Esse novo conceito cresce no Brasil e combina autonomia, conforto e cuidados personalizados para o público 60+

Com o envelhecimento acelerado da população brasileira, cresce também a busca por novas formas de viver a chamada ‘terceira idade’. Inspirado em modelos internacionais, o conceito de Senior Living — moradia planejada para pessoas idosas — vem ganhando espaço no Brasil, combinando autonomia, conforto e cuidados personalizados.

Diferente dos tradicionais asilos ou casas de repouso, os empreendimentos de Senior Living são pensados para promover qualidade de vida e convivência ativa. As estruturas variam conforme o nível de independência dos moradores, indo de residências totalmente autônomas a espaços com assistência integral.

Nos formatos mais leves, conhecidos como Independent Living, os idosos vivem em apartamentos ou vilas com serviços opcionais, como limpeza, lazer e alimentação. Já o Assisted Living atende quem precisa de apoio em tarefas diárias, contando com equipe de cuidadores e enfermagem 24 horas. Há ainda as unidades de Memory Care, voltadas a pessoas com Alzheimer ou outras demências, com acompanhamento especializado e ambiente seguro.

Segundo especialistas, o setor tende a crescer nos próximos anos. Além do aumento da expectativa de vida, o Brasil vive uma mudança cultural: famílias menores e adultos mais velhos que preferem manter sua independência. O Senior Living representa uma nova fase do envelhecer, mais ativa, social e planejada.

Empreendimentos do tipo já começam a surgir em grandes cidades brasileiras, com projetos que unem design contemporâneo, acessibilidade e bem-estar. Alguns oferecem academias, ateliês, jardins terapêuticos e até parcerias com operadoras de saúde.

Mais do que um serviço, o Senior Living aponta para uma transformação na forma como a sociedade encara a longevidade. Envelhecer pode ser sinônimo de liberdade e propósito.

Senior Living: um novo conceito de moradia para a longevidade Segundo o Censo/IBGE (dados do Censo 2022 e projeções), a parcela de pessoas com 60+ já está na casa dos 32 milhões (Foto - Freepik.com)

No Brasil o Senior Living é um movimento relativamente recente, com mais visibilidade a partir da década de 2010 e aceleração na última janela de anos devido ao envelhecimento populacional e à “economia prateada”. Incorporadoras e gestoras começaram a adaptar o modelo: condomínios 60+, residenciais sênior com hotelaria e serviços e operadores de saúde que combinam home care e unidades de transição.

Segundo o Censo/IBGE (dados do Censo 2022 e projeções), a parcela de pessoas com 60+ já está na casa dos 32 milhões (15,6% em 2022) e a tendência é subir fortemente nas próximas décadas, criando demanda estrutural por moradia e serviços para idosos.

Principais formatos do Senior Living

o      Independent living — moradia autônoma com amenidades (restaurante, lazer, limpeza).

o      Assisted living — suporte em atividades da vida diária (medicação, higiene).

o      Memory care — unidades especializadas para demência/Alzheimer.

o      Continuing care retirement communities (CCRC) — oferta integrada com níveis crescentes de cuidado conforme necessidade.

Crescimento no Brasil

Ao contrário de outros mercados já consolidados, o conceito de Senior Living no Brasil é mais recente. Isso acontece pelo envelhecimento populacional no País, com a média de idade aumentando. “Estamos vivendo o início de um ciclo de crescimento, pois o conceito nasce quando o envelhecimento populacional deixa de ser uma estatística e passa a ser uma realidade nas famílias”, diz Martin Henkel, CEO da SeniorLab, empresa que ajuda marcas, produtos e serviços a entender, atender, conquistar e vender ao consumidor sênior. “Esse é um modelo de desenvolvimento imobiliário-turístico que, de cinco anos para cá, passou a ter muito mais procura, muito mais desenvolvimento, no País inteiro, especialmente nas cidades grandes e médias. Isso porque a população envelheceu e a evolução da medicina tem ajudado muito nesse aspecto”, afirma Caio Calfat, Engenheiro, Diretor geral e fundador da Caio Calfat Real Estate Consulting, empresa que realizou um estudo sobre Senior Living no Brasil em parceria com a Brain. “O público 60+ era um segmento que até pouco tempo atrás era desatendido em vários aspectos, especialmente em moradia. Hoje em dia, nós já temos esse mercado iniciando”, completa.

Na opinião de Rodrigo Pique, Sócio do Grupo RAP, o Senior Living saiu do papel e entrou de vez no mapa dos grandes players. “O envelhecimento da população é um dado, mas o comportamento desse público mudou muito. Eles buscam independência, querem viver bem, socializar, ter conforto, segurança e serviços à mão. E o mercado está começando a entender e se adaptar a isso. Vemos um amadurecimento rápido: mais projetos surgindo, investidores atentos, operadores especializados, e, claro, um consumidor mais consciente do que deseja. Ainda há muito espaço para evoluir, mas é um segmento que já entrou em rota de crescimento consistente”, revela.

Senior Living: um novo conceito de moradia para a longevidade Martin Henkel: “Estamos vivendo o início de um ciclo de crescimento, pois o conceito nasce quando o envelhecimento populacional deixa de ser uma estatística e passa a ser uma realidade nas famílias” (Foto - Divulgação)

Atualmente, há exemplos de empreendimentos com o conceito de Senior Living de alto nível em operação, como o São Pietro Sênior, em Porto Alegre, e alguns em construção. “Este não é um fenômeno exclusivo das capitais, outro empreendimento que dou consultoria é o Serrana Living, em Sete Lagoas (MG). O terreno com vista para a Serra, o imenso jardim interno que separa as alas, e toda a concepção dos apartamentos individuais é horizontal. O empreendimento é zero degrau, um detalhe que amplia a acessibilidade, conforto e segurança dos residentes”, complementa Henkel.

Porém, segundo o especialista, ainda estamos muito longe do que vemos em mercados maduros como os Estados Unidos. Lá, esse setor já tem mais de 40 anos de evolução, com formatos variados — de comunidades independentes até estruturas híbridas com assistência leve ou integral. “No Brasil, ainda estamos na fase de provar o conceito, adaptando-o à cultura local, que é muito familiar, e ajustando o modelo de negócio à nossa realidade econômica. O custo escola para encontrar o modelo de negócio e formato de operação é alto e demorado. Por isso é vital aos novos entrantes se cercarem de especialistas com vivência e cases. Depois de construído, o preço da adaptação é alto e pode comprometer a proposta e atingimento do público alvo residente”, ele alerta. “Diria que estamos hoje no que seria o ‘capítulo dois’ dessa história, pois saímos da curiosidade e entramos na fase da viabilidade e dos primeiros ciclos completos de operação. Agora o desafio é escalar com qualidade, sustentabilidade e experiência acumulada”, afirmou Martin.

Na opinião de Eliz Taddei, Fundadora e Ceo da Trevoo, plataforma especializada no público 60+, em 2018, falar de Senior Living no Brasil ainda era quase um ato de evangelização. “O tema era pouco compreendido, havia muitas confusões entre residência sênior, ILPI tradicional e modelos internacionais. De lá para cá, o que vimos foi um amadurecimento consistente não só na demanda, mas na qualidade da oferta e na profissionalização dos operadores”, menciona. Ela conta ainda que, nos próximos anos, teremos uma sociedade majoritariamente longeva, com famílias menores, maior dependência de serviços formais e uma demanda crescente por soluções de moradia e cuidado bem estruturadas. “Nesse contexto, o Senior Living no Brasil entra em uma fase de expansão inevitável e amadurecimento acelerado. Vemos operadores se profissionalizando, investidores estudando o segmento com profundidade e famílias entendendo que moradia, cuidado e hospitalidade podem e devem caminhar juntos. Ainda estamos nos estágios iniciais, mas com movimentos concretos, sólidos e alinhados às necessidades reais da população que estamos construindo para o futuro”, salienta.

O mercado de Senior Living no Brasil vive um momento de expansão consistente e amadurecimento acelerado, na opinião de Daniel Giaccheri, Sócio-fundador da São Pietro Sênior. Segundo ele, o País já soma mais de 33 milhões de pessoas com 60 anos ou mais — cerca de 15% da população — e essa proporção deve ultrapassar 25% até 2040. “Esse movimento impulsiona diretamente a economia prateada, que já movimenta aproximadamente R$ 2 trilhões ao ano. Outro fator relevante é a inversão da pirâmide etária no Rio Grande do Sul, demonstrando o espaço e a ascensão da economia prateada no cenário nacional”, conta.

Apesar desse crescimento, de acordo com Daniel, o mercado ainda exige um nível elevado de especialização, tanto em protocolos clínicos quanto em abordagem emocional, cognitiva e social, e ainda carece de profissionais preparados para atuar com o público 60+. “É justamente aqui que a São Pietro Sênior se diferencia: adotamos um modelo de cuidado 360°, desenvolvido internamente ao longo de anos de atuação em saúde, que combina equipe multidisciplinar, tecnologia assistiva, infraestrutura de alto padrão e protocolos próprios focados nas particularidades da longevidade. Esse conjunto de fatores garante consistência e qualidade em um segmento que ainda está se estruturando no Brasil”, revela.

Para Luciana Vieira, Diretora de Incorporação da Vitacon, o mercado sênior está em um momento claro de crescimento e aceleração, impulsionado tanto por fatores demográficos quanto por mudanças sociais, econômicas e culturais. “O patamar do empreendimento sênior no Brasil ainda está embrionário em comparação com os Estados Unidos, mas com muito potencial de crescimento, devido à grande demanda que o País apresenta”, ela diz. A Vitacon está com um empreendimento nesse segmento a ser lançado em 2026 e outros terrenos em estudos para atuação com Senior Living.

Senior Living: um novo conceito de moradia para a longevidade Rodrigo Pique: “Acreditamos que esse segmento tem potencial para transformar vidas, e sabemos que podemos elevar o padrão de entrega dos empreendimentos de Senior Living no Brasil” (Foto - Divulgação)

Saúde e assistência

A proximidade dos empreendimentos Senior Living com hospitais e serviços de saúde é fundamental para garantir segurança, agilidade e continuidade no cuidado ao público 60+. “No nosso modelo, essa relação vai além da localização física: a São Pietro Sênior desenvolveu um sistema de cuidado integral e completo que permite acompanhar a saúde do residente de forma contínua dentro do próprio empreendimento”, afirma Daniel Giaccheri.

Eles contam com equipe multidisciplinar completa e tecnologias assistivas que dão suporte ao monitoramento diário, como prontuário eletrônico integrado a um aplicativo de gestão para instituições de longa permanência de pessoas 60+, dispositivos de segurança com alerta automático de queda, colares com GPS para emergências externas e protocolos clínicos que acompanham cada morador desde o primeiro dia. A infraestrutura também reforça esse cuidado, com postos de enfermagem em todos os andares, sala azul para urgências e suporte clínico permanente. “Esse conjunto permite que o residente tenha assistência qualificada e preventiva, enquanto a proximidade com estruturas hospitalares garante mais rapidez e eficiência quando é necessário ampliar a linha de cuidado”, diz o Sócio-fundador da São Pietro Sênior.

A ideia de criar o empreendimento surgiu de um movimento natural dentro do Grupo. Como uma instituição com forte atuação em saúde e referência em oftalmologia na região Sul, eles acompanharam de perto as transformações demográficas e perceberam a ascensão acelerada da economia prateada no Brasil. “Esse cenário deixou evidente a necessidade de soluções de moradia que unissem cuidado especializado, qualidade de vida e prevenção”, pontua Giaccheri.

Ao estudar modelos internacionais, especialmente dos Estados Unidos, a São Pietro Sênior identificou práticas e estruturas que poderiam ser adaptadas e aprimoradas para a realidade brasileira. “A partir disso, desenvolvemos uma metodologia própria, com um conceito de residência que prioriza acolhimento, autonomia e dignidade na longevidade. Foi assim que nasceu o empreendimento São Pietro Sênior, com a proposta de se tornar referência nesse nicho e elevar o padrão do Senior Living no País”, destaca. “No processo de admissão, por exemplo, o novo morador é acompanhado por sete dias para construção de um plano individual, respeitando rotina, necessidades e preferências”, informa Giaccheri.

Essa metodologia se apoia em uma infraestrutura projetada para a longevidade. Com 6 mil m² distribuídos em cinco pavimentos, o São Pietro Sênior oferece 114 suítes privativas, além de ambientes pensados para bem-estar, convivência e suporte clínico.

A socialização também é um diferencial decisivo. “Acreditamos que cultivar vínculos, conviver em comunidade e participar de experiências coletivas fortalece a saúde emocional, estimula capacidades cognitivas e contribui para uma longevidade mais ativa e significativa. Por isso, disponibilizamos uma ampla programação de atividades em grupo, como musicoterapia, rodas de leitura, aulas de filosofia, história da música e outras vivências que ampliam repertório, promovem interação e reforçam o senso de pertencimento dos moradores”, diz o Sócio-Fundador.

Oportunidade de negócio

Para o Grupo RAP, entrar no mercado de Senior Living foi quase inevitável, pois sempre trabalham com projetos que vão além da construção: entender o produto, pensar na experiência e entregar empreendimentos realmente prontos para operar. “E quando começamos a observar o movimento da longevidade no Brasil, percebemos um espaço enorme para contribuir. O público sênior de hoje é ativo, exigente, busca autonomia e qualidade de vida. Só que o mercado ainda oferece poucas soluções completas para esse perfil. Vimos aí uma oportunidade e, ao mesmo tempo, um propósito, que era usar nossa expertise em implantação e ambientação para criar espaços mais humanos, funcionais e preparados para a nova realidade do envelhecimento no País. Entramos porque acreditamos que esse segmento tem potencial para transformar vidas, e porque sabemos que podemos elevar o padrão de entrega dos empreendimentos de Senior Living no Brasil”, diz Rodrigo Pique.

O Grupo RAP firmou uma parceria com a plataforma Trevoo, que faz uma conexão de idosos e suas famílias com instituições de longa permanência para o público 60+. “A parceria com a Trevoo foi uma combinação perfeita. Eles têm uma visão muito profunda do comportamento e das necessidades da longevidade. Nós temos a capacidade de tirar essa visão do papel, fazendo a implantação completa dos espaços deixando tudo pronto para receber os moradores. Com essa união, entregamos projetos com mais propósito, mais eficiência e mais inteligência”, conta Rodrigo. “E o mercado ganha porque passa a ter uma solução completa: conceito, curadoria, projeto e implantação conversando entre si, algo fundamental para empreendimentos que exigem cuidado, precisão e sensibilidade”, completa. “A Trevoo sempre foi, essencialmente, uma empresa de conteúdo estratégico, inteligência de mercado e conexão entre atores do ecossistema da longevidade. O que a RAP Engenharia traz é a força da execução física, a capacidade de transformar visão em obra, conceito em planta, e a necessidade do operador em produto incorporável”, diz Eliz Taddei.

A união das duas empresas criou algo inédito: um pipeline completo que vai do entendimento profundo do idoso brasileiro até a entrega técnica de empreendimentos preparados para operar com qualidade, segurança e eficiência. A RAP agrega engenharia especializada, domínio de normas, expertise construtiva e um olhar técnico sobre viabilidade e padronização. “A Trevoo agrega conhecimento de comportamento, operação, jornadas, modelos de negócio e experiência do usuário sênior. E o mercado ganha um referencial, com projetos bem pensados, viáveis, escaláveis e verdadeiramente adaptados à longevidade brasileira”, ela completa.

Já o Vitacon Senior powered by Housi, fica localizado no bairro de Higienópolis, em São Paulo, e um dos grandes diferenciais são os pacotes dos serviços oferecidos. “As áreas comuns são desenvolvidas para atender a geração prateada, buscando integração e sociabilização entre os espaços, atrelando qualidade de vida e bem-estar. As unidades também foram pensadas para atender esse público, projetadas com acessibilidade e segurança”, conta Luciana Vieira.

Senior Living: um novo conceito de moradia para a longevidade Luciana Vieira: “As áreas comuns são desenvolvidas para atender a geração prateada, buscando integração e sociabilização entre os espaços” (Foto - Divulgação)

Vantagens

Para os futuros moradores, o Senior Living traz como principais vantagens um ambiente projetado para acessibilidade e segurança; oferta de serviços como alimentação, limpeza, lazer e socialização, que preservam autonomia; a possibilidade de transitar para níveis maiores de cuidados sem mudar de comunidade (em certos modelos); o foco em bem-estar, atividades e prevenção.

De acordo com Martin Henkel, o maior benefício é a liberdade com segurança, pois muita gente ainda confunde Senior Living com as antigas casas de repouso ou asilos, mas a lógica é outra, já que o conceito fala de vida ativa, autonomia e convivência entre pessoas de mesmo interesse e nível cultural. “Recentemente, durante uma consultoria, eu resolvi que deveria morar em um Senior Living para uma experiência completa 360º. Preciso dizer que eu deveria ter feito isto anos antes. Foi absolutamente transformador e me levou a um grau de intimidade e vivência com o tema, com as pessoas que moram lá, com os familiares que interagem com o empreendimento e com a equipe assistencial”, nos conta.

Ainda, segundo Henkel, bons projetos de Senior Living tem um foco especial em garantir a intimidade e a privacidade das pessoas, mas oferecer espaços, momentos e atividades que integrem, divirtam, socializem e estimulem a independência. “As pessoas redescobrem o prazer das pequenas coisas, caminhar pelas amplas áreas, receber amigos ou familiares para almoçar, um chá da tarde ou jantar. Participar de atividades, sem se preocupar com a manutenção da casa ou com a solidão, que não passa mais pelo portão”, afirma.

Para Caio Calfat, os maiores benefícios e diferenciais são que os empreendimentos são criados, desenvolvidos e planejados, especificamente para os idosos, em termos de produto e serviço. “Em termos de produto, tudo dentro do apartamento voltado para o idoso é pensado de forma cuidadosa e detalhada para o conforto desse morador. Os móveis precisam ser robustos e práticos para que não exijam muito sacrifício do idoso. Assim como a largura das portas nos quartos e banheiros, com um espaço para uma cadeira de rodas, se for o caso. E em termos de serviços, o empreendimento é uma mistura de um condomínio residencial com hotel e com hospital. Trata-se de um condomínio residencial que possui serviços hoteleiros e hospitalares, para assistir a esses idosos”, ressalta.

Há também benefícios funcionais importantes, como moradias adaptadas, serviços integrados – como alimentação, limpeza, lazer, saúde preventiva e um ambiente pensado para estimular o envelhecimento ativo, saudável e independente. “Em outras palavras, o Senior Living entrega aquilo que todos nós desejamos ao envelhecer: autonomia, vínculos, diversão e propósito no cotidiano”, lembra o CEO da SeniorLab.

Rodrigo Pique destaca que um dos benefícios desses empreendimentos são que eles possuem ambientes acolhedores, humanos e funcionais, que estimulam o encontro, a convivência e o bem-estar. “Vale citar também a questão da implantação especializada, que traz um mobiliário adequado, ergonomia, marcenaria inteligente e detalhes que fazem a diferença na rotina dos moradores e da operação. Oura vantagem, é que esse modelo oferece experiência completa desde o primeiro dia, o empreendimento já nasce pronto para funcionar”, diz.

Na visão de Eliz Taddei, o Senior Living proporciona autonomia com suporte, criando um ambiente onde o idoso vive bem, com independência, mas com segurança e serviços próximos. Além de melhorar a qualidade de vida das famílias, que encontram uma solução profissionalizada, estruturada e emocionalmente mais leve. “Também eleva o padrão do setor de cuidados, trazendo profissionalismo, acolhimento e uma relação mais humanizada. Para as cidades, cria uma infraestrutura social que responde ao envelhecimento real da população”, afirma.

Luciana Vieira, da Vitacon, nos conta que os benefícios são diversos, mas principalmente a qualidade de vida. “Temos que fazer com que essa geração viva com integridade, bem-estar e saúde, implantados em um só local, gerando facilidade para as pessoas”, afirma.

Já para os investidores e incorporadores, os principais benefícios são a demanda estrutural gerada pelo envelhecimento populacional; ser um produto que combina receita imobiliária (venda ou locação) + receita recorrente por serviços (modelo “asset + service”); a diferenciação de portfólio imobiliário em relação a produto mainstream (residencial tradicional); e a possibilidade de criar operators escaláveis e vender para fundos, REITs ou compradores estratégicos. “Para investidores, é uma classe de ativo resiliente, com demanda crescente e pouca concorrência qualificada”, diz Taddei. “A população idosa é a que mais cresce no Brasil. E isso significa demanda garantida crescente para as incorporadoras e construtoras. Além de inovação, diversificação dos produtos do portifólio, possibilidade de parcerias estratégicas e alinhamento com tendências globais de moradia”, complementa Vieira.

Senior Living: um novo conceito de moradia para a longevidade Eliz Taddei: “O Senior Living no Brasil entra em uma fase de expansão inevitável e amadurecimento acelerado” (Foto - Divulgação)

Dificuldades, desafios e riscos

Todo projeto ou conceito tem riscos e desafios a serem superados. No caso do Senior living, há as questões culturais e de demanda, já que as preferências ainda mudam por região e muitos idosos preferem morar perto da família. Outro ponto é a conversão de percepção, para o empreendimento não ser confundido com uma casa de repouso, por exemplo. A questão operacional também é um entrave, pois oferecer serviços de saúde exige expertise (contratação de profissionais, compliance sanitário, regulação regional).

A ausência de um marco regulatório uniforme para os diferentes níveis de cuidado e desafios de financiamento e a cobertura de saúde pública limitada para moradia são outros desafios, além do risco de execução, pois o custo de operação e necessidade de escala para serviços recorrentes são altos.

A respeito das principais dificuldades encontradas pelo público 60+, Martin Henkel comenta que são uma série de fatores, mas em pesos diferentes dependendo da geração e da renda, já que o Brasil é muito vasto, desigual nos aspectos econômicos e de grau de instrução. “As questões financeiras ainda são uma barreira relevante, porque esse tipo de empreendimento, por enquanto, está mais acessível às classes AA, A e B. Mas a barreira emocional e cultural talvez seja ainda mais desafiadora. O brasileiro envelhece, mas ainda não se enxerga envelhecendo. Há uma culpa embutida na ideia de ‘sair de casa’, como se mudar para um residencial sênior fosse abandonar algo, quando na verdade é uma escolha por uma nova etapa de vida”, diz.

O maior desafio, na opinião de Caio Calfat, é a questão da comunicação. “O brasileiro ainda classifica esse modelo de empreendimento como asilo, mas é muito diferente. É exatamente essa a preocupação que nós temos, de saber transmitir os valores que esse local proporciona a quem for morar lá. Não é um lugar para se esperar a morte, pelo contrário, é para se viver, para se curtir a vida, para ter um último momento grande de vida que pode durar muitos anos também, e que seja com muita alegria e felicidade”, pontua.

Também há um trabalho de letramento a ser feito com as famílias. “Filhos e netos precisam entender que o Senior Living é sobre independência, não dependência. Quando esse entendimento acontece, a mudança é transformadora. Vi pessoas rejuvenescendo, física e emocionalmente, em poucos meses de convivência nesse novo ambiente”, lembra Henkel.

De acordo com Calfat, uma cidade como Porto Alegre, por exemplo, já tem empreendimentos com esse perfil, “mas em uma capital como Campo Grande (MS), você vai encontrar algumas casas de repouso e asilos, e nenhum Senior Living”, conta.

Na análise de Rodrigo Pique, o Senior Living é um conceito novo para muitas pessoas. “Outro fator é a falta de mão de obra especializada para operação, assim como o custo de implantação qualificada, que exige fornecedores preparados, fora as barreiras culturais, pois ainda estamos aprendendo a falar sobre longevidade ativa no Brasil”, ressalta. A falta de regulação específica, que traz insegurança jurídica para investidores e operadores, a falta de currículos profissionais focados em longevidade, e a escassez de operadores experientes e de projetos arquitetônicos realmente adaptados, são ainda alguns obstáculos dos empreendimentos de Senior Living em terras brasileiras, na opinião da CEO da Trevoo. “Também há dificuldade de acesso a capital, já que o setor ainda é visto como ‘novo’ pelos fundos tradicionais”, pontua Taddei. “Os maiores desafios envolvem a combinação do projeto arquitetônico, gestão e cuidados de saúde. É um projeto completo e pensado em cada detalhe”, diz Luciana Vieira.

Custo

Em relação aos custos e valores que um empreendimento Senior Living apresenta no Brasil, eles variam conforme o padrão, os serviços incluídos e o nível de atenção assistencial que o residente necessita, considerando seu grau de independência. “Podemos dizer que hoje o ticket médio mensal inicial de um aluguel está acima de R$ 12 mil nas categorias premium, algo comparável a um bom flat ou a um resort urbano, porque o modelo é exatamente esse: moradia com conveniência e serviços”, explica Martin Henkel. “Há algumas especificidades, mas o preço médio de aluguel nos empreendimentos que temos dado consultoria vai a partir de R$ 12 mil e R$ 13 mil por mês, incluindo as três refeições. Alguns com cinco refeições diárias”, diz Calfat. “O grande diferencial é que o valor não é apenas pelo espaço físico, mas inclui toda uma estrutura de bem-estar, com alimentação individualmente balanceada, lazer, manutenção, segurança, limpeza e, em alguns casos, acompanhamento de saúde leve. Ou seja, o morador não está pagando por um imóvel, mas por um estilo de vida”, completa Henkel.

Mas, diversos modelos de empreendimentos desenvolvidos, especialmente em São Paulo e Curitiba, são vendidos ao próprio morador e eles têm um ticket médio bem alto de venda, mais voltado para as classes A e A+. “Os empreendimentos oferecidos para aluguel também são voltados para a classe A, mas o custo não é tão alto quanto esses que estão sendo desenvolvidos para venda ao público sênior aqui em São Paulo e o que foi desenvolvido em Curitiba pela Construtora Laguna, por exemplo”, afirma Caio Calfat.

Senior Living: um novo conceito de moradia para a longevidade Caio Calfat: “O brasileiro ainda classifica esse modelo de empreendimento como asilo, mas é muito diferente. É exatamente essa a preocupação que nós temos, de saber transmitir os valores que esse local proporciona a quem for morar lá” (Foto - Divulgação)

Tendências

Algumas tendências para esse tipo de segmento são os lançamentos de condomínios 60+ com amenidades - clubhouse, áreas de atividade física, telemedicina; a integração com serviços de saúde (home care, hospitais de transição); o interesse de fundos em cadeias/operadores que conseguem escalar operação e padronizar serviços; e a crescente oferta de produto em cidades maiores como São Paulo, Rio de Janeiro, outras capitais e alguns municípios do interior com perfil sênior. “Nos próximos anos, com a entrada de novos players e formatos mais flexíveis, veremos também modelos middle market, com tickets mais acessíveis e planos modulares de serviços”, conta Martin Henkel.

Senior Living: um novo conceito de moradia para a longevidade Flavia Ranieri: “A geroarquitetura transforma Senior Livings em plataformas reais de longevidade” (Foto - Divulgação)

Arquitetura e design

Outro fator fundamental no conceito Senior Living é a questão da harmonia entre arquitetura e design, com os serviços e funcionalidades dos espaços. Um empreendimento nesse segmento precisa responder às demandas reais do envelhecimento, que consiste em trabalhar com conforto ambiental, ergonomia e estímulos sensoriais como elementos centrais do projeto, sem nunca esquecer de criar espaços que acomodem a história de vida das pessoas. “Áreas para fortalecimento e desenvolvimento da saúde física, áreas de convivência, seja na parte comum ou privada, áreas para que se possam realizar atividades diversas como cursos e palestras, são essenciais para oferecerem a possiblidade de uma vida plena e equilibrada”, diz a Geroarquiteta Flavia Ranieri, especialista em arquitetura de interiores de projetos imobiliários para a longevidade.

Para ela, as soluções devem compensar perdas naturais de visão, audição e mobilidade, garantindo iluminação adequada, acústica equilibrada, climatização eficiente e materiais seguros. “Se a arquitetura está correta, mas o mobiliário é desconfortável ou dificulta tarefas da rotina, de nada adianta. As pessoas irão usar menos os espaços ou precisarão de ajuda de terceiros. Como sempre pensamos no estímulo à independência e à participação das pessoas nas atividades, o mobiliário precisa ser cuidadosamente escolhido. Peças ergonômicas com medidas corretas, material corretamente especificado, alturas e profundidades são alguns dos itens que checamos, além, é claro, de serem peças seguras que não tragam risco aos usuários”, conta.

De acordo com a especialista, a geroarquitetura devolve a liberdade para viver com independência, conforto, segurança e pertencimento para envelhecer com dignidade, propósito e participação.

Em seu escritório, Flavia desenvolveu uma metodologia exclusiva, baseada em cinco pilares:

  • BIO: ambientes que compensam perdas naturais de visão, audição, mobilidade e respiração, entre outras questões do envelhecimento.
  • PSICO: espaços que acolhem e fortalecem emocionalmente.
  • SOCIAL: áreas que incentivam convivência, vínculos e vida ativa.
  • SEGURANÇA: física e financeira, garantindo previsibilidade e confiança.
  • APRENDIZADO CONTINUADO: estímulo cognitivo, propósito e curiosidade.

Segundo Ranieri, os espaços passam a potencializar a vida, não apenas acomodá-la. “A geroarquitetura transforma Senior Livings em plataformas reais de longevidade. E, em um País que envelhece tão rapidamente quanto o Brasil, isso deixou de ser diferencial, tornou-se urgência”, destaca.

A respeito de conciliar acessibilidade e saúde com decoração e design, Flavia diz que quando o projeto nasce com propósito, acessibilidade não pesa nem compromete estética. Ela se transforma em elegância funcional. “Acessibilidade integrada desde o início com apoios, iluminação correta, tecnologia intuitiva e mobiliário funcional fazem parte do DNA do projeto. Nada é improvisado ou ‘colado depois’”, afirma.

O escritório da Geroarquiteta desenvolveu uma estética que apoia o emocional. O design deve possuir uma atmosfera residencial, trazendo elementos de acolhimento. Dar liberdade nas áreas privativas para que os moradores possam ajustar conforme seus gostos, o que ajuda na sensação de pertencimento. “O conforto ambiental também é considerado como parte do design. Luz sem ofuscamento, acústica equilibrada, ventilação eficiente, temperatura estável e estímulos sensoriais que acolhem e orientam”, informa. ”E claro, uma especificação criteriosa. Encontrar materiais e peças que sejam de fácil manutenção para garantir a higiene, que sejam antialérgicos, que sejam agradáveis ao toque e que não possuam estética institucional são alguns dos nossos maiores desafios, mas também uma das coisas que mais gostamos de fazer. Temos um catálogo enorme de soluções”, finaliza.

Senior Living: um novo conceito de moradia para a longevidade Empreendimento São Pietro Sênior, em Porto Alegre (RS) (Foto - Divulgação)

Perspectivas futuras

Um ponto fundamental para se pensar em relação ao futuro do Senior Living no Brasil é fazer com que esses empreendimentos estejam disponíveis para pessoas com uma renda mais baixa. Para Henkel, isso é algo central para os próximos anos. “Não faz sentido falar de longevidade no Brasil se ela for um privilégio de poucos. Há hoje algumas iniciativas embrionárias de modelos mais compactos e cooperativos, com estruturas compartilhadas e serviços sob demanda”, diz. “O grande desafio é encontrar qual o modelo de financiamento, porque os empreendimentos, de aluguel ou para venda, todos são de alto padrão. O de alto padrão que mira a locação, ele é desenvolvido como um condo-hotel. É vendido a investidores que se reúnem em um pool de locação e compram um apartamento, mas não para uso, e sim para investimento. O modelo condo-hotel não é viável financeiramente para os empreendimentos de classe média e baixa, muito menos baixa. Então, precisamos encontrar um outro modelo”, alerta Caio Calfat.

Henkel acredita em um caminho híbrido: residenciais compactos de uso misto, próximos de equipamentos urbanos e com serviços modulares, onde o morador paga apenas pelo que usa. Outro caminho promissor é o da parceria com o setor público e cooperativas, especialmente em cidades médias, onde o custo do solo é menor e a comunidade é mais integrada. “O desafio é grande, mas inevitável, o Brasil precisa aprender a transformar o envelhecer em um projeto de vida acessível. E o Senior Living é uma das respostas mais potentes para isso”, conclui Martin Henkel.

As expectativas são positivas e acompanhadas por um plano de expansão sólido, na análise de Daniel Giaccheri. “Estamos avançando com novas unidades em Porto Alegre e Canela e trabalhamos na chegada à Santa Catarina, além de estudos para implantação em São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso. Nosso foco é crescer com consistência, replicando o modelo que se provou bem-sucedido e mantendo o padrão de cuidado e qualidade que define a São Pietro Sênior.”, afirma o Sócio-fundador do Grupo.

Rodrigo Pique está otimista e acredita que o Senior Living será um dos setores mais promissores dos próximos anos, pois existe demanda, mercado e, principalmente, um novo perfil de consumidor que sabe o que quer. “Vejo um futuro com empreendimentos mais completos, mais profissionais e mais acolhedores. Com operações integradas, tecnologia, serviços e ambientes que realmente promovam qualidade de vida. E acredito que o Brasil tem potencial para criar modelos próprios, adaptados à nossa cultura e ao nosso jeito de receber e acolher.”, finaliza o Sócio do Grupo RAP. “Tenho expectativas extremamente positivas e posso afirmar isso não apenas pela observação do mercado, mas pelos movimentos muito concretos que estamos vivenciando dentro da Trevoo”, relata Eliz Taddei.

Segundo a CEO da Trevoo, nos últimos anos, avançamos de uma fase de conscientização para um momento de estruturação real do setor. Um exemplo disso é que, hoje, a empresa presta consultoria estratégica para grandes grupos econômicos e fundos imobiliários, que passaram a enxergar o Senior Living como um ativo relevante, longevo e com enorme potencial de crescimento. “Esses players, que antes observavam à distância, agora estão investindo, estudando portfólio, analisando viabilidade e buscando modelos replicáveis, algo impensável em 2018, por exemplo”, afirma a CEO.

Outro marco que comprova a maturidade do segmento é a parceria da Trevoo com a Accor, inédita em escala global. Trata-se da primeira colaboração formal da rede para pensar e desenhar uma tese de Senior Living alinhada a padrões internacionais de hospitalidade, qualidade hoteleira e excelência operacional. Essa parceria só se tornou possível porque o mercado brasileiro atingiu um grau de entendimento e urgência que o coloca entre os mais promissores do mundo nesse tema. “Além disso, a conexão entre hotelaria e Senior Living vem se tornando cada vez mais clara. E não falo apenas de fornecedores, embora o ecossistema de compras seja muito semelhante, mas principalmente da entrega dos serviços com visão de hospitalidade. O Senior Living moderno exige experiência, acolhimento, curadoria de serviços, processos de atendimento, gestão de equipes e uma cultura de cuidado que dialoga profundamente com o DNA hoteleiro. O futuro do setor passa pela fusão entre moradia, cuidados, conveniência e hospitalidade”, conclui Eliz Taddei.