O turismo brasileiro depende diretamente de praias preservadas, florestas protegidas, rios limpos e biodiversidade equilibrada. Assim, a responsabilidade ambiental no entorno passou a ser parte da estratégia de sobrevivência do negócio

A COP30 - Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, que aconteceu entre os dias 10 a 21 de novembro, em Belém (PA) recebeu muitas comitivas e chefes de estados de vários países do mundo. E deixou um recado bem claro: O compromisso e engajamento urgente dos países com ações para reverter o aquecimento global que está impactando a qualidade de vida de todos. Muitos temas foram debatidos, atualizadas normas, aprovado financiamento climático, novas metas a serem alcançadas, fortalecimento de parcerias para proteger florestas tropicais, implementações de novas tecnologias para o bem do planeta e acordos foram assinados, gerando a Carta de Belém. A hotelaria brasileira possui enorme potencial para ser protagonista na resposta às mudanças climáticas. Ao incorporar práticas sustentáveis, investir em inovação e atuar com responsabilidade socioambiental, o setor fortalece sua competitividade, reduz riscos, protege destinos turísticos e contribui ativamente para um futuro mais equilibrado. Mais do que uma tendência, é uma necessidade — e também uma oportunidade para liderar pelo exemplo, tornando a hospedagem um espaço de cuidado com o planeta.

O segmento hoteleiro ocupa uma posição estratégica nessas ações, pois depende diretamente de recursos naturais, destinos turísticos e infraestrutura resiliente, também influencia comportamentos de consumo e acolhe milhões de pessoas todos os anos. No Brasil — um dos países mais biodiversos do mundo, com grande vocação turística — o setor hoteleiro torna-se peça-chave na agenda de sustentabilidade e adaptação climática. Vale lembrar que os hotéis são estruturas intensivas em consumo de energia e isso inclui: climatização, iluminação, lavanderia, cozinha, áreas comuns e equipamentos eletrônicos. A transição para práticas de baixo carbono torna-se fundamental. Investimentos em painéis solares, sistemas inteligentes de gestão de energia, lâmpadas led, sensores de presença, isolamento térmico e uso de equipamentos de alta eficiência reduzem custos operacionais e emissões de gases de efeito estufa.

Além disso, muitos empreendimentos já avançam na compra de energia de fontes renováveis e na compensação de emissões.

O engajamento da hotelaria e de outros segmentos da economia para combater as mudanças climáticas é urgente. O Brasil enfrenta cada vez mais eventos extremos, como secas prolongadas e enchentes severas, a hotelaria, como grande consumidora de água, pode desempenhar papel determinante na preservação dos recursos hídricos. Entre as iniciativas mais relevantes estão o reuso de água cinza, captação de água de chuva, tecnologias de baixo consumo em torneiras e chuveiros, além de sistemas modernos de irrigação para jardins. Essas ações contribuem tanto para a adaptação às novas condições climáticas quanto para a redução da pegada ambiental do setor.

Hotelaria deve engajar para combater às mudanças climáticas Hotel Green dá uma grande contribuição para combater as mudanças climáticas do planeta (Foto - Google AI Studio)

Redução de resíduos e economia circular

A operação hoteleira gera resíduos de diversas naturezas — alimentares, recicláveis, orgânicos e até perigosos. Nesse ponto, os hotéis podem ir além do básico. Adoção de programas de compostagem, parcerias para reciclagem, eliminação gradual de plásticos descartáveis, amenities em dispensers recarregáveis e integração com fornecedores sustentáveis são caminhos já praticados por hotéis de referência no Brasil. O desafio vai além da gestão do lixo: envolve redesenhar processos para gerar menos resíduos desde o início.

O setor de Alimentos & Bebidas representa parte significativa da pegada ambiental de um hotel. Optar por fornecedores locais, ingredientes orgânicos, cadeias produtivas responsáveis e cardápios sazonais reduz impactos ambientais e fortalece economias regionais. A redução do desperdício de alimentos, tanto no preparo quanto no buffet, é outro ponto crítico — e cada vez mais apoiado por tecnologias de monitoramento e inteligência de dados. O turismo brasileiro depende diretamente de praias preservadas, florestas protegidas, rios limpos e biodiversidade equilibrada. Assim, a responsabilidade ambiental no entorno passou a ser parte da estratégia de sobrevivência do negócio. Muitos hotéis já atuam na recuperação de áreas degradadas, preservação de manguezais, educação ambiental de hóspedes, limpeza de praias, trilhas monitoradas e incentivo ao ecoturismo responsável.

A experiência do hóspede também se transforma: ele é convidado a ser parte ativa dessa cultura de cuidado. Sensibilizar quem circula pelo hotel — colaboradores, hóspedes, fornecedores — é uma das maiores forças transformadoras do setor. A hotelaria tem a capacidade de educar por meio da experiência: desde campanhas de redução de consumo de toalhas e energia até atividades que conectam visitantes com a natureza local. A cultura interna, por sua vez, torna-se um multiplicador de boas práticas ambientais e sociais. Certificações como Green Key, LEED, ISO 14001, bem como relatórios ESG, estão impulsionando uma nova cultura de transparência e compromisso ambiental no setor. Esses selos não apenas reforçam a credibilidade da hotelaria perante o mercado, como também criam referências claras de boas práticas, medição de resultados e evolução contínua.

Maior certificação internacional

O Green Key é a maior certificação internacional para empreendimentos turísticos, com mais de 8 mil estabelecimentos em 90 países. desde a inscrição até as auditorias locais. Segue rigorosamente as normas internacionais de certificação e está finalizando o alinhamento às novas diretrizes da União Europeia para alegações ambientais, válidas a partir de outubro de 2026. Por ser um dos programas da FEE (Foundation for Environmental Education) — organização sem fins lucrativos, no Brasil é operado pelo Instituto Ambientes em Rede, com sede em Florianópolis (SC), atuando em todo o território nacional. Até o último mês de novembro, o Brasil contava com 96 hotéis certificados e um atrativo turístico. Entre eles estão redes como Accor, Marriott e Hyatt, além de hotéis independentes como o Unique, o Bendito Cacau e o Juma Amazon Lodge, primeiro hotel de selva certificado pelo Green Key no mundo. Até mesmo a Ilha dos Arvoredos, localizada aproximadamente 1,6 km da Praia de Pernambuco, no Guarujá (SP), conseguiu essa importante certificação. Ela é uma ilha de caráter científico e turístico, projetada para ser autossustentável, com tecnologia para captação de energia solar e de água da chuva. Com o selo Green Key, a ilha se torna o primeiro e único atrativo turístico das Américas e do Hemisfério Sul a ter esta certificação ambiental internacional e a insere no mapa mundial do Turismo Sustentável.

Hotelaria deve engajar para combater às mudanças climáticas Fernanda Melo: “A certificação Green Key abrange 13 áreas de sustentabilidade, envolvendo desde o engajamento de equipe, hóspedes e direção, até gestão de recursos como água, energia e resíduos” (Foto - Divulgação)

Atualmente, 45 hotéis estão no pipeline do Green Key e devem concluir o processo até abril ou maio de 2026. Fernanda Melo, Coordenadora Nacional do Programa Green Key Brasil revela que para os hotéis solicitarem a certificação Green Key é necessário estar com toda a documentação legal regularizada e apresentar, no momento da inscrição, documentos como alvará, AVCB e Cadastur. “O Green Key disponibiliza todos os documentos com os critérios obrigatórios, e o hotel deve reunir evidências materiais para comprovar a conformidade de cada um. Os critérios são divididos em imperativos (que devem ser comprovados 100%) e critérios guia, que podem ser cumpridos progressivamente ao longo dos anos. A certificação abrange 13 áreas de sustentabilidade, envolvendo desde o engajamento de equipe, hóspedes e direção, até gestão de recursos como água, energia e resíduos. Muitos critérios incluem também o relacionamento com a comunidade local, valorizando produtores regionais, parcerias institucionais e boas práticas de responsabilidade social e corporativa”, explica Fernanda.

Ela lembra que os empreendimentos pagam uma anuidade, que varia conforme o número de unidades hoteleiras de R$ 2.180,00 para hotéis com até dez quartos até R$ 6.541,00 para hotéis com mais de 300 quartos. Além da anuidade, é cobrada a auditoria, no valor de R$ 1.635,00, e, dependendo da localização, também o transporte e a hospedagem do auditor. “Os pagamentos são realizados quando o hotel já reuniu as evidências e está pronto para agendar a auditoria de terceira parte, realizada presencialmente para comprovar cada evidência, fazer a inspeção visual, realizar testes e entrevistar equipes, garantindo que o empreendimento esteja realmente em conformidade. Geralmente o prazo para realizar todo esse trâmite varia conforme o engajamento da direção e da equipe do hotel, mas, em média, o processo leva de dois a quatro meses, podendo ser mais curto ou mais longo. E uma vez certificado, as auditorias são anuais, alternando entre presenciais e documentais (remotas). Assim, todos os hotéis certificados passam por avaliação todos os anos para garantir a manutenção da conformidade”, destaca Fernanda.

Para ela, esse investimento é bem acessível com alto retorno reputacional e elenca as vantagens: “O selo fortalece a reputação e atrai novos clientes. Auditorias frequentes, conduzidas por avaliadores independentes, garantem que o reconhecimento vem de práticas reais — não apenas de discurso. O selo amplia a exposição global dos empreendimentos e atrai viajantes interessados em opções sustentáveis. O programa incentiva o uso eficiente de água, energia e insumos, reduzindo o impacto ambiental e aprimorando a rentabilidade. A certificação é clara e visível para os hóspedes, tornando a sustentabilidade parte da experiência — o que gera fidelização e marketing positivo. O selo valoriza iniciativas sociais, parcerias e apoio à comunidade local, reforçando a imagem do hotel para um público cada vez mais consciente. Os hotéis certificados também recebem o selo de ecocertificação no Booking.com (parceiro institucional) e podem divulgar o Green Key em seus sites, redes sociais, materiais gráficos e outras mídias. A placa e o certificado ficam expostos na recepção, com atualização anual”, detalha Fernanda.

E ela conclui revelando que em alguns casos é necessário fazer investimentos para atender as normas, mas dependendo das instalações e práticas já existentes. “Exemplos comuns incluem instalar redutores de vazão, contratar empresas de coleta seletiva ou produzir materiais de comunicação visual. No entanto, não são investimentos altos nem obrigatórios para todos. O foco principal do Green Key é a mudança de comportamento, com ações mais sustentáveis, especialmente junto a equipes e hóspedes. Nossa projeção é finalizar em 2026 com cerca de 300 hotéis certificados, impulsionados pela crescente demanda, especialmente de grandes redes e associações como a BLTA”.

Desenvolvimento sustentável

A Accor tem um compromisso global de contribuir com o desenvolvimento sustentável e conta com parcerias com selos internacionais de sustentabilidade. No Brasil, Colômbia, México e Peru, o principal parceiro certificador global é a Green Key. Já nos Estados Unidos e Canadá, o parceiro certificador é o Green Key Global, enquanto na Argentina e Chile, a Accor conta com suporte dos selos locais Hoteles Más Verdes e Sello S, respectivamente. Atualmente, a Accor possui mais de 150 hotéis nas Américas com certificações de sustentabilidade reconhecidas pelo GSTC - Global Sustainable Tourism Council.

Antonietta Varlese, Vice-Presidente Sênior de Sustentabilidade e Comunicação da Accor Américas na Divisão Premium, Midscale & Economy destaca que as certificações de sustentabilidade já trouxeram conquistas significativas para a Accor. “Isso inclui tanto no aprimoramento das práticas ambientais, sociais e de governança corporativa, quanto na percepção de valor pelos hóspedes. Ao adotar padrões internacionais rigorosos, que incluem eficiência energética, gestão de água e resíduos, redução de plásticos e educação ambiental, os hotéis certificados elevam seu desempenho em sustentabilidade. Com isso, contribuem diretamente para as metas globais de sustentabilidade do Grupo. Além disso, os selos de sustentabilidade reforçam a credibilidade internacional da Accor e fortalecem o engajamento das equipes, que passam a trabalhar com processos mais estruturados e sustentáveis. Do ponto de vista do cliente, o impacto é ainda mais evidente: pesquisas globais realizadas pela Accor, em parceria com a Booking e a Universidade de Surrey, mostram que 80% dos turistas reconhecem a importância do turismo sustentável e preferem marcas que assumem compromissos reais com o meio ambiente. A pesquisa também mostra que 65% dos viajantes preferem acomodações com certificação ou selo ambiental”, assegura Antonietta.

Hotelaria deve engajar para combater às mudanças climáticas Antonietta Varlese: “As certificações de sustentabilidade representam mais do que um selo de aprovação” (Foto - Divulgação)

Ela complementa dizendo que: “As certificações de sustentabilidade representam mais do que um selo de aprovação. Elas comprovam o compromisso ambiental dos hotéis e fortalecem a confiança de consumidores conscientes que estão cada vez mais preocupados com o impacto ambiental de suas viagens. As certificações também se traduzem em benefícios operacionais, como a redução de custos a longo prazo e um aumento da atratividade para investidores que buscam aliar rentabilidade a impacto positivo”. E diante da COP30, que aconteceu em Belém (PA), Antonietta lembra que todos os hotéis da Accor na cidade já operam sem plásticos de uso único, utilizam energia 100% renovável, adotam soluções de eficiência hídrica e energética e contam com a certificação de sustentabilidade Green Key. “Para preparar nossos hotéis para receber os hóspedes durante a COP30, realizamos um treinamento de culinária plant-based em parceria com o programa EscolhaVeg da Mercy For Animals, o workshop contou com a presença de uma chef local, valorizando sabores e insumos da culinária paraense e reforçando nosso compromisso com a promoção da boa alimentação. Também lançamos, em parceria com a startup francesa Fullsoon, uma inovação nos restaurantes dos nossos hotéis para calcular a pegada de carbono de cada alimento servido, atribuindo selos de impacto climático que orientam escolhas mais conscientes dos clientes e estimulam os chefs a criar receitas de baixo carbono. A iniciativa utiliza inteligência artificial para calcular o ciclo de vida dos ingredientes que compõem as receitas, da produção ao preparo. Apresenta de forma visual a quantidade de CO2 gerada por porção, utilizando cinco selos que indicam diferentes faixas de emissão: verde (menos de 500 g), verde claro (500 g a 1 kg), laranja (1 kg a 2 kg), vermelho claro (2 kg a 3 kg) e vermelho escuro (mais de 3 kg). Os selos são exibidos nas placas do buffet, ao lado do nome de cada item, buscando incentivar os clientes a fazer escolhas mais conscientes. Além disso, a plataforma oferece insights detalhados sobre os ingredientes, permitindo que os chefs das unidades ajustem receitas e criem opções de baixo carbono. A Accor e sua marca Novotel aproveitou também a edição da COP 30 e apresentou a intervenção artística “A Onda” durante a Virada Sustentável Belém 2025. A obra retrata uma onda de três metros feita de itens de plástico coletados por colaboradores voluntários e convida o público a refletir sobre consumo consciente e preservação dos oceanos. A ação está conectada com a parceria global do Novotel com a WWF em prol da redução da poluição plástica, proteção da vida marinha e incentivo a cardápios mais sustentáveis”, conclui Antonietta.

Hotelaria em Patrimônio Mundial Natural

Manter a operação de um hotel em Fernando de Noronha respeitando a rigorosa legislação ambiental é um grande desafio. Esse é um dos destinos mais cobiçados do litoral brasileiro, santuário da vida marinha, tombado como Patrimônio Mundial Natural pela Unesco. Por isso, é necessário estar planejando sempre toda a logística do que entra e sai da ilha, incluindo até mesmo o lixo produzido no local. O Nannai Noronha tem uma imensa preocupação com a sustentabilidade. Energia solar, torre de geração eólica, estação de tratamento de efluentes, reciclagem das águas das chuvas, horta orgânica e pomar fazem parte do projeto que visa o equilíbrio e o respeito pelo meio ambiente. O luxuoso empreendimento é parceiro da Reeecicle, uma empresa que trabalha na coleta de lixo eletrônico. Quando há necessidade de troca de qualquer eletroeletrônico, que não esteja na garantia e que não valha mais a pena o conserto, eles separam e solicitam a coleta. Também possui parceria com o Grupo Seiva. Todas as garrafas são trituradas no hotel, guardadas para evitar dengue e acidentes, e o parceiro destina os resíduos para a fabricação de novas garrafas. Outro parceiro é o Lindomar, um pequeno empreendedor local, que atua na reciclagem de papel, plástico e metal. Por todo o hotel há captação de águas fluviais e é utilizada energia solar e eólica. Há um projeto em andamento para viabilizar o tratamento da água do sumidouro para ser usada no jardim, ou seja, toda a água que vem proveniente de esgoto será tratada e reutilizada para rega.

Hotelaria deve engajar para combater às mudanças climáticas O Nannai Noronha está situado a poucos metros da Baía do Sueste, uma das áreas mais protegidas da ilha (Foto - Divulgação)

Hotelaria de selva

O Juma Amazon Lodge fica cerca de 100 km ao sudeste de Manaus, em uma área remota e preservada da Floresta Amazônica, às margens do Rio Negro. Manter esse patrimônio conservado é uma das grandes preocupações desse empreendimento que foi o primeiro hotel de selva das Américas a receber o Selo Green Key. “O nosso hotel foi projetado para gerar o menor impacto possível na floresta e este reconhecimento reitera o nosso compromisso com o meio ambiente. Este selo não é apenas um reconhecimento; é a validação de que nossa hospitalidade é 100% comprometida com o turismo regenerativo e com a Amazônia”, enfatiza Caio Fonseca, Diretor do Juma Hotéis.

Hotelaria deve engajar para combater às mudanças climáticas O empreendimento conta com energia 100% limpa, gerada por uma usina fotovoltaica (Foto - Divulgação)

Ele lembra que o empreendimento conta com energia 100% limpa, gerada por uma usina fotovoltaica própria contando com 333 painéis e capacidade de 185 kWp, construída a 11 metros do solo para evitar o desmatamento. Possui gestão de Impacto Zero com sistema completo de tratamento de esgoto e biodigestor para biogás. Ele é alimentado com resíduos orgânicos e gera biogás e fertilizante líquido, reduzindo até 8 toneladas de emissões de carbono por ano. O esgoto do hotel é tratado por um eficiente sistema que reúne os tipos de tratamento mais utilizados mundialmente: separação de gordura e óleo, separação de sólidos, tratamento anaeróbio, tratamento aeróbio com difusores bolha fina, decantação, filtração biológica, reuso do lodo e desinfecção por radiação ultravioleta. “Mais de 90% dos colaboradores do hotel é composto de pessoas da região, o que contribui para a geração de renda na própria comunidade. São dadas palestras aos ribeirinhos, passando por conteúdos ligados ao meio ambiente, como por exemplo: aproveitamento do lixo orgânico, coleta seletiva, redução de desastres ambientais, biodiversidade, construção de um minhocário, etc. Realizamos ainda ações de solidariedade, como o patrocínio à doação de livros, brinquedos e roupas para as crianças durante o ano. Participamos também de leilões beneficentes por meio de doação de pacotes de hospedagem”, conclui Caio.

Práticas sustentáveis

Outra chancela importante de selo internacional de sustentabilidade, e quem acaba de conquistar é o hotel Golden Tulip Porto Vitória (ES). Ele recebeu no último mês de novembro o selo internacional ‘Hotel Sustainability Basics 2025’ concedido pelo WTTC - World Travel & Tourism Council Limited - Conselho Mundial de Viagens e Turismo, em parceria com Green Key e SGS. O certificado reconhece o hotel como referência em indicadores de sustentabilidade autenticados globalmente na indústria hoteleira de hospitalidade. Para receber a chancela, o hotel passou por uma auditoria independente e atendeu a rigorosos critérios técnicos de avaliação de medição e redução do consumo de energia, água, resíduos e emissões de carbono. Entre as ações sustentáveis implementadas pelo hotel estão: Descarte sustentável de óleo de cozinha; Gestão de Resíduos, com separação em diferentes categorias, como orgânicos não recicláveis e recicláveis, como papelão; Redução do consumo de plástico, por meio de disponibilização de água em lata, bebedouro na área de lazer, mexedores de bambu e canudo 100% reciclável; Uso e investimento em equipamentos ecológicos de maior eficiência energética, reduzindo o consumo de gás.

O Golden Tulip Porto Vitória passou por rigorosos processos e auditoria independente para o reconhecimento da certificação internacional (Foto - Divulgação) O Golden Tulip Porto Vitória passou por rigorosos processos e auditoria independente para o reconhecimento da certificação internacional (Foto - Divulgação)

O Bendito Cacao Resort & Spa, localizado em Campos do Jordão, recebeu em 2024 a certificação Green Key, sendo o primeiro empreendimento da cidade a conseguir esse selo. Os preparativos para a certificação do Bendito Cacao começaram em setembro de 2023 e envolveu uma auditoria detalhada em todas as instalações do hotel. Entre as maiores ações implementadas pelo resort e boas práticas adotadas estão a redução significativa de descartáveis, horta própria sem agrotóxicos e fertilizantes industriais, a criação de uma área verde para o plantio de árvores pelos hóspedes e a realização de workshops para divulgar o trabalho de pequenos produtores da Serra da Mantiqueira e apoiar a venda de seus produtos.

O Grand Hyatt São Paulo renovou nesse ano sua certificação Green Key. A conquista reforça o compromisso contínuo do hotel com práticas sustentáveis e a redução do impacto ambiental de suas operações. Entre as ações em destaque está a abordagem consciente na oferta gastronômica, que prioriza ingredientes de fornecedores responsáveis, como ovos cage-free, chá orgânico, carne bovina de pasto, bacon sem nitrito e nitrato, frutos do mar com certificação ASC e ostras com laudos de sustentabilidade. O empreendimento também monitora sua pegada de carbono e busca ativamente a neutralização de emissões, priorizando o uso de energia adquirida no mercado livre, estimulando a escolha de fontes mais limpas. Outra frente relevante é a mobilidade sustentável, com disponibilização de estação de recarga para veículos elétricos. Além disso, o hotel realiza programas abrangentes de reciclagem de resíduos, logística reversa de cápsulas de café e eliminação do uso de garrafas plásticas em eventos, substituindo-as por opções em vidro ou embalagem cartonada.

Hotelaria deve engajar para combater às mudanças climáticas O Rosewood São Paulo conta com uma torre com várias espécies nativas da mata atlântica (Foto - Rubens Kato)

Já o luxuoso hotel Rosewood São Paulo conquistou recentemente a certificação de sustentabilidade multisite concedida pela Bureau Veritas, a entidade de certificação credenciada pelo GSTC - Global Sustainable Tourism Council, após auditorias rigorosas e bem-sucedidas. A certificação confirmou que os padrões operacionais e a experiência dos hóspedes do hotel estão alinhados com os quatro principais critérios do GSTC: gestão sustentável eficaz, benefícios socioeconômicos para as comunidades locais, preservação do patrimônio cultural e responsabilidade ambiental. Um dos principais diferenciais do Rosewood Hotel Group é seu compromisso em garantir que as iniciativas de sustentabilidade e impacto social não sejam apenas diretrizes. Mas pilares fundamentais incorporados em cada detalhe de suas propriedades – desde criações gastronômicas ecologicamente responsáveis e programas educativos para hóspedes até elementos de design sustentável que celebram a cultura e a arte locais, além de parcerias que impulsionam a economia das comunidades. Desde sua inauguração, em 2022, o Rosewood São Paulo se destaca pelo compromisso com a sustentabilidade, tanto ambiental quanto cultural. Instalado em um edifício histórico restaurado, o hotel adota práticas inovadoras para regeneração da biodiversidade, incluindo um programa de reflorestamento com mais de 250 espécies nativas da Mata Atlântica e um design biofílico que integra a natureza ao ambiente. Além disso, a construção utilizou madeira e mármore 100% brasileiros, e grande parte do mobiliário é de origem local, reaproveitado ou reciclado. O hotel também opera exclusivamente com energia 100% renovável.

Hotelaria deve engajar para combater às mudanças climáticas O ESG muitas vezes é visto como um custo ou uma ação de marketing, mas é um modelo de negócio lucrativo (Foto - Divulgação)

Transformar o ESG em um modelo de negócio central e lucrativo

Em um mercado onde o ESG (Ambiental, Social e Governança) muitas vezes é visto como um custo ou uma ação de marketing, a administradora Trul Hotéis está propondo o oposto: transformar o ESG em um modelo de negócio central e lucrativo. A empresa anunciou recentemente o Programa VIA (Valor, Impacto e Ação), um projeto que foge do discurso tradicional de sustentabilidade. Trata-se de um ecossistema de inovação que será implementado a partir de 2026. Na prática, é uma plataforma digital desenvolvida em parceria com a consultoria Simbiose, que irá conectar hotéis e toda a sua cadeia de fornecedores para diagnóstico, capacitação e, o mais importante, certificação ESG em diferentes níveis (Bronze a Platinum). O objetivo da Trul Hotéis não está apenas buscando um selo para si, mas criando um modelo de governança para engajar e certificar todo o seu entorno, transformando propósito em performance. “Estamos implementando uma plataforma que conecta propósito e performance. O VIA é uma nova forma de pensar a operação hoteleira — mais colaborativa, consciente e sustentável. Queremos inspirar todo o setor a evoluir conosco”, afirma André Bekerman, Diretor geral da Trul Hotéis.

Segundo ele, o ecossistema VIA foi desenhado para ser uma rede sinérgica de parceiros, na qual cada participante — seja hotel ou fornecedor — tem acesso a capacitação contínua, certificação ESG, ferramentas de diagnóstico e planos de ação personalizados. O sistema será implantado progressivamente a partir do início de 2026, com um cronograma que inclui workshops online e adesões em ondas. O projeto oferece gestão ESG completa, com mitigação de riscos regulatórios e fortalecimento da reputação da marca; capacitação de fornecedores com acesso à plataforma EAD e certificação reconhecida; aumento do capital relacional ao aproximar marcas, investidores e parceiros sob a curadoria da Trul; e crescimento sustentável ao integrar eficiência operacional, inovação e impacto social. A plataforma VIA será o centro operacional do projeto, funcionando como um hub digital de gestão, capacitação e conexão entre os membros do ecossistema. Cada empresa poderá acompanhar seu progresso, aplicar melhorias e alcançar certificações em níveis Bronze, Silver, Gold e Platinum, conforme o desempenho em critérios de governança, compliance e sustentabilidade. O programa também conta com sistema de reconhecimento gamificado e plano de suporte contínuo, assegurando a evolução constante dos participantes. “O mercado ainda está aprendendo o que é ESG na prática. O VIA chega para tornar esse conceito tangível, criando uma rede de negócios com propósito e rentabilidade. O impacto será sentido em toda a cadeia — do fornecedor ao hóspede”, completa Bekerman.

Hotelaria deve engajar para combater às mudanças climáticas André Bekerman: “O mercado ainda está aprendendo o que é ESG na prática” (Foto - Divulgação)

De acordo com dados levantados na base conceitual do projeto, hotéis que adotam práticas ESG têm até 78% mais probabilidade de serem escolhidos por hóspedes, registram crescimento de 19% nas diárias vendidas e aumento médio de 15% a 20% na tarifa média diária após dois anos de implantação de programas de sustentabilidade. Além de melhorar a performance operacional, o VIA fortalece indicadores como NPS, RevPAR e receita por quarto disponível, ao estimular a fidelização dos hóspedes e a preferência por marcas com práticas transparentes e consistentes. “A hotelaria tem sede de mudança ao mesmo tempo que tem desafios culturais diante a necessidade em inovar. Mas o que faz uma marca se tornar relevante é pensar e agir de acordo com suas convicções .E o que esse projeto faz é criar um caminho, uma VIA onde através da Trul, todo o mercado e a cadeia de suprimentos seja diretamente beneficiada com as trocas de conhecimentos guiadas por uma Plataforma que tem como principal objetivo: Unir e fortalecer as empresas para que o crescimento seja sustentável no sentido literal da palavra”, afirma Gustavo Corrêa, CEO da Simbiose IA e Diretor de Operações ESG da NAI-IT.

Esse movimento marca o início de algo que promete redefinir o papel da hotelaria brasileira na agenda ESG, posicionando a Trul Hotéis como uma das empresas mais inovadoras e relevantes do setor. “O VIA não é um projeto de marketing, é uma mudança de mentalidade. É a Trul assumindo o protagonismo de um novo tempo, no qual a relevância da marca nasce da capacidade de gerar impacto positivo e valor compartilhado”, conclui Bekerman.