstas na concessão? Lamentável essa empresa que diz ter padrão alemão de administração aeroportuária ter uma gestão de comunicação tão ineficiente.
Pista do Aeroporto Salgado Filho tomada pela água (Foto - Giulian Serafim/PMPA)
Com o escoamento da água teve início o processo de limpeza e avaliação do estrago no Salgado Filho. No dia 30 de setembro, o Governo Federal publicou uma Medida Provisória permitindo a Fraport acesso a R$ 425, 9 milhões para reconstrução do aeroporto. Parte da pista precisou ser reconstruída, o que foi feito por etapas. A primeira fase foi concluída no dia 15 de outubro com a reconstrução de 1,7 mil metros de pista. Um evento no dia 18 de outubro marcou a reabertura simbólica do Aeroporto Salgado Filho. E a retomada dos voos comerciais aconteceu em 21 de outubro.
Prejuízo para o turismo e a hotelaria
A catástrofe climática além de deixar um rastro de destruição e mortos pelo caminho, afetou duramente a economia do Rio Grande do Sul. Diversos setores foram atingidos e tiveram prejuízos. O turismo, que representa 4% do PIB do estado, sofreu significativamente, principalmente com os cinco meses de fechamento do aeroporto Salgado Filho, que além de trazer turistas para a capital gaúcha, é porta de entrada para quem vai visitar a Serra Gaúcha, que tem importantes pontos turísticos como Gramado, Canela e a região dos vinhedos. O prejuízo do setor turístico da região foi estimado em R$ 1 bilhão, as vinícolas registaram uma queda de 90% no movimento de turistas.
Com fluxo de turistas impactado, a hotelaria foi muito prejudicada. Em Porto Alegre, a maioria dos hotéis foram afetados de alguma maneira, seja pelas inundações, seja pelos danos em maquinários, equipamentos e outros itens como enxoval e produtos alimentícios. Segundo Henrique Machado, Presidente da ABIH / RS – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio Grande do Sul, o impacto foi avassalador, alguns hotéis ficaram isolados, alguns foram condenados devido a questões técnicas em suas estruturas, e alguns simplesmente não foram capazes de suportar os custos de reconstrução. “Durante os meses de maio, junho e julho de 2024, o turismo no Rio Grande do Sul praticamente cessou, com as três principais condições necessárias para o turismo interrompidas, os meios de transporte, os meios de hospedagem e fluxo de turistas”, pontuou Machado. Ainda de acordo com o Presidente da ABIH/RS, seguem algumas informações sobre os pontos destacados.
Meios de Transporte
O transporte no estado foi amplamente comprometido: 150 pontes foram destruídas e mais de 300 km de rodovias asfaltadas foram completamente devastados pelas enchentes. O principal aeroporto do estado ficou totalmente inoperante, e a alternativa mais próxima com estrutura similar fica a 500 km, em Florianópolis. Os aeroportos menores, como os de Canoas, Caxias do Sul, Canela e Torres, carecem de pistas, pátios e instalações adequadas para atender grandes demandas.
Meios de Hospedagem
Em Porto Alegre, metade dos hotéis ficou fechado por mais de dois meses devido às inundações. Nas regiões turísticas da Costa Leste, Serra Gaúcha, Bento Gonçalves e Gramado, áreas de grande atratividade turística, ocorreram deslizamentos e enchentes repentinas, resultando em perdas de vidas e destruição de atrações e acessos, impactando severamente o turismo de recreio e negócios.
Impacto no Fluxo de Turistas
O desastre deixou marcas profundas, com mais de cem mortes, dez mil casos de doenças relacionadas à contaminação e mais de um milhão de desabrigados e deslocados. Esses eventos afastaram turistas nacionais e internacionais. Em um cenário onde quatro em cada cinco municípios foram fisicamente afetados, os recursos e esforços do estado voltaram-se ao auxílio emergencial. Hotéis na capital e outras regiões transformaram-se em abrigos para equipes de socorro e pessoas desalojadas. Durante as férias escolares, os gaúchos não viajaram internamente, e quem pôde viajar escolheu destinos fora do estado. A economia local ficou paralisada, com setores vitais como agricultura, pecuária e indústria funcionando apenas no mínimo essencial, sustentada por reservas estratégicas e pelo apoio do governo federal.
De acordo com Henrique Machado, seis meses após o desastre, todos os grandes hotéis retomaram as operações, embora algumas unidades tenham passado por trocas de gestão. A situação mais crítica, no entanto, foi enfrentada pelos pequenos meios de hospedagem. “Mesmo com o apoio efetivo do Sebrae e de algumas autoridades, muitas dessas pequenas pousadas e hotéis familiares não conseguiram se reerguer. Suas famílias acabaram desistindo, e muitas se mudaram permanentemente para outras cidades em busca de melhores condições de vida, abandonando o empreendedorismo”, explica.
Henrique Machado: “As três principais condições necessárias para o turismo foram interrompidas, os meios de transporte, os meios de hospedagem e fluxo de turistas” (Foto - Divulgação)
Além de Presidente da ABIH/RS, Henrique Machado é Gerente comercial da rede Swan Hotéis, e também comenta sobre os prejuízos enfrentados pela rede hoteleira. “O principal prejuízo enfrentado pela Rede Swan Hotéis ocorreu na unidade de Rio Grande, que foi severamente afetada pelas águas da Laguna dos Patos, permanecendo fechada por cerca de dois meses. Além dos danos diretos, a rede também sentiu o impacto da redução do turismo na Serra Gaúcha e da indisponibilidade do Aeroporto Salgado Filho, que dificultou o fluxo de visitantes”.
Recuperação diante de um novo cenário
Após a crise sanitária mundial, causada pela pandemia da COVID-19, a hotelaria gaúcha embora viesse crescendo e prosperando ainda não havia recuperado completamente os índices pré-pandemia e foi novamente afetada por uma tragédia. Diversas foram as ações para evitar que os prejuízos fossem maiores, como a remarcação de passagens, e campanhas para que as reservas fossem adiadas e não canceladas. “Os hotéis são um meio essencial para o turismo, classificado como uma das ‘Atividades Características do Turismo – ACT’. Sua saúde econômica reflete e é impactada por diversos fatores do setor. A recuperação completa do setor turístico no estado deverá levar de um a dois anos para alcançar os indicadores econômicos pré-crise, embora os níveis de emprego dificilmente retornem ao que eram. O impacto do desastre natural acelerou a adoção de novas tecnologias e práticas operacionais, aproveitando a busca por maior eficiência no trabalho. Com a sequência de desafios — dois anos de pandemia e agora um desastre ecológico — o estado exibe marcas profundas, muitas vezes invisíveis a um observador casual”, comenta Machado. Ele ainda falou sobre apoio que o setor turístico recebeu para a recuperação. “A população recebeu auxílio direto em dinheiro por meio do estado e do governo federal. Para as empresas, o governo federal ofereceu linhas de crédito incentivadas com condições favoráveis de pagamento, alongamento de prazos para dívidas equacionadas, adiamento de tributos e flexibilização parcial de obrigações trabalhistas.
De fato, diante da crise instaurada, o Ministério do Turismo em conjunto com o governo federal promoveu ações para auxiliar a manutenção e a recuperação do setor no Rio Grande do Sul. A Pasta disponibilizou R$ 200 milhões do Novo FUNGETUR - Fundo Geral de Turismo para financiar empresários do setor de turismo, com condições especiais. Além disso, uma portaria inédita, estendeu, de seis para 12 meses, o prazo de carência para pagamento das linhas de crédito operadas pelo Fundo, beneficiando empresas locais. Até o momento, cerca de 100 financiamentos já foram realizados via FUNGETUR, no valor de R$ 80 milhões, com foco no socorro ao turismo local. Os recursos foram utilizados para capital de giro, compra de equipamentos e obras de reforma e ampliação de estabelecimentos, por exemplo.
Outra ação lançada pela Pasta foi a campanha “Não Cancele, Reagende!”, incentivando os turistas a reprogramarem suas viagens ao Rio Grande do Sul.
No entanto, para Machado, o sistema financeiro foi um obstáculo, aprofundando a crise ao impor exigências excessivas para a concessão de empréstimos, mesmo com a garantia do fundo governamental. “Isso resultou em uma concentração de poder econômico nas mãos de poucas empresas, evidenciada por operações de compra e venda de ativos. Como consequência, dezenas de pousadas e pequenos hotéis fecharam, levando ao empobrecimento de famílias tradicionais e ao desaparecimento de marcas reconhecidas nos pequenos meios de hospedagem”, lamentou. Machado ainda explicou como as tragédias têm mudado o cenário da hotelaria gaúcha. “A terceirização se intensificou, e o setor hoteleiro passou por uma transformação significativa. Na capital gaúcha, a maioria dos hotéis agora é operada por redes administradoras que trazem maior eficiência e poder de vendas. No interior menos voltado ao turismo, a hotelaria permanece estável. Já em destinos turísticos importantes, como Gramado, Canela e Bento Gonçalves, a mudança foi radical. A operação hoteleira passou de familiar e independente para marcas e redes, com uma expansão acelerada de novos empreendimentos. Bento Gonçalves, por exemplo, hoje tem mais quartos em hotéis de bandeira do que em hospedagens independentes. Em Canela, a pandemia estimulou a construção de novos empreendimentos, dobrando a oferta de hospedagem existente, e o recente desastre ecológico acelerou ainda mais essa transformação”.
Machado destaca que desde maio, a rede Swan Hotéis vem avaliando mês a mês o desempenho de suas unidades, que foram impactadas de formas distintas pela enchente. “Enquanto algumas precisaram fechar temporariamente, outras acolheram famílias e equipes de apoio. Graças à resiliência da equipe e à confiança dos hóspedes, os hotéis têm registrado uma recuperação consistente, com as taxas de ocupação já se aproximando dos níveis anteriores à catástrofe, refletindo o compromisso da rede com a excelência e o fortalecimento da hospitalidade”.
De acordo com Cristiane Mors, Diretora de Vendas e Marketing da Laghetto Hotéis, os empreendimentos da rede assim como a maioria da região foram fortemente afetados pelas chuvas e disse que a medida inicial foi ajudar os colaboradores afetados e suas famílias, bem como, a comunidade local. “O nosso Comitê de Ação Social trabalhou ativamente junto à comunidade, tanto na arrecadação e entrega de doações quanto na limpeza das casas atingidas. Abrimos os nossos hotéis para receber equipes de voluntários, bem como, nos colocamos a disposição como ponto de coleta de doações. O número total de diárias concedidas em caráter de cortesia foram 1.334. Após, diante do ocorrido, houve a necessidade de refazer o planejamento da empresa e reduzir o quadro de colaboradores, a fim de buscarmos o equilíbrio financeiro diante da drástica redução de receita”.
Cristiane Mors: “Houve a necessidade de refazer o planejamento da empresa a fim de buscarmos o equilíbrio financeiro diante da drástica redução de receita” (Foto - Divulgação)
Cristiane conta que as operações de todos os hotéis foram mantidas de forma reduzida, concentrando as hospedagens em determinados períodos, conforme demanda, no intuito de otimizar os processos e reduzir custos. “Quando a demanda começou a voltar, a concentração de volume se deu aos finais de semana, com o público regional e que conseguia chegar a Serra de carro. Os clientes eram, em sua grande maioria, do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O mês de maio foi o mais desafiador, com queda de 80% na ocupação. Em junho os números melhoraram um pouco, a queda foi de 60%. Em julho fomos positivamente surpreendidos pela demanda, queda de apenas 23% em relação ao mesmo período de 2023, mesmo sem o aeroporto. Em agosto, a queda foi de 17% em relação ao ano passado. E, em setembro, tivemos uma queda de 16%. Já a partir do anúncio da data de reabertura do aeroporto as nossas vendas aumentaram consideravelmente. Fechamos o mês de outubro com 60% de ocupação. Vale lembrar que a reabertura do aeroporto ocorreu no dia 21/10. Em novembro, tivemos 80% de ocupação. Em dezembro já estamos com 75%, e, como a janela de vendas para estes meses continua, a projeção é chegarmos a 90% de ocupação, atingindo índices semelhantes aos do ano passado”, ressalta Mors.
Retomada com a reabertura do Aeroporto Salgado Filho
Após cerca de cinco meses sem receber voos comerciais, o maior terminal de passageiros da região Sul retomou, ainda que de maneira parcial, o transporte de passageiros. No dia 18 de outubro, o governo federal realizou um evento que marcou a reabertura simbólica do aeroporto. Em 21 de outubro os voos comerciais voltaram a operar, inicialmente com 71 voos no primeiro dia, número que deve se ampliar para 122 voos diários em novembro. Segundo o Ministério de Portos e Aeroportos, a retomada dos voos será realizada de forma gradual e cumprirá todos os critérios internacionais de segurança. A previsão é que em dezembro o aeroporto retome 100% da operação, inclusive com voos internacionais, iniciando com a rota para o Panamá operado pela Copa Airlines. Até 16 de dezembro o terminal funciona entre 08h00 e 22h00. Em janeiro de 2025 devem ser retomados os voos diretos para Buenos Aires (Aerolíneas Argentinas), Lima e Santiago (Latam). Para estes destinos, as passagens já estão sendo comercializadas pelas companhias aéreas.
A Latam retomou 43% dos seus voos no Rio Grande do Sul em outubro e já projeta superar o volume de operações que tinha antes do fechamento do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Isso porque, a partir de fevereiro de 2025, a companhia terá 180 voos semanais no estado, ultrapassando a marca de 175 voos semanais operados em abril de 2024. O crescimento será possível graças à retomada gradual dos voos da capital gaúcha para Brasília, São Paulo (aeroportos de Congonhas e Guarulhos), Curitiba e Rio de Janeiro (aeroporto do Galeão), Santiago (Chile) e Lima (Peru). Em janeiro de 2025, aliás, a Latam será a primeira empresa aérea nacional a voltar a operar voos internacionais em Porto Alegre.
Em janeiro de 2025, a Latam será a primeira empresa aérea nacional a voltar a operar voos internacionais em Porto Alegre (Foto - Divulgação)
A Latam transportou 180 mil passageiros no Rio Grande do Sul no mês de outubro e prevê que esse volume seja ampliado para 210 mil passageiros a partir de fevereiro de 2025. A expectativa de passageiros da Latam no estado para fevereiro de 2025 equivale a 102% dos 205 mil transportados pela companhia em abril de 2024, segundo dados da ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil. Segundo a Latam, as vendas para o Aeroporto Salgado Filho têm demonstrado uma recuperação expressiva desde a reabertura, registrando um crescimento médio de 20% nas últimas cinco semanas. A expectativa é que a demanda continue crescendo com a aproximação das festas de fim de ano, especialmente o Natal.
A Gol Linhas Aéreas celebrou de maneira especial o momento de retomada, embarcando seus clientes em aeronaves temáticas e com ações a bordo e no desembarque que transformaram a experiência de viagem. O Boeing 737 800 da Gol foi adesivado para a iniciativa “Conheça o Brasil: Voando”, idealizada pelo Ministério do Turismo em parceria com o Ministério de Portos e Aeroportos e a ABEAR- Associação Brasileira de Empresas Aéreas. O equipamento apresenta ilustrações que remetem à cultura gaúcha: a Ruína dos Sete Povos, localizada no Parque Histórico Nacional das Missões, a beleza das araucárias, além do vinho e do chimarrão, tão tradicionais no Rio Grande do Sul. O piloto Paulo Zancani e o copiloto Vinicius Brehm, além do comissário de bordo Adriano Farina, todos gaúchos, empunharam, após o pouso, a bandeira do Rio Grande do Sul. Entre 21 e 26 de outubro a companhia ofertou até 20 voos diários (chegadas e partidas) entre Porto Alegre e Congonhas (CGH), RIOgaleão (GIG) e Guarulhos (GRU). A partir de 27 de outubro, houve aumento para até 32 voos diários (16 pousos e 16 decolagens), acrescentando a operação em Brasília. Em 16 de dezembro, a Gol terá incremento da sua oferta de voos no Salgado Filho, com até 38 voos diários (19 decolagens e 19 pousos) na alta temporada de verão, incluindo as ligações também com Salvador (SSA). Com a retomada dos voos em Porto Alegre, todas as operações previstas para a base aérea de Canoas (QNS) - fundamental para atender provisoriamente a capital gaúcha durante o período de fechamento de POA - foram suspensas e os passageiros reacomodados para os voos para Porto Alegre. A retomada das atividades no Aeroporto Salgado Filho também inclui as operações da Gollog, unidade logística da Gol, no Terminal de Cargas. Atualmente, a Gol mantém cinco bases em operação no estado do Rio Grande Sul: Porto Alegre (POA), Caxias do Sul (CXJ), Passo Fundo (PFB), Pelotas (PET) e Santo Ângelo (GEL).
Gaúchos da tripulação empunham a bandeira do Rio Grande do Sul na reabertura do Aeroporto Salgado Filho (Foto - Divulgação)
Já a Azul informou que já realizou mais de 600 voos (até o dia 18 de novembro), entre pousos e decolagens, desde o retorno das operações no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, no dia 21 de outubro. Tendo sido, na ocasião, da Azul o primeiro avião a pousar no aeroporto, marcando a retomada, vindo de Campinas.
Atualmente, a Azul é a companhia aérea com o maior número de voos no aeroporto. A companhia aérea passa a conectar novamente Porto Alegre com as cidades de Campinas (SP), Curitiba (PR), Belo Horizonte (Confins-MG), Congonhas e Guarulhos (SP), Galeão (RJ), além de ligações regionais para os municípios de Santa Maria, Santo Ângelo, Pelotas e Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. A operação regular na base aérea de Canoas foi suspensa e os passageiros reacomodados nos voos para Porto Alegre. “Já estamos com 78% da capacidade operacional que tínhamos antes das enchentes no Rio Grande do Sul. Nosso objetivo é que, com o avanço das obras no Salgado Filho, possamos voltar a ter a mesma capacidade em fevereiro de 2025 e ultrapassar o que tínhamos nos meses seguintes, ofertando ainda mais conexão e assentos para Porto Alegre e o Rio Grande do Sul”, afirma Vitor Silva, Gerente geral de Malha, Planejamento Estratégico e Alianças da Azul. Para a alta temporada de verão, entre 16 de dezembro de 2024 e 2 de fevereiro de 2025, Porto Alegre também contará com voos diretos para Recife (PE). Ao todo, serão 26 voos entre as cidades.
Azul é a companhia aérea com o maior número de voos no aeroporto de Porto Alegre (Foto - Guilherme Mion)
A Azul Viagens, operadora de Turismo da Azul, desde 24 de outubro, realiza dois voos semanais dedicados para trazer turistas dos aeroportos de Viracopos, em Campinas (SP), e de Belo Horizonte (MG), ambos hubs da companhia. A operação vai acontecer até o dia 19 de janeiro e tem como foco o período da alta temporada na Serra Gaúcha e o Natal Luz em Gramado.
Celebrações de final do ano, Natal Luz e as vindimas
A reabertura do aeroporto de Porto Alegre e a retomada do fluxo de visitantes trazem alívio e vem em momento oportuno para o setor turístico. De acordo com informe da Prefeitura de Porto Alegre, a rede hoteleira da capital do estado registrou aumento de 13% nas hospedagens após a reabertura do aeroporto. A ocupação no mês de outubro ficou em 50,74%. Os dias de maior pico foram, exatamente, os da semana de reabertura do Salgado Filho, de 21 a 26 de outubro. O período marca o início das celebrações de final de ano com a já tradicional programação de Natal, que inclui decoração típica, iluminação especial e atrações diárias. Com mais 8,2 milhões de visitantes em 2023, Gramado deve terminar 2024 com a marca 5,5 milhões de visitantes, uma significativa queda de 32%, com quase 2,7 milhões de visitantes a menos segundo estimativa da Secretaria de Turismo de Gramado. Um dos pontos altos do ano na região, o inverno, foi quase todo perdido, mas o movimento positivo já foi sentido após o reinício das operações do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. O Secretário da pasta na cidade, Ricardo Bertolucci, explica que 86% da atividade econômica da cidade vem do setor de turismo. “Temos confiança de que o Natal Luz, que já faz parte do calendário nacional, este ano com o tema do acolhimento, irá atrair muitos visitantes. A expectativa é celebrarmos juntos a esperança, a renovação e o recomeço”, afirma. A programação da 39° edição do Natal Luz 2024, começou em 24 de outubro e vai até 19 de janeiro de 2025, somando 88 dias de festa. A estimativa é de que o evento atraia, este ano, mais de dois milhões de pessoas. A região dos vinhedos também já observa o retorno dos turistas e tem grande expectativa para as vindimas que acontecem no período do verão. O setor hoteleiro também está bastante otimista com a temporada de final de ano. Os hotéis da região projetam ter mais de 70% de ocupação no período. “A perspectiva da Rede Swan Hotéis para o final do ano é bastante positiva, com uma retomada significativa na ocupação em todas as unidades. Hotéis com foco corporativo, como Novo Hamburgo, Caxias do Sul, Rio Grande e Generation (Porto Alegre), seguem com bons índices de recuperação, enquanto o Jangal das Araucárias, em Canela, se destaca com experiências natalinas especiais que têm atraído hóspedes”, afirma Henrique Machado.
Natal Luz de Gramado espera receber mais de 2 milhões de visitantes (Foto - Cleiton Thiele)
Cristiane Mors destaca que a Laghetto é a Rede Hoteleira Oficial do Natal Luz. “Com certeza, estes meses são a esperança de recuperarmos parte dos prejuízos causados pelas chuvas. Os hotéis de Gramado e Canela estão decorados, com espaços instagramáveis internos e iluminação externa. Além disso, temos programação especial na rádio Laghetto, com músicas natalinas e interações do Sr. Laghettinho nos cafés da manhã dos hotéis, aos finais de semana, caracterizado de Papai Noel. O objetivo é proporcionar uma experiência memorável aos clientes que vem passar este período mágico conosco”, finaliza Cristiane.
Otimismo na hotelaria
O empresário Marcos Jorge, CEO do Grupo RTSC, uma holding com mais de R$10 bilhões em ativos sob custódia em marcas hoteleiras como Gramado Parks, Grupo Wish, WAM Group e as empresas financeiras Capital e Fortsec, também está otimista para a retomada da hotelaria pós enchente. E ele cita a expectativa do aeroporto Salgado Filho passar a operar com 100% da sua capacidade a partir de 16 de dezembro. Agora sob responsabilidade da Infraero, passam a receber voos comerciais os aeroportos de Canela, na Serra Gaúcha, e de Torres, no litoral Norte do estado que irão beneficiar em muito o turismo e a hotelaria local. “Da perspectiva da cadeia do turismo, não é pouca coisa. Facilitar a chegada dos turistas é fundamental para fazer girar novamente a economia de municípios do Rio Grande do Sul que dependem principalmente do turismo – casos da própria cidade de Canela, de Gramado e do entorno na Serra Gaúcha”, diz Jorge.
Marcos Jorge: “Facilitar a chegada dos turistas é fundamental para fazer girar novamente a economia de municípios do Rio Grande do Sul” (Foto - Divulgação)
De acordo com o CEO da RTSC, cidades como Gramado, Canela e Bento Gonçalves viram a quantidade de turistas de outros estados e países, responsáveis por até 40% da ocupação dos hotéis da região, cair significativamente durante as férias de julho e o Festival de Inverno. Com a reabertura dos aeroportos, no entanto, a expectativa é de retorno dos visitantes de outros estados, assim como de países vizinhos, como a Argentina e o Uruguai. Marcos Jorge avalia que a cadeia do turismo no Rio Grande do Sul é bastante diversificada, envolvendo desde hotéis e restaurantes até agências de passeios e fábricas de chocolate e vinícolas. “Trata-se de um segmento relevante, capaz de atrair crescentemente investidores interessados em alocar recursos em complexos multipropriedade”, concluiu o empresário.