No mercado hoteleiro nacional e internacional há uma profissão muito importante e já consagrada: a de Governanta. Embora o termo geralmente se refira a uma posição ocupada por mulheres responsáveis pela gestão das atividades de limpeza e arrumação em hotéis, é importante reconhecer que homens também podem ocupar esse papel. Nos últimos anos, tem havido uma mudança gradual na percepção tradicional dos papéis de gênero em várias profissões, incluindo a indústria hoteleira. Portanto, é possível encontrar homens trabalhando como Governantes em hotéis, desempenhando as mesmas funções e responsabilidades que suas colegas do sexo feminino, embora ainda possa haver uma predominância de mulheres nessa posição.

Entretanto, o mais importante é reconhecer que tanto homens quanto mulheres têm a mesma capacidade de desempenhar eficazmente o papel de Governanta/Governante em hotéis, pousadas e resorts e a escolha para esse cargo deve ser baseada nas habilidades e qualificações do indivíduo, independentemente do gênero, etnia e orientação sexual.

 

Estereótipos

Ainda existe um estereótipo que vem sendo quebrado no segmento hoteleiro que diz respeito ao setor de limpeza, higienização e organização: para essas áreas, o trabalho precisa ser realizado ou supervisionado por mulheres. Além disso, existe a questão cultural e histórica que influencia até hoje, trazendo a imagem da mulher para este setor. É muito comum nas divulgações, ter uma imagem de uma camareira de vestido e uma Governanta mulher na capa de algum folder de propaganda de um hotel, pousada ou resort. “Na minha visão, estamos evoluindo. Hoje temos mais homens assumindo o setor, às vezes não em cargos de Governante, mas de Gerente de Governança, Gerente Operacional ou de Hospedagem, exercendo a função, mas com outra nomenclatura. Ainda há muitas crenças a se quebrar. Vejo que muitos proprietários ou gestores ainda têm resistência de contratar homens para o setor. Alguns ficam surpresos quando eu faço essa sugestão, fazendo comentários do tipo: “Nossa, mas homem não é bom na limpeza, não é detalhista” ou “homem vai se envolver com as camareiras”. Uma visão torpe, pois em qualquer orientação sexual, temos este risco e hoje temos homens detalhistas tanto quanto as mulheres”, afirma Ariadne Silva, Diretora da AS Consultoria Hoteleira.

Governantes: Uma profissão imprescindível para os hotéis Ariadne Silva: “Vejo uma grande oportunidade para os homens se destacarem nesse mercado, não só hoteleiro, mas também residencial

Números do setor

Ariadne comenta que nas turmas dos cursos de formação de profissionais na área de Governança hoteleira, da qual leciona, a média é sempre de 10% de homens. “Tenho divulgado de forma abrangente, indicando o curso para cargos de gerência operacional e de hospedagem, mas ainda sinto um pouco de resistência. Uma pena, porque hoje o mercado de bons gestores de Governança está escasso. Recebo muitas vagas da área, mas na maioria os bons profissionais já estão estabilizados na empresa, por isso vejo uma grande oportunidade para os homens se destacarem nesse mercado, não só hoteleiro, mas também residencial”, completa.

De acordo com Silvia Rizzo di Lione, Professora de disciplinas presenciais no curso de Hotelaria, Turismo e Eventos da Universidade Anhembi Morumbi, desde 2019 há uma maior procura de mulheres para o curso. “No entanto, me refiro aqui a busca pelo curso de Hotelaria, e não algo específico para a Governança. Isso é, o estudante que procura por este curso, ainda não tem a escolha pelo setor que pretende trabalhar, que pode, ou não, ser a Governança. Acredito que o principal motivo pela procura maior se dar por mulheres seja porque elas se sentem mais habilitadas a trabalhar com o público. Percebo isso quando pergunto aos estudantes do primeiro semestre o que vem a mente deles quando pensam em Hotelaria, e, a grande maioria me responde a Recepção”, diz. Já quando falamos em estágio, a Professora Silvia diz que a Governança vem em segundo lugar, e que muitas vezes, quem ocupa essa vaga de estagiário na área é o aluno do gênero masculino. “Colocando isso em números, eu arrisco dizer que, dentre os estudantes que estagiam em hotéis (sejam no curso de Hotelaria ou de Turismo), a maioria está em Recepção e os demais atuam em Governança e Alimentos e Bebidas. Vale ressaltar, no entanto, que a função destes estagiários no setor (tanto homens quanto mulheres) não se referem ao trabalho de uma arrumadeira. Eles costumam trabalhar ou na mesa (auxiliando administrativamente a Governança), ou na Mordomia (auxiliando diretamente o hóspede) ou na reposição das copas dos andares (auxiliando as arrumadeiras)”, ela enfatiza.

Cláudia Martins Pantuffi, Docente do curso de Tecnologia em Hotelaria do Centro Universitário Senac - Santo Amaro, ressalta que esse é um curso com um perfil um pouco diferente, já que normalmente os alunos já trabalham no segmento e desejam evoluir na carreira e alguns deles, inclusive, têm negócios na área ou estão abrindo (pousada, aluguel por temporada etc.). “A maioria é do sexo feminino. São mulheres mais velhas e frequentemente a gestão do hotel paga o curso para supervisoras e outras funcionárias da área. Já tivemos, inclusive, Gerentes gerais como alunas”, ela explica.

Entre 2019 e 2024, a proporção de candidatos que procuraram o curso de Governança Hoteleira no Senac foi 84,18% de mulheres e 15,82% de homens. A faixa etária das estudantes do sexo feminino vai de 35 a 45 anos. “Talvez essa presença de mais mulheres do que homens reflita uma realidade da sociedade, que acaba por distinguir profissões masculinas e femininas. Na minha opinião está voltada a um imaginário que define o que a mulher pode e deve estudar com ele sendo reproduzido para os homens, desconsiderando a escolha profissional a partir de interesses e habilidades de cada indivíduo”, salienta Pantuffi. De acordo com a Professora, ser hospitaleiro e competente não está relacionado ao sexo ou gênero, mas à inteligência emocional e valorização das relações humanas, entre outros aspectos.

Governantes: Uma profissão imprescindível para os hotéis Danielli Nóbrega: “O job description é o mesmo para ambos os sexos. Não muda nada, o que importa é o olhar profissional para as funções do cargo”.

Governantes nos hotéis

Os hotéis brasileiros estão conseguindo absorver os profissionais do sexo masculino nos seus quadros de funcionários Governantes? Um exemplo é o Grupo Vila Galé, que tem três empreendimentos onde os homens exercem essa função. “O Jean Lima é titular no Vila Galé Eco Resort do Cabo. Ele ingressou em nossa equipe em 1997 como Steward e progrediu de Supervisor a Chefe de steward. Em 2016, assumiu a função de Subchefe na Governança e, em 2022, tornou-se Governante Geral. Além dele, temos o Anderson Jesus no Vila Galé Marés e o Erivando Galdino no Vila Gale Fortaleza”, informa José Carlos Ferreira, Gerente Geral do Vila Galé Eco Resort do Cabo. Ao todo, dos 10 hotéis e resorts no Brasil do Grupo, são sete mulheres ocupando o cargo de Governantas e três homens como Governantes - totalizando 30% do quadro.

Já no Grand Hyatt Rio de Janeiro, há homens em diversas funções no Departamento de Governança. Além de camareiro – pessoa responsável por limpar os quartos - há supervisores de andares, que são os “braços direitos” da Governanta responsável pela supervisão da limpeza dos quartos e das áreas sociais. “Falando de todos os quartos, temos os houseman – que ajudam as camareiras no dia a dia e são responsáveis por serviços extras como colocar cama, levar algum item de Governança ao hóspede e aspiração dos corredores. Também conseguimos ver homens em nosso time de lavanderia, cuidando de máquinas como as calandras de passagem ou nossas grandes máquinas de lavagem – neste quesito, inclusive, nosso Gerente é um homem”, conta Danielli Nóbrega, Diretora de Operações do hotel fluminense. Ao todo, são oito funcionários dentre Governanta, Supervisores e Inspetores de Governança no hotel, além da Gerente de Governança exclusiva. Nóbrega ainda afirma que o job description é o mesmo para ambos os sexos. “Não muda nada, o que importa é o olhar profissional para as funções do cargo. O mesmo acontece para inspetores, supervisores e camareiros/as”, diz.

Édson Machado é o único Governante do Hotel Sesc Contagem, em Minas Gerais. “Na minha equipe, todas as colaboradoras são mulheres. Eu sou o único profissional ocupando a função de Governante. Além disso, em minha experiência em outros hotéis, também observei que a equipe de Governança era predominantemente composta por profissionais do sexo feminino”, ele nos conta.

O Renaissance São Paulo Hotel tem um Governante que trabalha na companhia há mais de 20 anos e que fez carreira nessa área. “Acreditamos que isso tem mudado no mercado ao longo dos anos, por exemplo, considerando o Renaissance São Paulo Hotel, a equipe de Governança tem aproximadamente 70 profissionais trabalhando nas funções de camareira/o, limpeza, inspetores de andares, e 40% dos profissionais nessa área são do sexo masculino”, informa Karine Cassini, Diretora de RH para o Brasil da Marriott International.

Governantes: Uma profissão imprescindível para os hotéis José Carlos Ferreira: “Na Vila Galé, não há distinção de gênero ou sexo, as funções e responsabilidades são as mesmas e as competências são valorizadas igualmente”

Minoria na Governança

Apesar de números mais positivos e do crescimento de homens em cargos de Governança hoteleira, as mulheres continuam predominando na área em questão. E quais os motivos que fazem com que essa distância ainda seja grande? Para Édson Machado, existe uma combinação de fatores preponderantes, como as oportunidades de avanço na carreira para as mulheres dentro da área ser mais abundante do que para os homens. “Além disso, a tradição desempenha um papel importante. Por muitos anos, as posições de liderança dentro da área de Governança em hotéis têm sido ocupadas predominantemente por mulheres. Tal cenário pode ser interpretado como uma figura personificada, representando os estereótipos de gênero e papéis tradicionais atribuídos às mulheres na sociedade. Outro ponto relevante é a percepção de habilidades. Existe uma percepção cultural de que as mulheres possuem habilidades naturais para tarefas domésticas e organizacionais, o que pode ser interpretado como uma figura que favorece a contratação de Governantas em detrimento dos Governantes. Ademais, as políticas de recrutamento dos hotéis podem favorecer a contratação de mulheres para posições de Governança, refletindo preconceitos de gênero arraigados na sociedade, isso pode ser representado como uma figura que influencia diretamente a seleção de profissionais para esses cargos”, ele diz.

Por fim, as barreiras sociais e culturais também desempenham um papel significativo. Normas sociais e expectativas de gênero podem criar barreiras para os homens que desejam ingressar ou avançar em carreiras tradicionalmente dominadas por mulheres, como é o caso da área de Governança em hotéis. “Essas barreiras podem ser interpretadas como uma figura que dificulta o progresso dos homens nesse campo específico. Em suma, a discrepância entre Governantes e Governantas nos hotéis brasileiros é influenciada por uma combinação de fatores culturais, sociais e organizacionais que perpetuam estereótipos de gênero. Esses fatores são representados por figuras que limitam as oportunidades de avanço na carreira para os homens na área”, ele completa.

Para José Carlos Ferreira, essa é uma questão que não se limita apenas ao Brasil, mas é uma tendência global as mulheres ocuparem predominantemente o cargo de Governanta, devido a um estereótipo associado a essa posição. “Desde tempos antigos, o papel de cuidar da casa e gerenciar os afazeres domésticos tem sido atribuído às mulheres, uma dinâmica que persiste em muitos casos até hoje. Mas isso não se justifica mais. Na Vila Galé, não há distinção de gênero ou sexo, as funções e responsabilidades são as mesmas e as competências são valorizadas igualmente”, ressalta.

Na opinião de Dyonatha Rodrigues, Governante no Comfort Hotel Goiânia, existem diversos motivos pelos quais o cargo de Governante ainda é pouco procurado pelos homens, mas um que mais o chama a atenção é o preconceito. “Ainda há um tabu a ser quebrado em relação aos homens liderando equipes de limpeza, e é raro encontrar treinamentos de profissionalização específicos para esse cargo”.

Dyonatha trabalha desde 2018 como Governante e explica que o grande diferencial nesse campo, sem dúvida, é a capacidade de agregar inovação e criatividade na gestão. “Minha base de conhecimento na hotelaria hospitalar me permitiu agregar muito conhecimento em questões de processos. Em 2023, desenvolvi o projeto ‘Game Of Gov’ em um hotel de rede, um jogo de treinamento para camareiras que visava revisar e implantar novos processos, com desafios práticos. Foi um momento de grande aprendizado com a equipe, que quebrou a monotonia dos treinamentos tradicionais, tornando o processo mais dinâmico e eficaz”, revela.

Ele também é o criador do projeto “Toalhas Vivas”, que valoriza as camareiras que fazem esculturas de toalhas, e que nasceu em 2018 da necessidade de abraçar e valorizar esses profissionais. Em 2019, o projeto tomou proporções maiores, treinando equipes em vários hotéis, inclusive em outros estados. “As esculturas de toalhas estão quebrando o preconceito, pois além de manterem os quartos limpos e organizados, os hotéis precisam oferecer um diferencial. As esculturas trazem essa pegada de hospitalidade, de carinho e cuidado. Temos mais de 15 esculturas no menu, como cisne, cachorro, elefante, flor, macaco, rato, entre outros”, diz.

A Consultora Ariadne Silva afirma que sempre gostou de ter homens nas suas equipes, quando atuava como gestora, seja de arrumador, supervisor ou assistente. “Hoje alguns homens que trabalharam comigo se tornaram Governantes. Pensando na licença maternidade ou na força, temos muitas mulheres que se superam na gestão de grandes equipes, mas o que vejo é que na maioria das vezes os homens conseguem manter a postura e a neutralidade diante de situações que envolvam o quesito emocional, como as famosas TPM’s e as conversas aleatórias (fofocas) principalmente porque as equipes são na maioria de mulheres. O que percebo é que alguns homens são mais sensatos na hora da decisão e também conseguem investir mais em seus estudos, visando crescimento, enquanto as mulheres se privam disso, por terem uma dupla jornada, como cuidar da casa e da família”, ela diz.

Para Karine Cassini, é mais comum encontrar Governantas do que Governantes devido a vários fatores históricos e sociais. “Tradicionalmente, as tarefas relacionadas à Governança, como limpeza de quartos, organização de roupas de cama e enxovais no geral, foram associadas a papéis considerados femininos. Isso levou a uma predominância de mulheres nessas funções ao longo do tempo. Estereótipos sociais sobre o que é considerado trabalho “masculino” ou “feminino” podem influenciar as escolhas de carreira”, afirma.

Na Rede Hilton, atualmente, há um profissional do sexo masculino trabalhando como Governante. A companhia oferece crosstraining entre hotéis, curso de supervisão, de liderança, e plataforma de cursos online para fomentar mais a profissão entre os homens. Para Sandro Araújo, Gerente de Governança do Almenat Embu das Artes São Paulo, Tapestry Collection by Hilton, a predominância de mulheres no cargo de Governanta em hotéis no Brasil pode ser atribuída a uma série de fatores, incluindo questões culturais, históricas e de perfil profissional. “Mulheres muitas vezes são vistas como tendo habilidades naturais para organização, atenção aos detalhes e comunicação, características valorizadas em um cargo de Governanta, que envolve supervisão de equipes e garantia da qualidade dos serviços. O setor hoteleiro muitas vezes oferece horários flexíveis e oportunidades de trabalho em meio período, o que pode ser atraente para mulheres que precisam conciliar o trabalho com responsabilidades familiares”, analisa. Araújo ainda diz que, “embora a predominância de mulheres no cargo de Governanta em hotéis no Brasil possa ter raízes em questões culturais e de gênero, é importante reconhecer que a capacidade e competência profissional não estão ligadas ao tema, e homens também podem desempenhar com sucesso esse papel”.

Governantes: Uma profissão imprescindível para os hotéis Dyonatha Rodrigues: “Ainda há um tabu a ser quebrado em relação aos homens liderando equipes de limpeza”

A profissão no exterior

João Fonseca trabalha em Portugal desde 2018 na marca InterContinental, primeiro em Lisboa, e desde 2022 no InterContinental Cascais Estoril. Ele nos conta que quando começou a sua trajetória na Governança - como Governante de Andares -, contava pelas mãos os homens que estavam fazendo carreira na área. “Hoje somos um número cada vez mais elevado, claro que continuamos a ser um número menor comparado com as Governantas, mas sinto que já existe mais diversidade de gênero e cada vez mais vemos Governantes abraçarem grandes projetos hoteleiros e a apresentarem resultados de excelência, o que motiva outros profissionais a seguirem esta área”, afirma.

Em Portugal, por exemplo, a área de Governança cresce cada vez mais em níveis de notoriedade e valorização dos seus profissionais. “Se existiu estigma em homens assumirem o cargo de Governante por ser uma função de mulheres, hoje essa questão já não se coloca. O que difere é a paixão pelo serviço e por tornar a Governança uma área mais digna, com mais recursos e tempo para mostrar o que podemos fazer na experiência dos hóspedes”, diz Fonseca. Ele ainda completa afirmando que a profissão de Governante hoteleiro deve ser vista numa perspectiva de gestão e estratégia. “Somos muito mais que profissionais de limpeza, à qual nos dedicamos é certo, mas tal como todas as áreas hoteleiras, o que nos pode diferenciar é a forma como gerimos os recursos e tempo. São os profissionais de Governança que cuidam do espaço privado do hóspede na sua permanência no hotel, quem melhor que nós para saber as suas preferências?”, ele conclui.

José Carlos Ferreira salienta que, apesar de não haver Governantes nos hotéis do Grupo Vila Galé em Portugal, “o país lusitano e em muitos outros onde o turismo desempenha um papel importante na economia e enfrentam desafios significativos de mão de obra, se houver homens interessados em assumir essas funções e adquirir experiência nesse campo, é possível que a ocupação desses cargos por homens se torne mais comum”.

Na opinião de Dyonatha Rodrigues, no exterior a situação não é diferente do Brasil. “Pouco se ouve falar sobre Governantes, mas há exemplos inspiradores, como o João Fonseca em Portugal. Ele lidera um grupo direcionado a hoteleiros de housekeeping, com mais de 300 participantes, mostrando que há esforços para fortalecer o setor”, diz.

Já Édson Machado tem uma percepção diferente. Para ele, no exterior, especialmente em países onde a indústria hoteleira é altamente desenvolvida e sofisticada, a profissão de Governante é mais difundida. “Em destinos turísticos internacionais, é comum encontrar Governantes desempenhando um papel fundamental na gestão eficiente das operações de limpeza e manutenção em hotéis e empreendimentos de luxo. Nesses países, a posição de Governante é frequentemente valorizada e reconhecida como uma carreira de prestígio devido à sua importância na garantia da qualidade dos serviços e na satisfação dos hóspedes”, ele enfatiza. “Participo de alguns grupos de Governança no Brasil e também de Portugal. Grupos com mais de 300 profissionais. Aqui no Brasil temos uma média de 10% de homens, já em Portugal está em torno de 30%, mas no geral as mulheres ainda predominam nessa área”, informa Ariadne Silva.

Governantes: Uma profissão imprescindível para os hotéis João Fonseca: “Se existiu estigma em homens assumirem o cargo de Governante por ser uma função de mulheres, hoje essa questão já não se coloca”.

Funções de um Governante

Experiência em hotelaria, vocação para cuidar e servir, brilho nos olhos e organização. Esses são os requisitos que uma pessoa deve possuir para ser um Governante num hotel, pousada ou resort. “Um Governante de um hotel cinco estrelas, por exemplo, precisa ter habilidades de liderança excepcionais, capacidade de tomar decisões rápidas e eficazes, excelente comunicação interpessoal, visão estratégica para negócios, habilidades de resolução de problemas, e um profundo conhecimento da indústria hoteleira e das expectativas dos hóspedes de luxo. Além disso, é importante ter um alto nível de atenção aos detalhes e um compromisso inabalável com a excelência no serviço ao cliente. E, por último, mas não menos importante, precisa gostar de pessoas – já que irá gerenciar um dos maiores times do hotel”, explica Danielli Nóbrega, Gerente de Operações do Grand Hyatt Rio de Janeiro. Ela ainda ressalta que a mescla de mulheres e homens trabalhando juntos no time de Governança do hotel é um fator fundamental em termos de experiência e divisão de tarefas. “A Hyatt é uma empresa inclusiva e, por isso, acredita que ter em seu time homens e mulheres, fazem com que os departamentos estejam mais diversos e acolhedores. Homens e mulheres trazem perspectivas únicas e habilidades complementares para um time de Governança de hotel. A diversidade de gênero pode promover uma maior criatividade e inovação na resolução de problemas, além de contribuir para um ambiente de trabalho mais inclusivo e equilibrado. Juntos eles podem oferecer diferentes pontos de vista sobre questões operacionais e estratégicas, resultando em decisões mais abrangentes e bem fundamentadas. Além disso, a presença de ambos os gêneros pode ajudar a atender às necessidades variadas de uma equipe e de uma clientela diversificada, promovendo um serviço mais completo e adaptado”, conclui.

Nos hotéis do Grupo Vila Galé, o Governante é responsável por manter contato e satisfazer as necessidades dos hóspedes, gerenciar a qualidade dos produtos e serviços, bem como supervisionar a limpeza e organização do hotel. “Ele dirige e organiza os serviços de atendimento aos hóspedes, incluindo limpeza, lavanderia, manutenção de pisos e quartos, entre outros, garantindo que os padrões estabelecidos pela Vila Galé sejam atendidos e que as necessidades e satisfação dos clientes sejam alcançadas”, confirma José Carlos Ferreira, Gerente Geral do Vila Galé Eco Resort do Cabo. O Grupo tem o Programa Academy Week, que consiste em uma formação intensiva específica, e a Academia Vila Galé, que visa formar e reter talentos através de cursos de e-learning, abordando temas como identidade corporativa, atendimento ao cliente, competências técnicas, liderança e coaching. No Grand Hyatt Rio de Janeiro, existe a Academia de Líderes, com objetivo de desenvolver habilidades para que todos possam ser líderes com excelência.

De acordo com João Fonseca, um Governante Hoteleiro assume a responsabilidade sobre os serviços de limpeza de quartos, áreas públicas e lavandaria e a respectiva coordenação, supervisão e motivação da equipa, sempre com a finalidade de exceder as expetativas dos hóspedes. “Numa perspectiva mais de gestão, um Governante Hoteleiro deve garantir a correta e eficiente gestão de recursos, sejam eles financeiros, materiais e o mais importante de todos: a gestão das pessoas do seu departamento. A satisfação dos hóspedes torna-se um resultado da gestão do Governante Hoteleiro e da dedicação, empenho e profissionalismo da sua equipe”, ele diz. “As principais funções de um Governante Hoteleiro são como as peças fundamentais de um quebra-cabeça, cada uma desempenhando um papel vital na harmonia do todo. Para começar, o Governante é como um maestro habilidoso, coordenando uma sinfonia de atividades de limpeza e manutenção em todo o hotel. Suas responsabilidades incluem supervisionar as equipes de limpeza, estabelecer padrões de excelência, garantir a eficiência operacional e manter a qualidade dos serviços prestados aos hóspedes. Além disso, o Governante atua como um guardião da reputação do hotel, assegurando que cada detalhe contribua para uma experiência memorável e positiva para os hóspedes”, nos conta Édson Machado. ”Um Governante desempenha um papel fundamental na operação diária de um hotel, já que o Departamento de Governança é um dos maiores dentro da organização, garantindo que os padrões de limpeza, arrumações e serviço ao cliente sejam mantidos em todos os momentos. Algumas das funções específicas que um Gerente de Governança pode exercer no dia a dia incluem supervisão da equipe, gestão de inventário, controle de qualidade, atendimento ao cliente e administração e planejamento”, ressalta Karine Cassini.

A Diretora de RH para o Brasil da Marriott International ainda conta que o salário de um Governante pode variar dependendo do local de trabalho, do tamanho do hotel e da experiência do profissional. “Em geral, os salários nessa área são competitivos, especialmente em hotéis de grande porte ou em regiões com alta demanda por profissionais qualificados. Além do salário base, bons empregadores oferecem benefícios adicionais, como planos de saúde, seguro de vida, bônus, entre outros. No entanto, é importante considerar outros aspectos além do salário, tais como o ambiente de trabalho, as oportunidades de crescimento profissional, a carga horária, a cultura organizacional do hotel e a satisfação pessoal no desempenho dessas funções”, afirma.

Governantes: Uma profissão imprescindível para os hotéis Édson Machado: “As principais funções de um Governante Hoteleiro são como as peças fundamentais de um quebra-cabeça, cada uma desempenhando um papel vital na harmonia do todo”.

Em relação a programas de incentivo, a Rede Marriott oferece uma grande variedade de treinamento e desenvolvimento para seus funcionários em todos os níveis. Isso pode incluir treinamento em habilidades de liderança, gestão de equipe, técnicas de limpeza de alto padrão e outras habilidades relevantes para a Governança e para a gestão de pessoas. “Somos uma empresa que valoriza o crescimento interno e, portanto, temos um compromisso com o desenvolvimento de competências e habilidades de nossos profissionais, propiciando o avanço e a progressão de carreira dentro da empresa. Também temos uma plataforma de Recursos Online e Educação Continuada, com uma grande variedade de cursos e materiais de treinamentos disponíveis para as mais diversas áreas de conhecimento e atuação”, diz Karine. “Também conhecido como Chefe de andares, o Governante é o responsável pela supervisão da equipe de limpeza, garantindo que os quartos, áreas comuns e outras instalações do hotel sejam limpos e organizados de acordo com os padrões estabelecidos. Eles também podem ser responsáveis pelo treinamento da equipe, controle de estoque de materiais de limpeza e manutenção dos padrões de qualidade”, diz Sandro Araújo.

Governantes: Uma profissão imprescindível para os hotéis Sandro Araújo: “O Governante é o responsável pela supervisão da equipe de limpeza, garantindo que os quartos, áreas comuns e outras instalações do hotel sejam limpos e organizados de acordo com os padrões estabelecidos”

Principais funções de um Governante

Supervisão da equipe de limpeza: O Governante é responsável por liderar e supervisionar a equipe de camareiras e pessoal de limpeza para garantir que os quartos, áreas comuns e outras instalações do hotel sejam limpos e organizados.

Controle de estoque e distribuição de materiais de limpeza: Ele deve garantir que haja um suprimento adequado de produtos de limpeza e materiais necessários para a equipe realizar seu trabalho de forma eficaz.

Manutenção dos padrões de qualidade: O Governante deve garantir que os quartos e áreas públicas do hotel atendam aos padrões de qualidade estabelecidos pela gerência, garantindo assim a satisfação dos hóspedes.

Treinamento da equipe: Ele é responsável por treinar novos funcionários e garantir que todos os membros da equipe estejam atualizados com os procedimentos de limpeza e padrões de serviço do hotel.

Controle de custos: O Governante também é responsável por monitorar e controlar os custos relacionados à limpeza e manutenção do hotel, garantindo que os recursos sejam utilizados de forma eficiente.

Relacionamento com os hóspedes: Embora não seja sua principal função, o Governante muitas vezes interage com os hóspedes para garantir que suas necessidades sejam atendidas e resolver quaisquer problemas relacionados à limpeza ou manutenção dos quartos.

Governantes: Uma profissão imprescindível para os hotéis Karine Cassini: “Ao longo dos anos, as políticas de diversidade e igualdade de gênero tem contribuído para aumentar a presença de homens em cargos predominantemente femininos, e vice-versa”

Futuro da profissão

O futuro da profissão de Governante Hoteleiro parece ser de crescimento e de, a cada dia, surgir mais oportunidades para quem deseja ingressar e fazer carreira na área. Ariadne Silva nos diz que é importante entender que o mercado da hotelaria está aquecido e cheio de vagas. “No setor de Governança temos a oportunidade de conhecer a hospedagem por trás das cortinas, vivenciando uma operação que vai desde desenvolvimento de pessoas, controle da qualidade e dos custos, inventários, treinamentos e principalmente da experiência do cliente. Quem passa por esse setor com certeza adquire uma grande bagagem para gerenciar um hotel no futuro, pois conhece a operação a fundo. Minha dica é: estamos em uma nova era, que é a era das oportunidades, por isso não percam a chance de se aventurar nessa área que para mim é o coração do hotel, é sinônimo de hospitalidade e encantamento”, diz. “O caminho não é fácil, mas para os profissionais que desejam seguir essa trajetória, é importante se desenvolver e buscar fontes de conhecimento, como graduações em hotelaria, turismo ou administração, além de especializações na área”, afirma Dyonatha Rodrigues.

João Fonseca comenta que o futuro será de excelência e expansão, pois, “cada vez mais temos jovens curiosos com a Governança, e os que são destemidos conseguem fazer a sua estratégia de progressão em Governança. Somos muito mais que a entrega de espaços limpos e completos, somos a base da experiência de quem nos visita”, enfatiza. “Na Vila Galé Brasil, os dados indicam que 40% dos profissionais nos departamentos de Governança, que incluem Lavanderia e Serviços Gerais, são homens. Isso reflete uma tendência na indústria hoteleira brasileira e pode representar uma oportunidade para homens que desejam avançar e alcançar o cargo de Governante”, diz José Carlos Ferreira.

Édson Machado afirma que o futuro desta profissão é bastante promissor, onde várias redes hoteleiras estão crescendo de maneira quase exponencial, adaptando-se às demandas dos hóspedes e às tendências de mercado.  “A preocupação crescente com a sustentabilidade pode impulsionar mudanças nas práticas de limpeza e uso de materiais eco-friendly, como se a sustentabilidade fosse uma árvore se enraizando, exigindo adaptações por parte dos Governantes. Outro ponto é a tecnologia, que pode ser uma aliada nesse processo, facilitando a comunicação e organização das operações de limpeza e manutenção por meio da integração de sistemas de gestão hoteleira e aplicativos móveis. Governantes que estiverem preparados para abraçar novas tecnologias, práticas sustentáveis e aprimoramento profissional estarão bem-posicionados para ter sucesso e prosperar nessa profissão”, salienta.

Embora as mulheres sejam predominantes nessa área, é possível identificar uma diversificação de gênero, com mais homens ocupando cargos de Governante, devido a uma mudança nas percepções e igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. "Ao longo dos anos, as políticas de diversidade e igualdade de gênero tem contribuído para aumentar a presença de homens em cargos predominantemente femininos, e vice-versa. Essas políticas visam eliminar preconceitos de gênero e promover oportunidades iguais para todos, independentemente do sexo. Quando são implementadas políticas de igualdade de gênero, como programas de diversidade e inclusão, treinamentos sobre viés inconsciente e a promoção de uma cultura organizacional inclusiva, isso pode criar um ambiente de trabalho mais acolhedor e equitativo para pessoas de todos os gêneros. Como resultado, mais homens podem se sentir encorajados a considerar carreiras em áreas tradicionalmente femininas, como a Governança em hotéis. Da mesma forma, essas políticas também podem abrir oportunidades para mulheres em áreas que historicamente foram dominadas por homens. Isso pode acontecer através de programas de recrutamento direcionados, políticas de promoção interna baseadas no mérito e esforços para eliminar barreiras e estereótipos de gênero. Portanto, a política de igualdade de gênero não apenas beneficia um grupo específico, mas promove uma cultura de diversidade e inclusão que pode beneficiar a todos os funcionários e contribuir para um ambiente de trabalho mais justo e produtivo”, finaliza Karine Cassini.